Inicio esse post dizendo que estou verdadeiramente empolgado em fazer esta resenha. Além de eu ser um grande entusiasta de deathcore, eu fui responsável por cobrir toda confusão envolvendo a demissão do vocalista CJ McCreery do Lorna Shore, então estou mais do que por dentro de todo o contexto envolvendo o álbum “Immortal“. Vamos a uma breve retomada da história do Lorna Shore
A banda foi fundada em 2010 por Tom Barber (vocais), Aaron Brown (guitarra), Jeff Moskovciak (guitarra), Gary Herrera (baixo) e Scott Cooper (bateria). Entre os anos de 2010 e 2018 (sobretudo 2017 e 2018), mesmo com o lançamento de 3 EP’s e dois álbuns, a banda sofreu diversas mudanças, incluindo a saída de todos os membros originais ( destaque a Tom Barber, vocalista que deixou a banda por ter sido convidado a se juntar ao Chelsea Grin). Após todas as mudanças ( que obviamente devem ter abalado um pouco a banda), a formação se estabilizou com CJ McCreery (ex-Signs of Swarm – vocais), Adam De Micco (guitarra e baixo), Connor Deffley (guitarra e baixo) e Austin Archey (bateria). Apesar de tudo, parecia que a banda iria, agora, se estabilizar em sua formação, mesmo tendo diversos motivos em sua história para simplesmente encerrar suas atividades. O ânimo com o novo álbum, “Immortal” era muito grande, justamente por ser o primeiro com McCreery nos vocais.
No entanto, no dia 23 de Dezembro de 2019, um anúncio súbito e sem explicação surge nas redes sociais da banda anunciando a saída de CJ McCreery (como você pode conferir aqui). Nada se sabia sobre o que havia ocorrido, mas em menos de 24h começou a surgir uma avalanche de prints e outros tipos de postagem em diversas redes sociais (Instagram, Facebook, Twitter, Reddit, etc) sobre relatos envolvendo crimes cometidos pelo ex-vocalista do Lorna Shore, incluindo pedofilia, abuso sexual, entre várias outras acusações extremamente pesadas ( confira detalhes aqui). Com isso, o público passou a aplaudir a atitude súbita da banda, porém ficou a incerteza sobre o novo álbum: seria lançado como estava? Seria, talvez, regravado por outro vocalista? Seria totalmente jogado fora?
A dúvida durou até 09 de Janeiro deste ano, quando a banda anunciou que, após várias conversas com as gravadoras e entre eles, foi decidido que “Immortal” seria lançado do jeito que estava, com os vocais de McCreery (mais detalhes aqui). Com isso a fanbase ficou um tanto dividida: ouvir e dar “crédito” a McCreery, mas apoiar o trabalho duro do resto da banda? Ou ignorar o álbum devido às acusações pesadas? Por sorte, parece que uma grande parte do público escolheu dar valor ao trabalho dos outros membros, entendendo a situação em que a banda se encontrava. Logo “Immortal” deve ser visto de duas formas (que se complementam): um álbum de superação de uma banda que perdeu muitos membros; e um álbum que mostra o potencial que a banda teria com o novo vocalista.

O álbum já se inicia com uma bela introdução da música “Immortal“, que mistura os instrumentos da banda com elementos sinfônicos e de canto gregoriano (inclusive ouvimos um pedaço do hit “Ameno” da banda ERA em meio à introdução). A partir do momento que o vocal entra, já sabemos o que está por vir: uma obra prima. A primeira música já é absurdamente bem feita e tem um refrão extremamente pegajoso, com uma melodia maravilhosa. O breakdown é simplesmente brutal, pega na alma. Immortal é uma música incrível pois, apesar de seus quase 7 minutos, não é nem um pouco cansativa.
Em seguida temos “Death Portrait“, que já se inicia com um blastbeat em velocidade extrema e os ótimos vocais de CJ McCreery. Mais uma vez, um refrão que chega a emocionar, de tão lindo. Segunda música e já me faltam palavras para descrever o sentimento.
Na sequência temos “This is Hell“, que não tem nenhuma grande novidade em comparação com as outras, mantendo a qualidade no topo com a mistura de elementos de deathcore com elementos sinfônicos, vocais fora do comum e uma qualidade técnica impressionante.
Na quarta faixa, “Hollow Sentence“, temos uma pequena diferença: a introdução com coro ocorre junto com pedaços do vocal, o que dá um contraste muito interessante devido a essa dinâmica vocal.
“Warpath of Disease“, tal como “This is Hell“, não traz nada de muito diferenciado para a mesa, apesar de um solo bem interessante no meio da música. Porém, tal como as outras, uma ótima faixa.
“Misery System” tem um começo mais “clássico” comparado com as outras. É a primeira introdução levada somente pelas guitarras, apesar de ser de maneira bem melódica. É uma boa faixa para mudar o padrão das músicas do álbum.
“Obsession” mantém o padrão da anterior, com uma introdução somente levada pelas guitarras e bateria, que fica no mesmo nível das sinfonias devido à enorme habilidade dos músicos.
“King Ov Deception“, um dos singles do álbum (junto com “Immortal” e “Death Portrait“) é uma faixa completamente voltada para o deathcore mais clássico, não tendo nenhum elemento sinfônico. Vale um destaque para o vocal de McCreery nesta faixa, com bastante uso de técnica cujo nome não lembro que faz o vocalista parecer um lagarto nos sons que faz (muito usada pelo vocalista do Cattle Decaptation). O solo dobrado no final da música é simplesmente incrível, apesar de relativamente simples.
“Darkest Spawn” é a primeira música que começa com calma. Iniciada simplesmente por um piano que depois é acompanhado pela guitarra, a música tem uma pegada bem mais lenta, apesar de extremamente brutal. É um grande destaque do álbum por ser diferente de tudo que tivemos até aqui. A melancolia na música é notável.
A última faixa, “Relentless Torment” é um ótimo fim para um álbum incrível. Muitas vezes citei que as músicas “não trouxeram nada diferente”, mas assim como nessa música, isso está longe de ser algo ruim. Comentarei mais a frente sobre o álbum como um todo, mas “Relentless Torment” simplesmente faz o que deveria fazer: termina o álbum na mesma qualidade que começou. O último minuto da música é simplesmente incrível, sendo iniciado por um combo piano + voz, depois com a volta dos instrumentos, mas num clima incrivelmente triste e pesado e um fade out que diz “por hoje é só pessoal”.
Eu não vou nem me enrolar para concluir essa resenha: “Immortal” é simplesmente o melhor álbum que já ouvi. É um álbum bem composto, bem executado, com ótimo instrumental, ótimos vocais, uma mistura perfeita com o arranjo sinfônico, bem produzido… Simplesmente não há como colocar defeitos nessa obra.
É de fato uma pena que CJ McCreery tenha se envolvido nos escândalos que se envolveu, pois em questões técnicas é um vocalista impecável e inigualável. Seria incrível ver mais alguns álbuns do Lorna Shore com ele. Mas a banda fez uma ótima escolha em lançar o álbum da forma que estava mesmo depois de tudo isso, pois entregaram uma obra prima de fato.
Eu recomendaria “Immortal” para qualquer pessoa: desde os fãs do gênero, até fãs de metal sinfônico e pessoas que gostariam de conhecer um pouco mais do deathcore. Não é um álbum que eu pensaria “não sei se você vai gostar, mas eu gosto”. Tem o meu aval para entrar no Top 10 álbuns de deathcore da história.

Data de lançamento: 31 de Janeiro de 2020
Gravadora: Century Media Records
Tracklist:
01. Immortal
02. Death Portrait
03. This is Hell
04. Hollow Sentence
05. Warpath of Disease
06. Misery System
07. Obsession
08. King Ov Deception
09. Darkest Spawn
10. Relentless Torment
Formação:
– Adam de Micco (guitarra, baixo)
– Andrew O’ Connor (guitarra, baixo)
Austin Archey (bateria)
Na gravação:
– CJ McCreery (vocais)
Produção:
– Josh Schroeder
Arte:
– Caelan Stokkermans Arts