Aqui no Resenhando você fica por dentro de resenhas feita de diversos álbuns que foram lançados no mundo do Rock. Para a sequência da série, analisar o álbum O Quinto Ato da banda Verbo Perfeito.
Verbo Perfeito é uma banda de Grunge/New Metal/Rock Alternativo da cidade de Ribeirão Preto – SP. Formada em 2004, a banda já possui 5 trabalhos lançados, sendo eles: O Caminho Sem Volta, de 2005; A Metade + 1, de 2006; A Terra dos Corações Partidos, de 2008; Verbo Perfeito de 2011 e O Quinto Ato, de 2018.
Depois de 4 álbuns, a banda se preparou muito para a produção de seu mais recente trabalho e podemos dizer que valeu a pena: O Quinto Ato (2018) é, simplesmente, uma obra-prima! Se você ainda não ouviu, pare de ler este texto agora e clique abaixo para conferir o álbum (mas volte assim que terminar de ouvir).
Letras densas, cheias de metáforas, várias referências bíblicas e de seres celestiais, além de demônios, são misturadas com angústias e problemas cotidianos. O Quinto Ato é a prova de que misturar elementos muitas vezes distintos pode resultar em um resultado fantástico. Aqui resultou.
O álbum foi gravado no Under Studio em Ribeirão Preto – SP sob a produção de Romulo Ramanzini Felicio. O trabalho contém 11 faixas e foi lançado em abril de 2018.
A formação da banda neste álbum conta com: Will Vasconcelos e Jonathan Down nos vocais (sendo Jonathan responsável pela voz berrada enquanto Will apresenta voz limpa), Allan Carlos na guitarra, Luis Gouveia no baixo e Paulão Batista na bateria.
O álbum todo é bem técnico, denso e pesado. Influências do Grunge e do New Metal são bem evidentes durante todo o trabalho. A densidade das composições traz à tona algumas reflexões bem intensas.
As músicas tratam de remorso, drogas, angústia, liberdade, saudade e amor, tudo isso usando metáforas de seres celestiais e demônios, simbolizando o bem e o mal que aparecem na vida de cada um.
Sem dúvidas, é um de meus álbuns favoritos na vida e conversa comigo todas as vezes que paro para escutá-lo. Sua sensibilidade nas letras, usando boas metáforas e de forma poética deixam o trabalho intenso e a sonoridade dos instrumentos agrega peso a tudo isso, deixando o trabalho simplesmente perfeito.
O álbum se inicia com uma faixa de calmaria apesar de instrumental. Esta faixa que prepara o ouvinte para escutar o álbum se chama Prólogo. O prólogo é, no antigo teatro grego, a primeira parte da tragédia, em forma de diálogo entre personagens ou monólogo, na qual se fazia a exposição do tema da tragédia. Por si só já fica evidente o que será destacado neste trabalho: tragédias e angústias do cotidiano.
Em seguida temos a faixa A Estrada. A segunda música do álbum é uma crítica à violência e à falta de esperança na vida das pessoas no cotidiano. Ao se referir que “Deus virou as costas pro mundo” é como se o homem tivesse virado as costas para as coisas boas, para os bons frutos e para tudo o que acontece no mundo atual. O homem se perdeu e perdeu todas as suas virtudes, tornando-se egoísta e arrogante.
A faixa alterna peso e melodia e vem em cima de um riff de guitarra bem marcante, além de toda uma instrumentação densa e pesada, com muita referência ao New Metal dos anos 90 e 2000.
A segunda faixa se chama Anjo Negro e é a melhor música do trabalho, tanto em conteúdo quanto na sonoridade. Ela alia perfeitamente peso e melodia, sem deixar de ser agressiva e técnica, a música traz uma grande reflexão em sua letra: é um grande “foda-se” para a sociedade e ao que ela impõe a cada indivíduo.
A sonoridade é intensa e a melodia é bem marcante, tendo um refrão fácil de ser reconhecido, além de ser pesado: a união perfeita do Rock Alternativo com o peso do Metal.
A música também relata a história de um amigo do vocalista Will Vasconcellos, relatado na música como um anjo negro devido à sua beleza e personalidade.
Em seguida temos a música Nosferatu que apresenta um tema bem denso e polêmico: quando o homem deixa os pensamentos maus e negativos dominá-lo. Uma vez que isto acontece, uma vez que damos voz aos pensamentos negativos e errôneos, tudo tende a se perder em nossa vida. Aqui fala também das consequências que tais escolhas podem gerar em nossa vida.
A pegada da faixa é pesada, porém ela não é rápida. Traz muita melodia e também é marcada por um riff de inicial guitarra muito bem trabalhado. A melodia dela é intensa e chamativa, convidando o público a cantar junto.
Logo após vem a faixa Eu Quero em Dobro, uma música intensa e que fala de disposição, gana e luta para vencer “Se você vai lutar, lutarei o dobro”. A faixa é agitada e pesada, mostrando a energia e o grito vindo da letra em sua sonoridade.
A sonoridade da faixa tem referências ao Hardcore devido à sua forma acelerada. Seu fim volta para uma sonoridade mais melodiosa, porém sem perder o peso.
Já a faixa Balada Para o Amigo de Uma Asa Só é mais lenta. Ela é realmente uma balada, porém no lugar das costumeiras letras de amor de outras bandas, a Verbo Perfeito trata de um assunto mais delicado: a dificuldade de parar de usar drogas. A voz do eu lírico apresenta experiência no caso, sabe a dificuldade que é quando vê um amigo na mesma situação, mas, em vez de julgar, dá apoio e estende a mão apresentando uma canção suave e intensa.
A melodia da faixa traz calmaria para o ouvinte, casando com a sensação de consolo e apoio que a experiência traz na letra. É apenas um ser humano cheio de defeitos falando com outro.
Em seguida a banda apresenta Homem Bomba, uma faixa bem diferente do que a banda fazia até então, pelo menos em seu processo de composição: criada em 2014, a banda decidiu criar a faixa já em estúdio e a partir de um riff de guitarra e de uma batida de bateria criadas anteriormente.
A letra fala sobre os pensamentos finais de quem está no limite, próximo a cometer suicídio; para isso, usou-se o exemplo do “homem bomba”, que entrega sua vida pela guerra e por seu país, com o intuito de levar consigo mais pessoas e na esperança de um pós morte melhor do que sua vida terrena.
A introdução com uma bateria bem acelerada, já mostra o cartão de visitas da música que, apesar de um pouco cadenciada no início dos versos, apresenta muito peso em seu decorrer.
Pra Sempre o Erro representa o ressurgimento das composições da banda: em 2007 a banda quase encerrou suas atividades por motivo de trocas de integrantes, porém não deixar chegar ao fundo do poço e seguir em frente era o desafio e a banda seguiu adiante. A letra trata também sobre todos os discos lançados pela Verbo Perfeito antes de O Quinto Ato, fala sobre ainda ter muito o que dizer, fala sobre insistir e acreditar no próprio trabalho.
O início da faixa é um riff de guitarra mais tranquilo, logo seguido dos outros instrumentos e dos berros que chegam com tudo, levando a música para uma sonoridade mais agressiva.
Em Enquanto o Céu Explode, talvez a minha faixa preferida no trabalho, a música fala sobre os fins que enfrentamos ao longo de nossa vida: fim de um ciclo, fim de um relacionamento, fim de um trabalho e, quem sabe, até o fim do mundo. A letra ainda retrata sobre o fato de, mesmo entregando nosso máximo, em algumas situações ainda é insuficiente. O trecho principal que representa isso é o final da música “Estou tentando te dizer pra que não espere muito de mim”.
Esta faixa apresenta várias nuances, começa um pouco mais agitada, porém vai caminhando para algo mais lento, mesmo assim é denso em sua sonoridade. Ela é uma viagem emocional, um grito de despedida e lamentação!
Quase chegando ao fim do álbum temos a faixa Eu Fui Teu Sol: uma faixa que fala de amor, porém ela não vem nem com um final feliz e nem com esperança. Aqui na letra podemos ver a luta do eu lírico para fazer a outra pessoa feliz e, mesmo assim, fracassando por não ser o suficiente para ela.
Sua sonoridade é direta e tem boas referências do Heavy Metal clássico. A guitarra faz um ótimo solo, além de uma base bem marcante. A bateria é perfeita.
É aquela típica música de amor, mas sem final feliz esperado pelo eu lírico. Fala de quando se doa ao máximo a alguém, quando se entrega tudo de si, mas isso ainda não é o suficiente para esta pessoa ficar.
Segue a Luz já é uma faixa mais pessoal do compositor e líder da banda, Will Vasconcellos: ela é uma letra de despedida para um amigo que foi embora desta vida, uma homenagem.
Mas também podemos entender como uma letra motivacional, apesar do tom de melancolia na maior parte da música, porque, além de ela terminar com um astral mais positivo, a letra também fala para lutar e não desistir; se não for por nós mesmos, que seja pensando nas pessoas que amamos e que nos amam.
Essa é outra balada do disco, começando com um dedilhado bem tranquilo no violão e com um riff de guitarra bem tranquilo que o acompanha. A faixa vai se desenrolando nessa calmaria, depois apresenta um final mais agitado com bom encerramento instrumental, principalmente da guitarra.
O trabalho é simplesmente uma obra de arte, muito equilibrado, sem sobras e sem faltar nada. O trabalho dos vocais é bem feito, tendo melodia e peso, distribuídos de forma bem equilibrada por Will Vasconcellos e Down.
A guitarra de Allan Carlos é de se respeitar: riffs muitos melodiosos e bem trabalhados unidos a ótimos solos. Luis Gouveia é cirúrgico para trazer os graves para o trabalho, sendo um baixista preciso para o disco.
O baterista Paulão Batista é um dos melhores que já ouvi, colocando muita intensidade e peso nas músicas, sabendo ser bem agressivo quando precisa, mas sabendo levar de forma mais leve quando a música pede.
Sem dúvidas, a banda encerrou seu ciclo com “chave de ouro”, colocando o melhor de si nesse trabalho que só merece elogios.
Tracklist
01 – O Prólogo
02 – A Estrada
03 – Anjo Negro
04 – Nosferatu
05 – Eu Quero em Dobro
06 – Balada Para o Amigo de Uma Asa Só
07 – Homem Bomba
08 – Pra Sempre o Erro
09 – Enquanto o Céu Explode
10 – Eu Fui Teu Sol
11 – Segue a Luz
Formação:
Will Vasconcelos (vocais limpos)
Jonathan Down (vocais guturais)
Allan Carlos (guitarras)
Luis Gouveia (baixo)
Paulão Batista (bateria)
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