O Sacrilege é uma banda inglesa de NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) fundada no ano de 1982, na cidade de Gillingham. Esse termo ficou muito conhecido por ter sido ostentado pelos Monstros do Metal inglês Judas Priest e Iron Maiden, seqüencialmente. A proposta da banda segue os “ditames” cunhados nas Pedras dos Mandamentos do NWOBHM: guitarras melódicas carregadas de riffs, cozinha perfeitamente alinhada e vocais… bem ai é que está a verdadeira questão do porquê trago-lhes esta resenha…
Remando contra o que foi apregoado pelos seus antecessores (e mentores), Bill Beadle (vocal/guitarra) preferiu seguir uma linha mais “gótica” para proferir as sentenças líricas da banda, mantendo as notas mais baixas em evidência. Não que tenhamos aqui um Peter Steele cantando Aces High… longe disso. O que ocorre aqui é uma mistura dos dois contextos: Heavy Metal cantado com firmeza, com “agudos” utilizados raramente, e quase sempre, nos momentos mais especiais da música, quando criam aquele “ápice” da audição.
Sacrilege é um nome bem comum para bandas, sendo que, segundo minha (curta) pesquisa, concluí que existem pelo menos outras duas bandas homônimas de importância relativamente “destacável” no cenário: uma italiana que promove um doom metal e uma estadunidense que rasga um visceral thrash metal. O que mais surpreende (ou não…) é que em uma ilha de pouco mais de 130 mil quilômetros quadrados, tenha surgido não uma, mas DUAS bandas com o mesmo nome, e que com o passar do tempo, ambas tenham recebido notável reconhecimento. Isso não é sempre que se vê… Atualmente, mesmo estando inativa, a “Sacrilege UK-2” restou conhecida como Warwound, por conta de ter sido fundada dois anos após sua homônima, e portanto, ter cedido o direito do nome à mesma. Para uma banda de Speed Thrash Metal, até que Warwound soa mais legal que Sacrilege, mas esta é a MINHA OPINIÃO.
O Sacrilege (a banda de NWOBHM) possui cinco álbuns lançados, sendo que dois deles foram lançados seguidamente no ano de 2015. Seu último trabalho será o tema de nossa leitura neste momento, o incrível “The Court of The Insane”. Previamente, o redator deixou escapar sua opinião pessoal quanto ao trabalho, mas, isto foi inteiramente proposital, com o simples intuito de prender a atenção do nobre leitor até o final da resenha, pois, vale cada segundo investido.
The Court of The Insane foi lançado oficialmente em 02 de Agosto de 2019, pela Pure Undergound Records e trás 10 faixas categoricamente distribuídas em seus 55 minutos de play. A temática das letras é a´la Iron Maiden, a´la Judas Priest: histórias (sobre assuntos escabrosos) ilustrando acontecimentos visíveis cinematograficamente para os bangers de mente mais férteis.
DISSECANDO O DISCO: Os primeiros segundos do disco são carregados de mistério, algo como um órgão anuncia a chegada de algo… ou, é você que está chegando em algum lugar! Com isso em mente, “Celestial City” se apresenta: pesada, carregada, melodiosa. A faixa não apresenta refrão, e descreve o que seria a tal cidade celestial. Bastou uma breve leitura para acreditar que, eu e os caras do Sacrilege, temos uma definição bem diferente quanto ao termo “celestial”. Ao ouvir o baixo e os solos nesta música, a imagem do Iron Maiden tocando se faz impossível de ser afastada (NR: refiro-me à forte influência). “Lies” não abre espaço para se pensar muito após findar-se a faixa abertura. Nela temos a primeira demonstração de “vocal agudo” de Bill (mesmo que trata-se apenas de um gritinho no início da música, e só!). A música dispõe de um refrão bem legal, pegajoso e de fácil assimilação. As guitarras no solo mostram tudo o que são capazes: uma fúria de notas no melhor estilo “fritação com melodia”. Uma algazarra se inicia, anunciando a faixa título do disco: “The Court of The Insane” tornou-se audição obrigatória a este redator. A levada da música é empolgante, os riffs alternam em momentos precisos, o clima é criado com perfeição e maestria para a chegada do refrão, que é um dos pontos fortes da música. Particularmente, eu apreciei muito o timbre vocálico de Bill, ouso dizer que casou perfeitamente com a ambientação proposta pela banda, em controvérsia do que poderíamos ter se seu vocal fosse de outra forma estridente. O único ponto que identifiquei que “poderia” ter sido melhor elaborado se apresenta por volta dos 3:30, quando a guitarra solo anuncia o que seria um dos solos mais virtuosos do disco – fato este que não se concretiza… ao entrar o solo, a guitarra murcha, e joga um balde de água fria no ouvinte. Enfim… posteriormente, no último refrão, meio que para se redimir do mencionado agora, o solo vem, e explode como um vulcão em fúria. É de arrepiar. A letrada música é bem interessante, e condiz com a atmosfera que se cria acerca da “corte dos insanos”. Este é um ponto forte: a transposição do ouvinte para dentro daquela realidade criada pela canção. Os ânimos descem um pouco, quando a carruagem abre caminho pela estrada acidentada em meio à floresta. Algo maligno se aproxima, “Bring Out Your Dead” conta a estória do Ceifador, que vaga pelas cidades recolhendo as almas dos mortos. É uma música forte, com uma virada de ritmo muito bem elaborada. Mais uma vez, o solo não decepciona, carregando tudo o que vem pela frente até a chegada dos tradicionais coros de “ooooo”. “Depression” é uma faixa que apresenta uma proposta diferente, remetendo mais à linha Sabbath, com riffs mecânicos e obscuros, e uma letra curta que se arrasta pela extensão da música. Um órgão inesperado encerra a viagem com muita sabedoria. Mestre Iommi deve estar orgulhoso. Empolgados com essa transição de Iron para Sabbath, “No Bequeat” se inicia melancólica, se arrastando pela terra em sua direção… mas, logo o quadro muda, e o NWOBHM apresenta sua característica novamente. Mesmo sendo a faixa mais longa do disco em seus mais de sete minutos, de forma alguma ela se mostra maçante. Alias, este é um dos pontos mais louváveis a se destacar neste trabalho: as repentinas e sucessivas transições sempre acalentam o ouvinte, proporcionando um clima aconchegante e agradável. A sucessora “The Prophet” se inicia com um suave dedilhado acompanhado de um cântico lúgubre expressado por Bill. A música progride para aquela pegada tradicional do melhor do Heavy Metal. O refrão com acordes pausados consegue arrancar do ouvinte alguns socos no ar. O solo carrega a melodia fundamental da canção até externar um vórtex de notas altas e transmutar novamente o clima. Sintetizadores profundos apresentam “Unhinged Mind”, que trás uma letra reflexiva contrastando com uma instrumental cadenciada. O refrão é arrastado e lento, e em tom imperativo força uma busca interna por respostas. Retomando a velocidade e o peso, “I Can Hear the Silence” pode facilmente ser considerada uma das faixas mais marcantes do disco. A música trás uma composição concisa, que bebe intensamente da fonte do Heavy Metal Clássico. O trabalho de baterias de Neil Turnbull é empolgante, apesar de utilizar a receita tradicional do “simples é bom”. A letra carrega um apelo emocional a tudo de errado que vivemos em nosso mundo. O refrão cola na primeira audição, e ao vivo deve ser cantado alto e em uníssono com a platéia, principalmente no trecho logo após o solo, onde temos os versos recitados com a instrumental pausadamente intercalada. O encerramento fica por conta de “Ride Free”, a qual homenageia os amantes de duas rodas: uma possante custom presenteia os ouvidos dos Espíritos Livres do Asfalto com o seu ribombar de motor. Esta faixa se apresenta com uma levada bem Rock’n’Roll, com baixo e bateria bem marcados. À primeira vista (ouvida) têm-se a impressão até que a faixa trata-se de um bônus, por não se condensar às demais antecessoras. O disco se encerra de forma trágica, abrupta, sem firulas.
Sacrilege era uma banda que eu desconhecia e, após ouvir este trabalho, que é o último, instigou este banger a empreender uma pesquisa pelos materiais antigos da banda. Garanto que não há o que se descartar: Heavy Metal feito como deve ser. Claro, sempre há diferentes tipos de gosto, para tudo, e não será diferente aqui. Mesmo assim, pelo fato da banda pertencer um nicho que detém uma fatia muito significativa da massa metálica (talvez a maior fatia), que é o Heavy Metal clássico (de onde nasceu o termo NWOBHM), podemos valorizar o acréscimo que houve por parte destes caras em re-moldar um estilo sonoro que sempre liderou o mercado, para algo de personalidade própria e sem ferir a integridade do estandarte que ostenta.
TRACKLIST
01. Celestial City
02. Lies
03. The Court Of The Insane
04. Bring Out Your Dead
05. Depression
06. No Bequeath
07. The Prophet
08. Unhinged Mind
09. I Can Hear The Silence
10. Ride Free
LINE UP:
Bill Beadle (vocal/guitarra)
Tony Vanner (guitarra)
Jeff Roland (baixo)
Neil Turnbull (bateria)