Os primeiros versos de “Hells Bells”, a faixa que abre “Back in Black”, fazem menção à proximidade de uma tempestade. A inspiração veio de uma conversa entre o produtor Robert John “Mutt” Lange e o recém integrado vocalista Brian Johnson, enquanto este se queixava de bloqueio criativo. Uma tempestade real se aproximava das Bahamas, onde o disco foi gravado. Brian fez alguns comentários sobre a mesma e Mutt sugeriu: “Comece por aí”, insinuando o surgimento de um gancho para as letras.
Na realidade – e em sentido metafórico – a tempestade para o AC/DC havia ocorrido alguns meses antes, quando o vocalista Bon Scott foi encontrado morto em fevereiro de 1980.
Um fato extremamente traumático e que, na visão de hoje, pode parecer que a banda correu mais do que o necessário para retomar suas atividades. Na verdade, a indústria fonográfica se movia de forma mais rápido naquele período. Algumas bandas chegavam a lançar mais de um álbum por ano e isso foi mudando conforme as turnês foram ficando maiores. O AC/DC estava na curva ascendente após o sucesso de “Highway to Hell”, fruto da primeira parceria com Mutt Lange e o timing não permitiria uma pausa excessivamente prolongada. Nessa decisão, porém, o que pesou mais foi a sensação de desnorteamento, a necessidade de voltar a compor para clarear a cabeça e, tendo em mente, a certeza de que Bon não aprovaria a ideia da banda se desfazer.
Consta que, durante o teste de Brian Johnson, a música “Nutbush City Limits”, de Ike & Tina Turner, foi tocada e teria sido o único momento durante os testes em que Angus Young realmente se empolgou. É difícil imaginar a possibilidade da continuidade de um AC/DC com outro vocalista que não fosse o sujeito de boina. Sua voz e sua postura são bem diferentes de Bon, mas couberam perfeitamente para a banda. Restava partir agora para o novo álbum.
Não faltam especulações de que as composições foram trabalhadas em cima de material deixado por Bon e existem biógrafos que defendem fortemente essa suposição, quanto existem também aqueles que a negam de forma veemente. O AC/DC é uma banda muito reservada e, portanto, as chances de que surja alguma revelação bombástica nesse sentido são praticamente nulas. Em todo caso, o que importa é o produto finalizado, e o megaplatinado “Back In Black” quebrou e permanece quebrando vários recordes como um dos maiores discos da história do Rock.
As homenagens a Bon estavam presentes na capa, originalmente toda preta. O disco foi dedicado à sua memória e, tanto a faixa título, quanto os sinos no começo de “Hells Bells”, são recordatórios de sua ausência. Quatro singles foram extraídos de suas dez faixas. Além das já citadas, “Back in Black” e “Hells Bells”, a hipercarismática “You Shook Me All Night Long” e o hino fim-de-noite de “Rock’n’Roll Ain’t Noise Pollution”. As seis restantes não se afastam do poderio de hit dessas, e o tempo cuidou de comprovar isso, mas é impossível deixar de fazer uma menção especial à languidez de “Let Me Put My Love Into You”, com seu lindo riff de três notas.
“Back in Black” foi uma volta que partiu do ponto onde as coisas tinham parado, mas a banda que prosseguiu, daquele momento em diante, tornou-se algo gigantesco e dominou o mundo. Bon, com certeza, ficou orgulhoso.
Back In Black – AC/DC
Data de Lançamento: 25/07/1980
Gravadora: Atlantic
Tracklist:
01 Hells Bells
02 Shoot to Thrill
03 What Do You Do for Money Honey
04 Givin’ the Dog a Bone
05 Let Me Put My Love into You
06 Back in Black
07 You Shook Me All Night Long
08 Have a Drink on Me
09 Shake a Leg
10 Rock and Roll Ain’t Noise Pollution
Formação:
Brian Johnson – Vocal
Angus Young – Guitarra
Malcolm Young – Guitarra
Cliff Williams – Baixo
Phil Rudd – Bateria