Em 12 de fevereiro de 1980, o RUSH lançava o seu oitavo e o mais importante disco de sua gloriosa carreira. E “Moving pictures” marca o início da transição do som da banda, que nos anos 1980 deixaria um pouco as guitarras do Rock Progressivo de lado, priorizando os sintetizadores e um som mais radiofônico. Porém, essa passagem se deu com um grandioso disco.
A banda vinha do não menos excelente “Permanent Waves” e os caras nem tinham a obrigação de se superar, porém, acertaram em cheio, criando um álbum emblemático. Então entre outubro e novembro de 1980, o trio se reuniu no “Le Studio“, em Quebec, na companhia de Terry Brown, que atuou como co-produtor. E assim nasceu o disco mais aclamado do trio.
Vamos colocar a bolacha para rolar e em 40 breves minutos a sensação é única: um disco que, das sete músicas, as quatro primeiras são simplesmente estupendas. “Tom Sawyer“, com aquele clima lindo, um peso como poucas vezes fora visto na sonoridade do RUSH, é quem abre os trabalhos e da melhor forma. Os teclados de Geddy Lee ditam o ritmo, mas a guitarra e a bateria não ficam para trás, assim como o baixo cavalgado que acompanha o solo é cavalar.
“Red Barchetta” explora as harmonias e a banda beira a perfeição, com destaque para a dupla Geddy Lee e Neil Peart, essa que foi a cozinha mais entrosada e cirúrgica da história do Rock. A letra fala sobre carros e a música caiu como uma luva no mercado estadunidense.
Se alguém lhe perguntar qual é o maior instrumental da história do Rock, e quiçá da música, responda sem pensar: “YYZ“. Uma música forte e que levantava até defunto quando a banda a executava ao vivo. Novamente, o espetáculo à parte é de Geddy Lee no baixo. E para quem ainda não sabe, o título da música remete ao aeroporto de Toronto, cidade natal dos caras, já que depois de tantas turnês cansativas, a banda se sentia aliviada por estar de volta em casa quando avistava a sigla YYZ em seus bilhetes aéreos. A música nasceu de uma brincadeira entre Neil Peart e Geddy Lee e depois Alex Lifeson entrou na jogada, abrilhantando tudo com seu solo.
“Limelight” acalma os ânimos trazendo mais melodia em uma música não menos importante. Um som cheio de clima e competente, com o selo de qualidade do RUSH. A letra trata de particularidades de Neil Peart, em que ele tenta entender essa relação entre fã e ídolo.
“The Câmera Eye” tem uma longa intro e aqui a banda já dá uma pequena amostra do que se tornaria a sua sonoridade durante os anos 1980, com muitos sintetizadores e um breve afastamento do Rock Progressivo, que abordamos no início deste texto. Em que pese o fato de esta música ser a mais longa do álbum, com mais de 10 minutos.
Aí chega a música favorita de toda a carreira do RUSH para este redator que vos escreve: a sombria “Witch Hunt“. Com riffs perfeitos e uma atmosfera perfeita, essa música ganhou meu coração quando eu a conheci no ao vivo “A Show of Hands“. E ao vivo ela fica ainda mais pesada. A curiosidade é que os teclados da intro foram gravados por Hugh Syme, o cara que criou a arte da capa. Aliás, ele trabalhou em todos os álbuns do RUSH, a partir do terceiro álbum, “Caress of Steel” (1975).
“Vital Signs” fecha o álbum em uma canção mais pop, com flertes com Reggae, principalmente nas guitarras de Alex Lifeson. Não que seja uma música ruim, mas está um pouco só abaixo das demais, sendo até covardia compará-las com as clássicas deste belo disco.
“Moving Pictures” não só deixou o seu legado, como tem diversas conquistas: alcançou a 1ª posição do “Canadian Albums Charts“; enquanto que na “Billboard 200” e na “UK Albums Charts“, chegou ao 3º posto, Ao passo que a “Kerrang!” colocou o disco na posição número 43 da lista dos “100 Maiores Álbuns de Heavy Metal de Todos os Tempos“; a “Rolling Stone” colocou o disco em 10º lugar na lista dos “Discos Favoritos de Rock Progressivo“; em 2012. A mesma revista elegeu “Moving Pictures” como o 3º maior disco de Rock progressivo de todos os tempos, ficando atrás apenas de “In the Court of king Crimson” e de “The Dark Side of the Moon“, de uns certos KING CRIMSON e PINK FLOYD, respectivamente.
Em 2014, os leitores da revista “Rhythm“, elegeram o aniversariante de hoje como a melhor gravação de bateria da história do Rock Progressivo. E por fim, o livro “1001 Álbuns Que você Precisa Ouvir Antes de Morrer“, do autor Robert Dimery, listou “Moving Pictures” entre estas pérolas. Ainda foi premiado por quatro vezez com o disco de Platina nos EUA e no Canadá, além do disco de prata no Reino Unido. Não é pouco.
A minha relação com “Moving Pictures“: já curtia RUSH desde a infância, quando assistia ao seriado “Profissão Perigo“, que poucos conhecem de nome, mas quando falamos o nome do protagonista, Macgyver, todos reconhecem. “Tom Sawyer” era a música tema de abertura do seriado. No final da década de 1990, comprei o CD em uma loja, em Copacabana, por singelos dez reais. Ainda tenho o disco até hoje e não o negocio em hipótese alguma, porém, confesso que escuto mais a versão em mp3 que criei para usar no cartão SD do meu smartphone (N. do R: sim, eu sou bastante resistente com essa ideia de escutar música via streaming). E para mim é o segundo melhor disco da carreira da banda, ficando atrás somente de seu antecessor, “Permanent Waves“.
Infelizmente a banda não mais existe e com o falecimento de Neil Peart no mês passado, as chances de um retorno da banda que já eram nulas agora são impossíveis. Então só nos basta levar adiante esse legado e celebrar “Moving Pictures” não somente no dia 11 de fevereiro, mas por todos os dias de nossas vidas.
Moving Pictures – Rush
Data de lançamento: 11/02/1981
Gravadora: Anthem
Tracklisting:
01 – Tom Sawyer
02 – Red Barchetta
03 – YYZ
04 – Limelight
05 – The Camera Eye
06 – Witch Hunt
07 – Vital Signs
Lineup:
Geddy Lee – Baixo/vocal/Teclados/Sintetizadores
Alex Lifeson – Guitarra
Neil Peart – Bateria
Special Guest:
Hugh Syme – Teclado em “Witch Hunt“