Halifax, Inglaterra, 26 de março de 1988. Essa poderia ser uma data qualquer, se não marcasse o surgimento de uma das bandas mais influentes do Metal na atualidade. Nesses últimos 32 anos, os ingleses do Paradise Lost marcaram seu nome na história do estilo, sendo um dos pioneiros do Death/Doom e considerado por muitos o pai do Ghothic Metal. São mais de 3 décadas de uma carreira marcada não só pela criatividade e inquietude de estar buscando novas fronteiras musicais, mas por álbuns clássicos e inovadores. Da criação de um subgênero inteiro com Gothic, passando pela conquista do mainstream com o obrigatório Draconian Times, mergulhando no synthpop oitentista com Host, beirando a perfeição na mescla entre peso e melodia com Faith Divides Us – Death Unites Us, ou retornando as suas origens com The Plague Within e Medusa, os exemplos não faltam. Mais uma vez a banda resolveu surpreender seus fãs e surge com Obsidian, um trabalho que volta a mergulhar nas raízes góticas oitentistas da banda, mas sem abrir mão do peso exibido nos últimos trabalhos. Tivemos a oportunidade de conversar com o vocalista Nick Holmes a respeito não só do lançamento, mas também sobre a carreira da banda e claro, os efeitos sobre a música do momento de pandemia que vivemos nos dias atuais.

Antes de inicar, se faz necessário levantar alguns pontos a respeito da entrevista. Inicialmente ela deveria ter sido feita por e-mail com o guitarrista Greg Mackintosh, e as perguntas foram pensadas para ele por mim, Leandro Vianna. Já com tudo pronto, nos foi oferecido pela Nuclear Blast Brasil e pela Shinigami Records, a oportunidade de realizar a entrevista através do Skype, o que foi prontamente aceito. Nesse momento, repassei a entrevista para as mãos da nossa redatora, Maria Clara Goé. Foi só então que ela foi informada que a entrevista não seria mais com Greg, mas com Nick Holmes. O que muda no final? Provavelmente não muito, mas certamente algumas perguntas seriam diferentes. De resto, preciso fazer alguns agradecimentos e dar devidos créditos. Em primeiro lugar, agradecer a Nuclear Blast Brasil e a Shinigami Records pela oportunidade e confiança, e a redatora Maria Clara Goé, por ter aceitado a missão repassada a ela de realizar a entrevsita. Em segundo lugar, créditos precisam ser dados aqui, a tradutora Karen Batista, que me ajudou na tradução das perguntas do português para o inglês, e a professora/tradutora Michele Delbon, que trabalhou ao lado da Maria Clara na transcrição e tradução da entrevista. Posto tudo isso, vamos ao que interessa.

-Ouvindo as músicas “Darker Thoughts” e “Ending Days”, percebi que ao mesmo tempo que elas têm todas as antigas características da banda, elas são totalmente diferentes de tudo que vocês já tocaram. Como você faz pra manter a chama criativa acesa mesmo depois de 3 décadas de carreira?

Eu realmente não sei como, nós seguimos caminhos diferentes ao longo dos anos com esses 16 álbuns que lançamos, e essas duas músicas não são completamente diferente do som que fazíamos no final dos anos 90 antes do ano 2000.
Apenas em “Ending Days” que o elemento acústico é diferente do que fizemos antes.

– O último álbum de vocês, “Medusa”, era focado em death e doom metal, enquanto “Obsidian” têm mais influências góticas. Isso era algo que vocês já tinham em mente quando começaram a escrever o álbum?

Queríamos deixar esse álbum específicamente de death metal, igual fazíamos antigamente, repetir os acertos, mas sem fazer exatamente o mesmo álbum. Tentamos fazer um álbum diferente toda vez. E no geral, apenas tentamos variar o álbum, para mim, é mais interessante quando você os escreve, sabe?

– Pra mim, a música “Fall From Grace” é como se fosse uma ponte entre o antigo e o novo álbum. O que você acha disso? Qual foi a razão de escolher essa música como primeiro single do álbum?

Foi a primeira música que escrevemos, então ela se parece muito com o último álbum. Quando escrevemos um novo álbum, apenas olhamos para o último, pra ter um embasamento para começar a compor, então você começa a mudar e variar um pouco. Nós paramos de escolher singles, então sempre perguntamos às pessoas qual elas acham que deveria ser. Nós não escrevemos singles… escrevemos álbuns.

– Músicas como “Hope Dies Young” e “Ghosts” fizeram eu me sentir como se estivesse numa boate gótica dos anos 80. Me fale sobre elas..são algum tipo de influência da sua juventude?

Essa foi a ideia, realmente (risos). Esse tipo de música é muito parecido com o que ouvíamos quando éramos crianças nos anos 70, início dos anos 80. Éramos garotos do death metal, e os lugares que íamos eram todos góticos. Você realmente não ouve essas músicas góticas hoje em dia. Mas pra mim, é uma coisa muito britânica e nostálgica de se fazer.

– O álbum termina com a faixa “Ravenghast”, que é extremamente pesada e muito melódica. Qual era a intenção da banda em escolher essa faixa como a última?

Têm as faixas bônus depois dela. Mas quando montamos o álbum, pensamos em qual música poderia fechar ele muito bem. Eu digo isso porque na minha época, os discos tinham lado A e lado B, e isso nos confunde um pouco..

– Pra mim, “The Devil Embraced” é a mais complexa e de qualidade técnica superior de todo o álbum. Acha que seria um exagero dizer que ela é como uma biografia do Paradise Lost?

Ela teve uma composição complexa, demorou muito tempo pra terminar ela, meses, e fizemos ela entre as outras músicas, não é a maneira mais produtiva de escrever, pois não foi algo espontâneo, demorou muito tempo pra finalizar ela.

– Ainda falando sobre biografias, recentemente vocês lançaram o livro “No Celebration: The Official Story Of Paradise Lost”, a biografia da banda. Como surgiu essa ideia?

David E. Gehlke quis fazer uma biografia, já havíamos conversado antes sobre isso, mas não aconteceu, e dessa vez rolou. Ele nos entrevistou individualmente por umas 15 horas, e por volta de umas 60 pessoas. Ele pesquisou outras coisas da banda também. Muitas pessoas ficaram surpresas com o livro porque isso nunca havia acontecido antes, e nem sido anunciado.

– E vocês lançaram também vídeos de pessoas que fizeram e fazem parte da história do Paradise Lost, contando suas memórias sobre a banda. Esses vídeos eram pra ser uma espécie de material de acompanhamento para a biografia?

Na verdade não, elas são pessoas das quais confiamos e gostamos. Eles apenas nos entendem e nos conhecem, e gravaram os vídeos sem nem precisar de cortes e edições.

– O Paradise Lost está sempre buscando novos caminhos e influências para suas músicas. Tem alguma coisa que vocês ainda gostariam de explorar num trabalho futuro?

O mundo é um lugar grande, e a internet nos une e nos permite chegarmos a lugares que ainda não tocamos, podemos fazer nosso melhor, e têm muitos lugares que ainda podemos ir e tocar nossas músicas lá, contanto que tenhamos eletricidade pra acessar a internet, continuaremos tentando (risos).

– E você têm outros projetos e bandas, não é?! O quanto que eles impactam no seu trabalho com o Paradise Lost? Ou não têm nenhum?

Realmente não têm impacto. Talvez o primeiro álbum do Bloodbath tenha tido um pouco de impacto com relação ao vocal gutural, que é um estilo muito diferente, e me fez recuperar meu interesse pelo death metal para fazer tudo de novo. Isso me deixou entusiasmado novamente. Creio que seja a unica forma da qual impactou em Paradise Lost.

– Como você acha que ficará o mercado da música depois da pandemia?

As pessoas ainda vão continuar ouvindo músicas em casa, isso não será afetado. Mas tocar ao vivo é um problema agora e não faço ideia se voltará ao que era antes. Claro que vai voltar em algum momento. Ao mesmo tempo que as pessoas gostam do streaming, elas querem voltar a viver.

– E como vocês estão promovendo esse novo álbum, com todas as limitações impostas pela pandemia? Você acredita na possibilidade de haver algum show ainda esse ano?

Ainda não afetou muito na promoção do álbum. Apenas tocar ao vivo está sendo discutido agora entre nós agora, talvez em setembro, depende de quando pudermos sair do Reino Unido e voltar. Pois a paralisação está dificultando tudo. Creio que serão pequenos passos para tudo voltar ao normal.