Resenha: Napalm Death – Scum (1987)

No território da música pesada, existem obras que não apenas conseguem sobreviver ao teste do tempo, como também se tornam registros extremamente influentes para as gerações subsequentes. Em 1º de julho de 1987, era lançado pela então iniciante gravadora Earache Records, aquele que é certamente um dos álbuns mais importantes e influentes da música extrema mundial: “Scum”, dos britânicos do Napalm Death, disco que é considerado como a obra seminal do estilo que ficaria conhecido mundialmente como Grindcore.

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Essa legítima hecatombe nuclear anti-musical tem um total de 28 músicas e é dividido em dois lados, sendo que o único integrante a participar de ambos foi o antigo baterista da banda, Mick Harris. Apresentando uma bela e engajadíssima capa, ilustrada por Jeffrey Walker, vocalista e baixista do Carcass, é uma legítima obra transgressora, que pulveriza tudo e todos com pedradas violentíssimas e curtíssimas, onde a grande maioria das músicas não ultrapassa dois minutos de duração e possuem letras inteligentes e poderosas que fazem críticas a temas como a pobreza e o fascismo.

Vale ressaltar que por se tratar do disco de estreia dos britânicos, é um álbum realmente sujo, tosco e mal produzido, porém, possui um valor histórico que supera qualquer ponto negativo que possa existir. Para se ter uma ideia, no ano de 2005, esse “debut” foi votado entre os 50 Melhores Álbuns Britânicos pela revista Kerrang! e em 2009 ficou na posição nº 5 da revista Terrorizer dos melhores discos de Grindcore da Europa. Mais do que merecido, afinal, estamos falando de um dos “plays” mais influentes da história da música extrema.

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Como já foi mencionado anteriormente, o álbum possui dois lados e duas formações. A faixa de abertura do lado A é “Multinational Corporations”, que nada mais é do que uma curta introdução para o caos que está por vir. Logo em seguida, os “riffs” de “Instinct of Survival” dão as caras. Uma “cozinha” cadenciada de baixo e bateria logo abre espaço para os “blast beats” furiosíssimos de Mick Harris e para os vocais escandalosos de Nicholas Bullen. Uma pedrada certeira que já alerta o ouvinte do que o aguarda nos próximos trinta minutos de duração da bolacha.

Em seguida é a vez da curtíssima “The Kill”, uma das muitas faixas do álbum que possui menos de um minuto de duração. A faixa metralha os ouvidos dos ouvintes impiedosamente com “riffs” e “blast beats” enlouquecidos. O baixo de Nicholas Bullen marca a abertura da faixa-título, “Scum”, um dos maiores clássicos da carreira do Napalm Death e do Grindcore como um todo. Uma introdução instrumental cadenciada logo dá espaço para ensandecidos urros e levadas brutais de bateria. Um tremendo clássico!

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“Caught… In a Dream” vem logo em seguida e novamente abre com um ótimo trabalho de bateria de Mick Harris e com os “riffs” em afinação baixíssima de Justin Broadrick. Em questão de segundos, temos mais uma sequência furiosa e infame de “blast beats”. Na sequência, é a vez de “Polluted Minds”, que já abre incinerando o ouvinte e é uma das poucas faixas do disco a apresentar um breve solo “wah-wah”.

A sétima faixa é “Sacrificed”, mais uma porrada certeira e sujíssima, que conta com “paradinhas” fatais que em questão de segundos rasgam os alto-falantes. A cadenciada “Siege of Power” é a faixa seguinte e é também um dos grandes clássicos da carreira da banda. Ainda que seja mais lenta que as faixas anteriores, é uma música igualmente intensa e pesada, apresentando mais uma vez um trabalho selvagem de bateria em sua metade, urros enlouquecidos e “riffs” imundos, além de um breve e simples solo “wah-wah” próximo ao fim da música.

“Control” dá as caras logo em seguida e é uma faixa mais rápida, com um andamento mais Punk e não tão brutal como as primeiras faixas do disco, mas igualmente suja e pesada. A bateria de Mick Harris e a guitarra de Justin Broadrick abrem caminho para mais “blast beats” e palhetadas infernais em “Born On Your Knees”, uma faixa parcialmente cadenciada, mas com trechos realmente ensurdecedores. A ótima “Human Garbage” vem em seguida, abrindo de forma balanceada, posteriormente dando lugar a mais um “espancamento” de bateria e urros desequilibrados, passando para um andamento arrastado e perfeito para “banguear” ininterruptamente para encerrar com mais uma sequência feroz de “blast beats” e vocais dementes. Um momento adequadíssimo para um “mosh” brutal, diga-se de passagem!

Encerrando o lado A dessa verdadeira pedrada, é a vez da “canção” mais icônica da banda: “You Suffer”, que entrou para o Guiness Book Records como a menor canção já gravada, contando com míseros 1,316 segundos de duração e consistindo na fala “You suffer – but why?” (“Você sofre – mas por quê?”). Claramente podemos ouvir que é apenas um grito acompanhado por uma nota de guitarra, mas a ‘’canção’’ alcançou status de clássico do Napalm Death, sendo executada praticamente em todos os shows da banda.

Eis que temos o lado B, que já abre com a pancadaria de “Life?”, uma das faixas mais lembradas do disco e sempre executada nos shows. Um verdadeiro massacre de quarenta e três segundos de duração, que apresenta um desempenho animalesco da “cozinha” encabeçada pelo baixo de Jim Whitely e pela bateria de Mick Harris, “riffs” hediondos de Bill Steer (que se juntaria ao Carcass após gravar o segundo álbum do Napalm Death, “From Enslavement to Obliteration”, de 1988) e vocais ainda mais desumanos de Lee Dorrian. Essa formação destroça os nossos tímpanos com mais uma sequência de faixas curtíssimas e truculentas, sendo elas “Prison Without Walls” e “Negative Approach”.

A aniquilação prossegue com “Success?”, que é a primeira faixa do lado B a possuir pouco mais de um minuto de duração e a brevemente debulhadora “Deceiver”, obrigatória nos shows da banda. Mick Harris inicia “C.S.”, que possui um andamento que transita de partes um pouco mais cadenciadas e altamente influenciadas pela sonoridade Punk para momentos destrutivamente sujos. É importante mencionar que essa faixa possui uma continuação, lançada no ótimo “Enemy of the Music Business”, de 2000.

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“Parasites” é a faixa seguinte e mais uma pancada certeira, com pouco mais de vinte segundos. Ela estraçalha o ouvinte com mais uma performance monstruosa de bateria, urros violentíssimos e um rápido solo “wah-wah”. Sem nunca perder o fôlego ou deixando tempo para respirar, somos mais uma vez chacinados com a furiosamente curta “Pseudo Youth”, que se parece com uma continuação da igualmente esquizofrênica e pesada “Life?”, seguida de “Divine Death”, que fica mais agressiva e veloz com o passar dos segundos e encerra com o vocalista Lee Dorrian proferindo histericamente o nome da faixa. “As the Machine Rolls On” e “Common Enemy” são mais duas pequenas e mortais pauladas, que fuzilam mais uma vez os nossos ouvidos impiedosamente com “blast beats” impetuosos e “riffs” desumanos.

Sem perder tempo, é a vez de “Moral Crusade”, que abre com palhetadas infames e sujas e berros insanos de Lee Dorrian. Essa faixa possui uma duração um pouco maior e um andamento mais quebrado, mas nem por isso deixa de ser um verdadeiro esquartejamento sonoro. “Stigmatized” novamente possui uma “cozinha” violentamente soberba, guitarras cortantes e urros esmagadores, assim como “M.A.D”, que conta com partes mais arrastadas, porém sempre pesadas e sujas e “Dragnet”, que encerra essa obra prima da brutalidade musical espancando o ouvinte sem dó pela última vez.

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“Scum” não é um disco fácil de digerir e de compreender de primeira, especialmente se o ouvinte não estiver nem um pouco acostumado com a mais genuína brutalidade em forma de música que se pode encontrar. As faixas são executadas em um ritmo absurdamente incomum e devastador e ainda que seja um clássico e o trabalho pioneiro do Grindcore, divide até hoje muitas opiniões a respeito de sua “qualidade musical”. O fato é que o que se ouve aqui é apenas o começo de tudo o que surgiria em diante para a banda e para o Grindcore como um todo.

É um disco toscamente produzido e os músicos não apresentam nenhuma técnica apurada e produzem algo totalmente anti-musical e anárquico, contudo, compensam tudo isso com a intensidade e a ferocidade das canções que executam. Ouvindo o álbum é possível ver que a banda acredita no que está tocando e o faz com o mais genuíno sentimento de fúria. A temática de suas letras desde aquela época já eram bem interessantes e com um grande cunho social e político e também agregam e muito para o valor histórico do disco em si. O fato é que, o ouvinte gostando ou não, o cenário musical, em especial o Metal Extremo, nunca mais foi o mesmo após o lançamento desse registro…

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“You Suffer – But Why?”

https://www.youtube.com/watch?v=hs_9Lx8F6Sw

Integrantes:
Lado A:
Nicholas Bullen (vocal principal e baixo);
Justin Broadrick (guitarra e vocal de apoio);
Mick Harris (bateria).

Lado B:
Lee Dorrian (vocal);
Bill Steer (guitarra);
Jim Whitely (baixo);
Mick Harris (bateria).

Faixas:
Lado A:
01 – Multinational Corporations
02 – Instinct of Survival
03 – The Kill
04 – Scum
05 – Caught… In A Dream
06 – Polluted Minds
07 – Sacrificed
08 – Siege of Power
09 – Control
10 – Born On Your Knees
11 – Human Garbage
12 – You Suffer

Lado B:
01 – Life?
02 – Prison Without Walls
03 – Point of No Return
04 – Negative Approach
05 – Success?
06 – Deceiver
07 – C.S.
08 – Parasites
09 – Pseudo Youth
10 – Divine Death
11 – As The Machine Rolls On
12 – Common Enemy
13 – Moral Crusade
14 – Stigmatized
15 – M.A.D.
16 – Dragnet

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