GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por 4 redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreira de mulheres no metal brasileiro e internacional.
E hoje vamos falar sobre a vocalista da banda Revengin, Bruna Rocha, que com seus vocais líricos contribui para o destaque da banda carioca no metal nacional.
Com o rock em sua vida desde a infância, Bruna se apaixonou pelo symphonic metal e desde então buscou fortes referências no estilo, com destque para Tarja Turunen, Vibeke Stene, ex-Tristania e Dawn Desiree, do Rain Fell Within.
A banda lançou o seu álbum de estreia, Cymatics em 2014 e teve repercussão em diversos países, incluindo uma turnê na Europa.
Em entrevista à Roadie Metal, Bruna falou sobre sua carreira, cena feminina no metal, planos futuros da banda e muito mais. Confira!
1 – Gostaria de saber mais de sua trajetória. Conte como você começou na música? E como despertou a paixão pelo rock e heavy metal?
Desde pequena já gostava de música e fui incentivada pela minha vó por parte de mãe que cantava muito bem e tocava piano também… então foi natural essa minha paixão por música. Quanto minha paixão pelo metal, bem, acredito que tenha influência de meu pai que me falava sobre bandas como Black Sabbath, AC/DC, Emerson, Lake and Palmer, Led Zeppelin e meu tio, que já havia me apresentado bandas como o Queen, por exemplo. Ou seja, já cresci com boas influências musicais, rs.
2 – Quais suas influências? Alguma figura, masculina ou feminina, em especial que fez você pensar “É isso que eu quero, ser cantora”?
Eu sempre gostei de cantar desde pequena. Fiz parte de Corais, Cantei em igreja, mas acredito que o divisor de águas que me fez querer fazer isso para o resto de minha foi uma música do Nightwish chamada Devil and the Deep Dark Ocean,… Pq até então, eu cantava, curtia as bandas e tal, porém quando eu escutei essa música pela primeira vez, parece que meu cérebro virou uma chave. Pensei, é isso! Alí eu já sabia o que eu queria e ‘como’ queria. A partir dalí, comecei a pesquisar melhor sobre o estilo, conheci outras bandas, e comecei a estudar canto clássico…Daí, minha ‘tríade’ de inspiração passou a ser, a Tarja (como não poderia?!), a Vibeke Stene que era do Tristânia e a Dawn do Rain Fell Within.
3 – Como é poder fazer symphonic metal no Brasil? No metal em geral há muitas barreiras e desafios, mas nesse estilo, especificamente, o que você destaca?
Eu acredito que a maior “barreira”, a primordial seja a mesma que o metal em sí já enfrenta, por não ser o “estilo” cultural de nosso país, e por isso ele não é incentivado e acredito que nem saberiam como “apreciar” e nem por onde começar, sabe? E quanto ao metal sinfônico, temos um público bem fiel ainda, porém, na minha época (rs) coisa de uns 15… 20 anos atrás, aquela galera, a minha galera andava vestido de preto, vivia como se aquilo fosse um estilo de vida mesmo, sol de 40º nós de preto, não tinha essa… hj acho que a galera está mais “tímida”… acredito que isso tenha acontecido também por conta das mudanças que vieram quanto a “cena”, as preferências e etc.
4 – No symphonic a presença feminina é muito forte, visto exemplos de bandas como Epica, Nightwish, ou a própria Tarja, entre muitos outros nomes. Mas mesmo assim, estar no heavy metal é uma grande representatividade para você? Como é poder ser uma voz representando uma ainda minoria no estilo?
Toda jornada começa com um primeiro passo. E esse passo foi dado, e hoje fico muito feliz com a quantidade de banda que apareceram de uns tempos pra cá nesse estilo. Bandas fabulosas e todas com suas características e peculiaridades. E esse é o sentido da caminhada. É fazer essa corrente ir aumentando cada vez mais. E fazer parte disso é gratificante. Saber que talvez minha música ou mesmo a minha voz pode alcançar alguém, faz toda tribulação do caminho ter valido a pena e isso dá mais gás pra continuar indo pra frente. Olhando o alvo, não o problema.
5 – Qual sua visão sobre a atual cena de heavy metal em no Brasil? E no seu estado, Rio de Janeiro?
Essa é uma pergunta bem cabulosa, rs… porque cena se faz com várias bandas, várias bandas tocando, vários eventos, a roda girando e coisas novas aparecendo e se renovando, sabe? A 20 anos atrás, eram vários lugares, com várias bandas autorais e a galera indo… 10 anos pra cá a coisa começou a ficar estranha, lugares foram fechando e só tinha lugar pra banda cover, era um sacrifício conseguir algum lugar pra tocar como autoral. Cansamos de ter que inventar “cover” pra poder tocar… hoje não vejo mais nada. E falo especialmente do Rio de Janeiro. Sabemos que tem público e tem produtor… O que houve? Não sei. Penso se a busca pela “facilidade” não acabou prejudicando o todo. Não citarei exemplos com nomes, mas não seria muito mais fácil incentivar banda cover de banda com 3 acordes, mais “barato”, menos compromisso com equipamento ou com a qualidade em si???? Veja bem, uma banda com teclados, duas guitarras, daria muito mais trabalho do que uma banda com 3 integrantes, por exemplo. E o que falar da “troca” por lugar para “divulgar” seu trabalho? Isso cagou tudo na minha opinião. São vários fatores a serem discutidos e se eu for falar tudo o que penso vou escrever um livro aqui…rs , Mas veja bem, Não estou falando que seja ruim termos bandas covers, até porque acredito que tenha espaço pra todo mundo e são propostas diferentes, mas daí, só fazer disso o foco por motivos talvez torpes é um crime, na minha opinião. Nós temos a importância que damos.
6 – Como você vê em especial a participação feminina no metal brasileiro?
É fundamental. Vejo mulheres talentosíssimas, com conteúdo e com muita coisa pra dizer. E é maravilhoso saber que esse número tem aumentado e vem aumentando. Hoje eu vejo que a percepção de que mulher só faz coisa de menina, canta como menina, escuta música de menina e que metal não é pra meninas está ultrapassada. Até porque passamos a nos valorizar mais, não esperamos mais que outros o façam por nós. E é isso. Metal não tem gênero, não tem raça, não tem cor, não tem credo, possui diferentes formas e diferentes motivos… somos todos, é tudo. Não é o que divide, mas o que une. É o que precisa ser dito quando precisa ser dito sem verdades absolutas, mas com toda verdade do mundo. E é essa a beleza da coisa.
6 – Apesar de eu já ter citado sobre a força feminina no symphonic, queria saber, você já enfrentou algum preconceito por ser mulher estar no metal? Como é enfrentar isso? O que motiva você a continuar?
Assim, sempre tem um retardado que ainda vive no “tempo do ronca” e fala graça e pior, ainda tem algumas mulheres que caem nisso e acabam adotando um comportamento “x” para poder se enquadrar, ou até mesmo se sentir diferente e chamar uma atenção. Eu sempre “caguei” pra isso literalmente. Até porque, quando eu componho alguma coisa, seja uma letra, uma melodia, não importa, eu primeiro o faço de forma que faça sentido pra mim, não pros outros. Eu acredito, que as pessoas que curtem o nosso trabalho, são consequências daquilo que já faz sentido pra nós e que já somos completamente apaixonados e entregues. Então assim, faço o que sinto. Se primeiro fizer sentido pra mim, é o que deve ser. Então, com isso, nunca me liguei quanto a “preconceito” por eu ser mulher e estar no metal. Nunca validei essa narrativa, até porque nunca me vi em tal situação “inferiorizada” porque nunca foi meu foco. Se alguma coisa estava difícil pra acontecer, eu procurava o meio de fazê-la acontecer e não procurava justificativas por ela ainda não ter acontecido. As vezes o que falta é a mudança na percepção de como nos vemos... o quanto nos aceitamos. Até porque é o que importa. A gente só valida algo, quando ela faz sentido pra nós, é como se o externo correspondesse ao que o interno sente e mostra. E nesse caso, pra mim é irrelevante... não é isso que valida me trabalho ou quem eu sou... O que motiva a continuar é essa coisa do ser verdadeira comigo, é o que eu amo, é o que eu sou. E se com isso, minha “verdade” fizer sentido pra você e fazer você enxergar a sua, a minha “missão” está cumprida.
7 – O que poderia ajudar o underground a ter mais destaque?
Pessoas indo a eventos e valorizando as bandas como prestadores de serviço, como profissionais. Se tem uma coisa que me deixa virada no samurai é ver o quanto nos desvalorizamos e assim desvalorizamos os outros músicos. Nós, quando não queremos dar suporte a uma banda legal, quando trocamos um espaço de merda muitas vezes por “oportunidade de mostrar o nosso trabalho”, estamos dizendo que nosso trabalho não vale nada mesmo. Quando um amigo, que diz que sua banda é foda, música foda, só vai a uma apresentação sua se estiver na lista vip (isso a entrada sendo R$15,00 / R$20,00), esse cara também ajuda a coisa a afundar ainda mais, porque acha que você toca por hobby. Acho que o que falta é tratarmos os músicos como profissionais. O cara gasta dinheiro (e muito dinheiro) com ensaio, gravações, artes, equipamento e etc… Pra vir um FDP e dizer que já está “dando a oportunidade de divulgar o trabalho da banda”… esse cara deveria ser preso!!! Porque é esse cara que mencionei lá na outra pergunta que quer a facilidade e é principalmente esse cara que faz com que as pessoas, não valorizem o trampo das bandas. Imagina, se o “produtor” do evento, muitas vezes, nem água dá pra banda… imagina o que o público passa a achar da banda???? O problema também é que confundimos a coisa do “underground”… uma coisa que ficou muito clara pra mim e tive a oportunidade de vivenciar isso nos shows que fizemos lá fora é que nosso conceito de ‘underground” é muito louco. Tocar no underground não significa tocarmos de qualquer forma, por qualquer coisa. Somos músicos. E nós, fomos tratados assim, em todos os shows que fizemos. Independente do tamanho. Nós não tivemos shows ruins, com equipamentos ruins porque eram shows do underground, entende? Não tivemos que comprar nossa água durante o evento e não “trocamos” por uma oportunidade, fomos tratados como prestadores de serviço, como sendo nosso trabalho. Recebemos por isso. E a casa, assim como os produtores, nos deram condições para que pudéssemos exercer nosso trabalho com máxima seriedade e melhor possível. É inadmissível, um cara dizer que é produtor, e não ter $$$$ pra bancar a pose e dar condição pra banda poder executar as músicas e ainda colocar a culpa na banda, como eu vi milhares de vezes acontecer. É tipo assim: “Eu sou produtor, sou pica, mas não tenho como dar um equipamento honesto pra banda tocar no meu evento e se a banda não quiser é porque a banda não é do underground, não é true”. Acordem, isso balela, é desculpa pra desviar a atenção dele que é um merda. E a gente cai nisso, lastimável.
8 -. O que você acha desse movimento de destaque das mulheres no metal?
Acho que era o caminho natural das coisas, uma vez que nós estamos evoluindo… as ideias e necessidades também. Como falei á cima, O metal é tudo e de todos. Não faz sentido ainda nos portamos como se fosse preciso fazer ênfase de que nós também sabemos “fazer” metal…
9 – E quais os seus planos a partir de agora? Já tem novidades ou projetos com a banda ou solo, após a pandemia acabar? Fique a vontade para contar as novidades hehe.
Então, estamos pra lançar o álbum novo em outubro ou novembro que já está em fase final de mixagem e masterização. Já estamos fechando também nossa primeira tour latino-americana que deve ocorrer em maio do ano que vem… Estou muito ansiosa pra mostrar o trabalho novo!!!
10- Qual conselho você dá para as meninas que estão na batalha ou sonham em seguir carreira no metal, seja cantando ou tocando?
Façam porque vocês acreditam por vocês, primeiramente. E é importante saber que já temos todos os “nãos”. Então, não tenham medo de arriscar, de cair e de levantar e fazer tudo de novo se for preciso. A diferença é que vocês estão indo atrás do sim. Não fiquem muito olhando pro que deu errado, não busquem justificativa pra isso ou terceirizem a “culpa”… foquem nas soluções, no que é preciso ser feito pra chegar onde se quer chegar. Olhe o objetivo, não o obstáculo que possa aparecer, porque vai aparecer mesmo. E, o que vai fazer a diferença é no que você acredita. E dane-se!
11 – Pode deixar um recado para os nossos leitores e também para todos os que te apoiaram e seguem os seus trabalhos, Bruna.
Gostaria muito de agradecer o convite e a oportunidade de estar mostrando não somente o trabalho da minha banda, mas a oportunidade de estar contando um pouco mais sobre mim. Queria muito agradecer as pessoas que nos seguem, o carinho que têm conosco. Cada dia que passa eu percebo que a nossa música está chegando nas pessoas e também está fazendo sentido pra elas… e isso não tem preço. Não se trata de números, mas da qualidade e fidelidade dos que já temos. Muito obrigada por tudo! E segue o rolê porque ainda tem muita coisa pra acontecer!