Roadie Metal Cronologia: Napalm Death – From Enslavement To Obliteration (1988)

Se não levarmos em conta o período em que o Napalm Death era essencialmente uma banda Punk/Hardcore que habitava os porões do underground ao longo dos anos 80, podemos afirmar que o grupo sedimentou rapidamente a sua sonoridade característica a partir do debut Scum (1987). Não custa nada lembrar: o primeiro álbum do Napalm Death foi organizado de forma não-convencional. O lado A do vinil foi gravado em 1986 e o lado B, em 1987. A formação da banda mudou quase que completamente entre as duas gravações, retendo somente o baterista Mick Harris. As sonoridades dos dois lados de Scum também se distinguem. O lado A apresenta o incipiente Grindcore do grupo convivendo harmoniosamente com elementos de Hardore tradicional, enquanto o lado oposto mostra uma banda bem mais agressiva e extrema. Mas isso você leu ontem com maiores detalhes na análise de Scum, feita aqui no ROADIE METAL CRONOLOGIA pelo sempre infalível e preciso Anderson Frota.

A formação que registrou o lado B de Scum, a qual não existia mais nenhum integrante original, se manteve para 1988 a menos do baixista Jim Whitely. Shane Embury veio para substitui-lo, juntando-se assim a Lee Dorian (vocais), Bill Steer (guitarras) e ao já citado Mick Harris. Além de três-quartos da banda, permaneceu do lado B de Scum a sonoridade, aquela onde a brutalidade e a impiedade do Grindcore se mantinham inclementes com mãos-de-ferro. Entretanto, o Grindcore praticado pelo Napalm Death se tornou mais seguro e coeso por ocasião da composição e do registro de From Enslavement To Obliteration.

Ao longo de seus 35 minutos de duração, que foram divididos em 27 faixas (levando em conta as cinco últimas que foram lançadas juntas, mas em um EP separado), os únicos pontos fora da curva são as faixas que começam e encerram os trabalhos, Evolved As One e The Curse. A primeira, com seus colossais três minutos, oferece indícios do que Lee Dorian faria a partir do ano seguinte com o Cathedral, tendo em vista seu ritmo lento, as notas longas emitidas pelas cordas e os vocais desesperados e agonizantes. Afora isso, o que se escuta nas demais músicas é toda a performance avassaladora que estamos acostumados a testemunhar advinda do Napalm Death.

Desde a urgência de It’s A M.A.N.S. World até Make Way!, somos infernizados pela bateria apocalíptica de Mick Harris, que conduz com muita força os timbres podres da guitarrada de Bill Steer e o baixo fortemente engordurado de Shane Embury. Não há como se manter impassível ante composições como Lucid Fairytale (repare bem no baixo de Embury aqui), Think For A Minute, Emotional Suffocation e Obstinate Directions, para ficarmos somente em alguns exemplos. Em alguns momentos onde a bateria de Harris dá um tempo nos blastbeats (que, querendo ou não, sufocam as guitarras) e permite que o andamento se torne um pouco mais lento, podemos perceber a real dimensão da profundidade e do encardimento do timbre e da pegada de Bill Steer na sua guitarra com afinação derrubada, como em Unchallenged Hate, Display To Me, faixa-título e Social Sterility.

Deferentemente de Scum, obviamente respeitando as circunstâncias nas quais o debut foi lançado, From Enslavement To Obliteration é um álbum coeso e uniforme composto por músicas bem mais maduras e melhor trabalhadas. Até mesmo a qualidade de som foi melhorada graças aos recursos do Birdsong Studios, localizado em Worcester, onde o álbum foi gravado. É claro que a sujeira característica do estilo foi mantida, mas os instrumentos aparecem mais nítidos aos ouvidos e melhor equalizados. A unidade do line-up que gravou From Enslavement To Obliteration ajudou sobremaneira a banda no que se refere a homogeneidade das composições como um todo e isso é algo que surpreende tendo em vista que Lee Dorian e Bill Steer já estavam com suas cabeças fora da banda. O primeiro, insatisfeito com o direcionamento mais Death Metal que o Napalm Death estava tomando, resolveu sair para fundar o Cathedral e se estabelecer como lenda sorumbática Doom Metal. Já o segundo resolveu permanecer compondo músicas velozes, agressivas e podres, mas exclusivamente para o Carcass. A cozinha Embury/Harris permaneceu com a missão de mais uma vez colocar a banda para frente com novos integrantes. De qualquer forma, a semente plantada em Scum e germinada em From Enslavement To Obliteration geraria frutos em profusão para a banda de Birmingham, consolidando assim o Napalm Death como um dos principais representantes da música extrema não só no começo dos anos 90 como doravante.

Em algumas tiragens de From Enslavement To Obliteration, se fazia presente um selo com a seguinte frase, atribuída a Joe Elliott, vocalista do Def Leppard: “Nós queremos ser a maior banda de Rock do mundo e não conseguiremos isso se soarmos como o Napalm Death.” Não sei se era a intenção do Napalm Death ser a maior banda de Rock do planeta ou se o Def Leppard conseguiu alcançar esse posto. Enquanto uns queriam fazer sucesso comercial com Rocks acessíveis, outros só queriam botar o dedo na ferida da sociedade e denunciar suas mazelas com um som bruto e esmagador. Cada um com suas intenções.

E se me permitem, só gordura do baixo de Shane Embury faz o som do Def Leppard ter gosto de farofa insossa.

From Enslavement To Obliteration – Napalm Death
Data de lançamento: 16 de setembro de 1988
Gravadora: Earache Records

Tracklist:
01. Evolved As One
02. It’s a M.A.N.S. World!
03. Lucid Fairytale
04. Private Death
05. Impressions
06. Unchallenged Hate
07. Uncertainty Blurs The Vision
08. Cock-Rock Alienation
09. Retreat To Nowhere
10. Think For A Minute
11. Display To Me…
12. From Enslavement To Obliteration
13. Blind To The Truth
14. Social Sterility
15. Emotional Suffocation
16. Practice What You Preach
17. Inconceivable?
18. Worlds Apart
19. Obstinate Direction
20. Mentally Murdered
21. Sometimes
22. Make Way!

Faixas-bônus (“The Curse” EP)
23. Musclehead
24. Your Achievement
25. Dead
26. Morbid Deceiver
27. The Curse

Line-up:
Lee Dorian – vocais
Bill Steer – guitarras
Shane Embury – contrabaixo
Mick Harris – bateria, vocais de apoio

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