Resenha: Cirith Ungol – Forever Black (2020)

Existiu um tempo onde o Cirith Ungol foi tachado – de forma totalmente injusta – de “pior banda de Heavy Metal do mundo” por alguns setores da crítica especializada. Pasmem, isso ocorria por um motivo que hoje pode parecer bizarro, a sua originalidade. Surgido em 1972, na cidade de Ventura, na California, os americanos apresentaram em seu debut, Frost and Fire (81), uma sonoridade carregada de particularidades. Musicalmente, mesclavam elementos de bandas de Hard Rock dos anos 70, com NWOBHM e Black Sabbath. O resultado foi uma espécie de Proto-Doom, um Epic Heavy Metal com letras baseadas em fantasia, e estrutura musical oriunda da música clássica. Você leitor vai dizer que isso é algo extremamente comum atualmente, mas acredite, em 1981 não era. Fora isso, outros dois fatores tiveram peso: a escolha de timbres feita pela banda, que era bem peculiar e fugia do padrão usual na época, e o vocal bem distinto de Tim Baker, grave, agudo e anasalado, na linha “ame ou odeie”.

Foram 4 álbuns lançados, o já citado Frost and Fire, King of the Dead (84), One Foot in Hell (86) e Paradise Lost (91), mas quase nenhum sucesso comercial no período. Foi o preço pago por fazer o que queriam, e não o que era comercialmente aceito. Mesmo assim, podemos dizer que lançaram as bases não só do que viria a ser o Doom Metal, como também do Epic e do Power Metal tipicamente americanos, de bandas como Liege Lord, Brocas Helm, Omen, Tyrant e afins. Ironicamente, só após o seu término é que passaram a receber o devido reconhecimento, ganhando uma aura de cult e injustiçada. Quase 25 anos depois do término, em 2015, o baixista do Night Demon, Jarvis Leatherby, organizou um ensaio ao lado do baterista Robert Garven e do guitarrista Jim Barraza, e contando com a presença de Tim como espectador. Com vários convites para participação em festivais, a chama do Cirith Ungol reacendeu e resolveram retornar. O guitarrista Greg Lindstrom aceita participar da volta, mas o baixista Michael “Flint” Vujejia declinou, e seu posto passou a ser ocupado, merecidamente, por Jarvis. O quinteto então cai na estrada para uma série de shows, incluindo aí uma passagem no Brasil, onde encerraram o último dia da edição de 2019 do Setembro Negro.

A cobrança por parte dos fãs de um novo álbum de inéditas se tornou algo comum, e sem medo de arriscar o seu legado, o Cirith Ungol resolveu atender o anseio dos mesmos. Eis que agora temos em mãos Forever Black, o 5ª trabalho de estúdio dos americanos, após um longo hiato de 29 anos. A primeira coisa que chama a atenção é a atemporalidade de sua música, já que você nem se dá conta de que se passaram quase 3 décadas desde Paradise Lost. É como se estivéssemos novamente nos anos 80, a era de ouro do Heavy Metal, uma verdadeira viagem no tempo. O vocal de Tim continua único, e pode causar estranhamento em uma época onde os vocalistas são quase padronizados. Os fãs vão amar, os detratores continuarão a criticar, o mundo continuará girando e Cirith Ungol continuará sendo Cirith Ungol. As guitarras de Jim e Greg são absurdamente boas, pesadas, e entregam não só riffs esmagadores, como solos de muita qualidade, enquanto o baixo de Jarvis faz um ótimo trabalho. Já a bateria de Robert continua sendo o ponto de equilíbrio da banda, o centro da sonoridade do Cirith.

Como esperado, um clima épico perpassa todas as canções aqui presentes, que como de praxe, soam sombrias e diversificadas. Após uma breve introdução instrumental, temos a espetacular “Legions Arise”, veloz, enérgica, com riffs fortes, baixo galopante e tudo mais que um fã espera da banda. Na sequência, “The Frost Monstreme” tem boa cadência, um certo ar setentista, ótimo trabalho de bateria e a epicidade que todos adoramos. “The Fire Divine” é dura, com um ótimo refrão, bélica e vai te fazer se sentir em um campo de batalha, enquanto “Stormbringer” é aquela “balada” épica e pesada, com as guitarras se destacando e um dos solos mais bonitos de todo álbum. “Fractus Promissum”, tem uma queda para os anos 70, e traz em si a essência do que é o Heavy Metal; “Nightmare” é pesada, sombria e épica, e “Before Tomorrow” esbanja peso. Encerrando o trabalho, a cruel, opressiva e venenosa “Forever Black”.

Gravado no The Captain’s Quarters, com produção da banda e de Armand John Anthony (Night Demon), o resultado é bom, pois deixa tudo claro e audível, mas com aquela crueza que sempre foi característica das produções passadas. Na capa, mantendo a tradição, mais uma vez temos Elric de Melnibone, personagem criado por Michael Moorcock, e que não só adorna as capas dos álbuns, como se faz presente em diversas letras durante toda a carreira. Você pode argumentar que em Forever Black, o Cirith Ungol apenas se limitou a fazer aquele mesmo som do passado, mas sinceramente, quem aqui queria ouvir algo diferente disso? Os fãs queriam o bom e velho Cirith de volta, e é exatamente o que eles encontram aqui, e em sua melhor forma. Se a ideia era abrir um sorriso enorme no rosto de todos os seus fãs, devo dizer que obtiveram êxito nessa missão. Um dos melhores álbuns que você escutará em 2020.

Cirith Ungol – Forever Black
Data de lançamento: 24 de abril de 2020
Gravadora: Metal Blade/Hellion Records

Faixas:
01. The Call
02. Legions Arise
03. The Frost Monstreme
04. The Fire Divine
05. Stormbringer
06. Fractus Promissum
07. Nightmare
08. Before Tomorrow
09. Forever Black

Formação:
Tim Baker (vocal)
Greg Lindstrom (guitarra)
Jim Barraza (guitarra)
Jarvis Leatherby (baixo)
Robert Garven (bateria)

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