Após o sucesso e a grandiosidade da Worldwide Texas Tour, que durou de 1975 até 1977 (no meio da qual a banda ainda criou e gravou o álbum Tejas), o ZZ Top resolveu dar uma pausa na frenética rotina de shows e de gravações para um necessário descanso. Los Tres Hombres, Billy Gibbons (vocais, guitarras), Dusty Hill (contrabaixo, vocais) e Frank Beard (bateria) zarparam para destinos distintos e se afastaram uns dos outros, como se fossem estranhos.
Em meio a esse hiato, Gibbons e Hill começaram a deixar crescer as suas barbas. O fundador do grupo garante que isso não foi combinado entre eles, já que o próprio afirma que nem ele e nem Beard sabiam do paradeiro de Hill nestas misteriosas férias. O mais curioso nessa pendenga toda é que o integrante que se chama Frank Beard foi o único que não deixou crescer suas madeixas mandibulares, tendo em vista que seu sobrenome “Beard” significa exatamente “barba”, em português. Tal controvérsia só serviu para alimentar mais ainda a fama de bem-humorados e irônicos dos três.
Musicalmente falando, parece também que essas férias serviram para mexer um pouco com as influências musicais do grupo, principalmente de Gibbons, o compositor-mor da banda. Pode-se verificar isso no primeiro álbum que o ZZ Top lançou após a volta das férias, Degüello. Lançado em 1979, este trabalho foi a “versão beta” daquilo que a banda viria a praticar nos anos 80, cujo ponto alto foi o sucesso Eliminator (1983). Não que Degüello represente uma mudança radical na sonoridade do trio, mas ele trouxe consigo alguns elementos novos no conjunto de arranjos que o grupo compôs e registrou. Novamente sob a batuta do fiel produtor e companheiro Bill Ham, Degüello passeia por um total de 34 minutos apresentando ao ouvinte o velho Blues/Rock da banda, recheado com groove, algumas pitadas de Motown e, pela primeira vez na história dos texanos, teclados.
Calma! O ZZ Top não virou um “Yes do Deserto” não. Os teclados não estão proeminentes. Arrisco-me a dizer que somente um ouvido mais apurado irá detectá-los em meio as guitarras pulsantes de Gibbons e o baixo poderoso de Hill. Os teclados surgem de vez em quando para dar um recheio, um molho a mais no som do trio. Cabe também explicar de onde vem o nome “Degüello”: o termo em espanhol significa “degola” em português. O título do álbum foi inspirado pela canção militar de mesmo nome muito popular no México, cuja história afirma que foi o sinal para que o exército mexicano atacasse o texano naquela que ficou conhecida como Batalha do Álamo, travada em 1836. Depois os texanos viraram o jogo e se tornaram um país independente para, em menos de 10 anos depois, se anexarem voluntariamente aos Estados Unidos.
Pois bem. Voltemos à música dos boas-praças do ZZ Top. O álbum se inicia com um cover, I Thank You, originalmente lançada pela dupla de Soul Sam & Dave em 1968, mas que veio a se tornar um dos maiores sucessos do próprio ZZ Top, que imprimiu bem o seu DNA com guitarras em chorus e uma levada gostosa. O blues She Loves My Automobile apresenta os dotes dos três integrantes também em instrumentos de sopro. Mais um ritmo empolgante é apresentado em I’m Bad, I’m A Nationwide, que traz apresenta um violão entranhado em seus arranjos. O violão foi reaproveitado na 3/4 “Joe Cockeriana” A Fool For Your Stockings. O lado A da versão original em vinil se encerra com a frenética Manic Mechanic, onde o grande destaque vai para os teclados, a levada quebrada de frank Beard e os efeitos nas guitarras e na voz.
Virando o disco damos de cara com um cover de Dust My Broom, da lenda do Blues Robert Johnson. O nome original da música é I Believe I’ll Dust My Broom e ela foi creditada erroneamente na prensagem original de Degüello para Elmore James. Billy Gibbons aproveita e destila suas habilidades com slide no braço da guitarra. Lowdown In The Street é mais uma com levada groovada e empolgante. Hi-Fi Mama é cantada por Dusty Hill e seu andamento rápido quebra o ritmo médio/lento que havia sido estabelecido pelas faixas anteriores. A influência da Motown se nota com mais força em Cheap Sunglasses, muito pela levada funkeada nas bases de Gibbons e pelo ritmo imposto pela cozinha Hill/Beard. O álbum se encerra em alto nível com a belíssima Esther Be The One.
Degüello marcou o começo da parceria do ZZ Top com a gravadora Warner e também foi o primeiro trabalho do trio a ser certificado Disco de Platina nos Estados Unidos, além de ter conquistado o Disco de Ouro na Alemanha Ocidental. Os singles I Thank You e Cheap Sunglasses obtiveram razoáveis colocações na parada “Pop Songs” da Billboard. A promoção do álbum ensejou uma nova grande turnê para o grupo que foi batizada de Expect No Quarter. O giro serviu para que Gibbons e Hill apresentassem para o grande público seus novos visuais barbados que perduram até hoje e os levou pela primeira vez a Europa.
Após a extensa turnê, o ZZ Top voltou para o estúdio com Bill Ham para dar início a sintetizada e bem-sucedida era oitentista do som do grupo com o álbum El Loco. Mas isso é conversa para amanhã, aqui no Roadie Metal Cronologia.
Tracklist:
01. I Thank You (Sam & Dave cover)
02. She Loves My Automobile
03. I’m Bad, I’m Nationwide
04. A Fool For Your Stockings
05. Manic Mechanic
06. Dust My Broom (Robert Johnson cover)
07. Lowdown In The Street
08. Hi Fi Mama
09. Cheap Sunglasses
10. Esther Be The One
Line-up:
Billy Gibbons – vocais, guitarras, sax
Dusty Hill – contrabaixo, vocais de apoio, vocais principais em “Hi Fi Mama”, teclados, saxofone
Frank Beard – bateria, percussão, saxofone