Eu nunca tinha ouvido Therapy? na vida e estava decidido a nunca mais fazer isso novamente até ouvir a faixa número 7 de Troublegum, Unbeliver. A partir deste momento a banda emendou uma ótima sequência de músicas que se estendeu até o final do álbum e que serviram como um tira-gosto para amenizar o fel das primeiras faixas.
O Therapy? cravou seu nome como uma das principais representantes do Rock alternativo dos anos 90 e o principal responsável pelo feito foi este Troublegum, segundo álbum da banda, lançado em 07 de fevereiro de 1994 pela A&M Records. A essa altura do campeonato, a banda já havia se desvencilhado da sonoridade mais Punk e noise dos primeiros trabalhos e investido em uma sonoridade alternativa com bastante peso e energia.
Mas não, essa sonoridade alternativa não me atrai, especialmente nessa linha que rege que refrões precisam ser alegres e grudentos e que as melodias e arranjos sejam apropriados para trilhas sonoras de filmes como American Pie. Não nego que algumas ideias de arranjos, de solos, a pegada do baterista Fyfe Ewing e a mixagem do baixo de Michael McKeegan foram os principais fatores que me fizeram prender minha atenção ao álbum, todavia o conjunto da obra estava a ponto de causar purulências em meus ouvidos, especialmente em Screamager, em Stop It You’re Killing Me (que título sugestivo para meu momento!) e nas pop-chatíssimas Nowhere, que me fez ficar na mesma posição que o modelo da capa do álbum, e Die Laughing, esta apesar da curta seção interessante que surgiu em sua metade. E sim, estou cometendo uma blasfêmia pois estas músicas são hinos do Rock Alternativo. Prefiro, portanto, ser um herege pecador.
As coisas começaram a ficar bastante diferentes, como eu anunciei no prólogo deste artigo, a partir de Unbeliver, dona de um riff bastante interessante e de uma pegada mais densa, reforçada pelo ritmo lento da bateria, da interpretação mais contida de Andy Cairns e pelo solo de guitarra, cortesia de Page Hamilton (Helmet, ex-David Bowie). Trigger Inside e seu trecho instrumental no meio mantiveram o pique da audição lá em cima. Lunacy Booth, com seu ritmo cadenciado, se encerra num fade-out que emenda em Isolation, cover do Joy Division que ficou bastante enérgico comparado a versão original atmosférica dos pioneiros do Post-Punk. E é até possível você imaginar Ian Curtis cantando essa música se você deixar de lado as lembranças de Cairns. Eu tomei um susto quando começou Turn; eu jurava que, por vontade própria, meu computador tivesse colocado para tocar Hallowed Land, do Paradise Lost (sendo que essa música só foi lançada um ano depois em Draconian Times), por conta da incrível semelhança nas duas primeiras notas do arranjo inicial. Na verdade, Turn se mostra como uma das melhores músicas de Troublegum. Femtex e seu ritmo frenético, Unrequited com seus arranjos inusitados e bem encaixados de violoncelo e Brainssaw, que carrega mais uma performance insana de Fyfe Ewing, encerram o álbum com grande dignidade e qualidade. No finalzinho da faixa de Brainsaw, surge uma versão bem singela para You Are My Sunshine, uma das músicas populares mais conhecidas dos Estados Unidos. Nas versões americana e japonesa de Troublegum, You Are My Sunshine surge após mais de 20 minutos de silêncio após o termino de Brainsaw como uma “hidden track”.
A produção, capitaneada por Chris Sheldon (Anthrax, Foo Fighters, Pixies, Garbage, etc.), foi extremamente capaz de realçar o peso das guitarras de Andy Cairns, o baixo fortíssimo de Michael McKeegan e os timbres da bateria de Fyfe Ewing, fazendo com que tudo soasse nítido, cristalino e sem soar embolado. Comercialmente, Troublegum foi o grande catapultador do sucesso do Therapy? naquele período da história. O álbum atingiu posições consideráveis nas paradas após o seu lançamento e fez que a banda fosse escalada para diversos festivais importantes naquele mesmo ano, como o Monsters Of Rock de Donington, o Reading Festival e o Phoenix Festival. Quase três décadas depois, Troublegum permanece como um dos maiores clássicos daquilo que convencionou-se chamar de Rock Alternativo e para sempre permanecerá neste patamar de relevância muito embora o nome do Therapy? tenha se tornado mais discreto nos últimos anos.
Sobre minha impressão inicial? Bem, talvez eu ouça Therapy? novamente no futuro, especialmente se eu estiver em busca de momentos mais densos como os que aparecem em Unbeliver ou Turn. Porém, se for para eu ter um acesso de raiva como eu tive ouvindo Nowhere, manter-me-ei longe e impassível. Agora, se você é fã de Alternativo e não conhece ainda este álbum, vai fundo! Aí tem empolgação e energia suficientes para infinitas audições.
Therapy? – Troublegum
Data de lançamento: 07 de fevereiro de 1994
Gravadora: A&M Records
Tracklist:
01. Knives
02. Screamager
03. Hellbelly
04. Stop It You’re Killing Me
05. Nowhere
06. Die Laughing
07. Unbeliver
08. Trigger Inside
09. Lunacy Booth
10. Isolation (Joy Division cover)
11. Turn
12. Femtex
13. Unrequited
14. Brainsaw (com a hidden track You Are My Sunshine)
Line-up:
Andy Cairns – vocais, guitarras
Michael McKeegan – contrabaixo, vocais
Fyfe Ewing – bateria, vocais
Participações:
Page Hamilton – guitarra em Unbeliver
Lesley Rankine – vocais em Lunacy Booth
Eileen Rose – vocais em Femtex
Martin McCarrick – violoncelo em Unrequited