Neste dia 7 de agosto, via earMUSIC, a lendária banda Deep Purple lança seu 21º álbum de estúdio, novamente com o consagrado produtor Bob Ezrin. O sucessor de “InFinite” (2017) atende pelo nome de “Whoosh!” e traz 13 faixas. Inicialmente, seria lançado há dois meses, mas teve seu prazo prorrogado em virtude dos acontecimentos mundiais. Aliás, diga-se de passagem, há até uma certa ligação com a temática do álbum e o momento atual de incertezas em que vive o planeta. A capa do novo álbum traz um astronauta no espaço se desintegrando, mostrando de forma metafórica uma preocupação com o futuro da humanidade.

Qual o significado de “Whoosh!”? “Whoosh” é uma onomatopeia que, quando vista através de uma extremidade de um radiotelescópio, descreve a natureza transitória da humanidade na Terra; e, do outro lado, de uma perspectiva mais próxima, ilustra a carreira do Deep Purple.

Dois singles foram lançados. “Throw my Bones” foi o primeiro e o mais recentemente “Man Alive”, que traz uma declaração à Mãe Terra, lançando um olhar mais preocupado para o futuro, como retratado na arte da capa.

A ideia da banda em produzir este novo álbum era levar o Deep Purple de volta no tempo, para os primórdios, no sentido de dar mais profundidade às músicas, porém estendendo-se para todas as direções, sem limitações, deixando a criatividade fluir.

E, para mim, aí está o grande erro do trabalho. Digo erro porque fica-se uma sensação de desnorteio. Ao ouvir cada faixa, percebe-se que quase nada lembra o Deep Purple. A bela voz de Ian Gillan está presente? Sim, claro. Ele continua cantando muito bem. E ainda está acompanhado dos ótimos músicos de longa data. A produção está impecável, tudo muito bem gravado, onde cada instrumento é perfeitamente audível. Porém, não se ouvem os riffs grandiosos, apesar de os teclados terem um grande destaque, não se tem algo que chame a atenção. Não há uma música que se diga ser suficiente para entrar para a história do Rock e identifica-la prontamente. É tudo muito mexido, muitas vezes sem brilho. Fica uma impressão de que tudo foi feito por fazer, sem maiores pretensões. O que a banda promete entregar, fica na promessa. Uma pena, realmente. Não dá para dizer que é um álbum de Heavy Metal, não dá para dizer que é um álbum de Rock. “Whoosh!” pode ser qualquer coisa, menos um álbum do Deep Purple. A medida que se ouve a bolachinha, começamos a nos cansar e torcemos para que acabe logo.

Deep Purple: Steve Morse, Ian Gillan e Ian Paice (em pé)
Don Airey e Roger Glover (sentados)

Eu não vou analisar faixa a faixa. Essa tarefa é difícil de fazer, então dividi a audição em três blocos para facilitar a explanação. Na primeira parte temos as 4 primeiras músicas. O álbum abre com “Throw my Bones”, lançada como primeiro single. Pra mim, é a melhor música do disco e aí se percebe o que mencionei sobre a qualidade do trabalho, porque não é uma faixa grandiosa e sim, apenas mediana. Ela até nos remete às perseguições de desenho animado. Em seguida vem “Drop the Weapon”, uma faixa mais acelerada, com destaque para os teclados. “”We’re all the same in the Dark” segue o mesmo padrão, sendo seguida pela balada do álbum, a faixa “Nothing at all”. Fim do primeiro ato.

A partir da quinta música “No Need to Shout” pensa-se até que as coisas irão melhorar. O início dela lembra rapidamente a clássica “Perfect Strangers”, mas fica mesmo só na lembrança inicial. “Step by Step” é até uma boa música, com teclado fantasmagórico. Parece que foi tirada do seriado “A Família Adams”. Entenda-se isso como um elogio. “What the What” é uma faixa rápida, meio festeira, estilo Rock americano do final dos anos 60. Também uma boa música. “The Long way Round” segue a mesma linha, sendo um pouco mais rápida. Finalizamos essa segunda parte com “The Power of the Moon”, mais lenta e obscura.

Para fechar a análise, temos agora as faixas finais, que abrem com “Remission Possible”, um interlúdio instrumental com menos de dois minutos, que confesso não entendi o motivo de estar ali. “Man Alive”, vem em seguida. Ela é o segundo single, uma boa música somente, com uma mensagem lírica para nos fazer pensar. “And the Adress”, a penúltima faixa é instrumental, na verdade uma regravação da faixa de abertura do álbum de estreia do Deep Purple “Shades of Deep Purple” (1968), uma composição de Blackmore e Lord. Um vislumbre do antigo Deep Purple? Sim, mas sem acrescentar nada de interessante para o trabalho atual. Fechando o álbum vem “Dancing in my Sleep”, que como o nome já diz, é uma faixa dançante.

Se você conseguiu chegar até aqui, parabéns, essa foi a sua audição de “Whoosh!”, o novo álbum do Deep Purple. A banda vem dando declarações de que não irá parar. Isso é bom, porque são 5 grandes músicos em atividade à frente de uma das mais icônicas e lendárias bandas da história do Rock. Mas, sinceramente, espero que se eles resolverem lançar mais álbuns, que possam se lembrar de como era o Deep Purple. É nítida a falta do Ritchie Blackmore, que sempre vinha com aqueles riffs matadores e inesquecíveis. É nítida a falta do saudoso Jon Lord, com seus teclados transcendentais. Isso quer dizer que Steve Morse e Don Airey não fizeram bem o seu trabalho? Não necessariamente, mas com a bagagem que eles tem, junto com os demais, os fãs mereciam um trabalho melhor, mais coeso e verdadeiro.

Deep Purple – Whoosh!
Data de Lançamento: 07/08/2020
Gravadora: earMUSIC


Tracklist:
1. Throw My Bones
2. Drop the Weapon
3. We’re All the Same in the Dark
4. Nothing at All
5. No Need to Shout
6. Step by Step
7. What the What
8. The Long Way Round
9. The Power of the Moon
10. Remission Possible
11. Man Alive
12. And the Address
13. Dancing in My Sleep

Formação:
Ian Gillan (vocais)
Steve Morse (guitarra)
Roger Glover (baixo)
Don Airey (teclados)
Ian Paice (bateria)