Devido ao momento que estamos atravessando, eu, Helton Grunge, decidi criar este quadro de matérias chamado 40 de Quarentena. O quadro consiste em 40 dicas de álbuns para se ouvir durante essa crise de saúde que estamos enfrentando no mundo. Uma vez que tudo está limitado e que temos que ficar o máximo possível em casa, vou sugerir 40 álbuns muito bons para que você ouça e lhe ajude a passar por este tempo de crise.
A ideia é fugir das obviedades e falar de bandas que merecem ter seu trabalho em álbum conhecido, tal sua qualidade. Não preciso aqui “chover no molhado” e apresentar álbuns clássicos, até porque sua importância na música já é clara e certamente influenciou vários trabalhos. Os álbuns não necessariamente serão da cena underground, muitas vezes serão também de bandas que já se ouviu falar, mas não se ouviu um trabalho completo dela: vale a pena conferir a matéria e conhecer os trabalhos sugeridos.
O álbum de hoje é Nine Lives (1997) da banda de Hard Rock chamada Aerosmith.
Não, este não é um grande clássico do Aerosmith, apesar de conter algumas faixas que renderam muito sucesso para a banda como Hole in My Soul, Full Circle e Pink. Mesmo com estes sucessos, este trabalho costuma não ser visto com bons olhos pelos amantes do Hard Rock tradicional que a banda costumava a fazer na década de 70.
Mesmo assim, o disco está longe de ser ruim, apresentando uma proposta muito interessante voltada para uma experimentação sonora que envolvia elementos da música oriental em sua obra, além de referências sobre a Índia em sua capa e seu encarte, contando também com referências sobre o país em algumas letras também.
Nine Lives (1997) é o décimo segundo álbum de estúdio da banda e este nome surgiu da resiliência da banda em não desistir de seus trabalhos e de seu objetivo, uma vez que nos EUA, a expressão “9 vidas” é o equivalente à nossa expressão “7 vidas” referindo-se à resistência do gato sobre a morte. A banda estava passando por vários conflitos internos e já havia enfrentado outros nas décadas anteriores, mas, mesmo assim, insistiam em fazer o que mais amavam: tocar. E, só para enfatizar, no palco a banda era realmente marcante.
O trabalho é muito bom, mas parece que o público e a crítica simplesmente não entenderam a proposta da banda nele. Aqui não temos mais aquele Hard Rock cru que a banda apresentou na década de 70, mas também temos muito de Hard no álbum, além de ótimas baladas e um Rock bem dançante na maioria das faixas. A proposta de ser um álbum, em sua maioria, voltado para a alegria e animação, com pequenas doses de melancolia para equilibrar, foi muito bem executada.
A banda decidiu mudar um pouco sua sonoridade ao longo dos anos, mas diferentes de outras bandas que se venderam totalmente a um estilo e deixaram suas raízes de lado, o Aerosmith manteve muito de seu peso nas guitarras, muito de seus arranjos bem trabalhados, muito da guitarra de Joe Perry fortemente influenciada pelo Blues e teve um bônus: Steven Tyler se tornou um vocalista ainda melhor, atingindo notas muito agudas e utilizando-se de um potente drive que não tinha décadas atrás.
A banda havia lançado trabalhos anteriores como o Pump (1989) e o Get a Grip (1993) que foram sucesso de vendas e de crítica, fazendo com que o público esperasse algo tão bom quanto em Nine Lives (1997). A questão não nem necessariamente a qualidade, pois Nine Lives (1997) tem seu potencial e é um trabalho bem honesto; o fato é que o público certamente esperou uma extensão do que estava sendo feito, uma vez que a banda atingiu um sucesso tão grande (ou até maior) quanto nos anos 70. O simples fato de o trabalho não corresponder a esta expectativa não pode fazer com que ele seja ruim.
As linhas de voz de Steven Tyler, aliás, são o ápice do trabalho, usando e abusando de uma técnica absurda e mostrando todo seu talento em faixas como Ain’t that a Bitch, Hole in my Soul e Kiss Yout Past Goodbye.
Confira a tracklist de Nine Lives (1997) abaixo.
01. Nine Lives
02. Falling in Love(Is Hard on the Knees)
03. Hole in My Soul
04. Taste of India
05. Full Circle
06. Something’s Gotta Give
07. Ain’t That a Bitch
08. The Farm
09. Crash
10. Kiss Your Past Good-Bye
11. Pink
12. Falling Off
13. Attitude Adjustment
14. Fallen Angels
Edição Especial de relançamento
15. I don’t Wanna Miss a Thing
Assim como diversos outros trabalhos que apresentam mais de uma versão, este não foi diferente. Na versão original lançada dia 18 de março de 1997, o disco possuía apenas 13 faixas, não contando a bônus I don’t Wanna Miss a Thing e Falling Off. Porém, quando eu comprei o disco lá em meados dos anos 2000, ele veio da forma apresentada acima. Sendo assim, tirarei esta versão como base.
Gosto muito do trabalho e certamente foi muito importante para desenvolver meu apreço pelo estilo de música. Com isso e por ele trazer toda uma carga emocional nostálgica para mim, fica difícil definir apenas algumas músicas como preferidas. De qualquer forma, selecionarei quatro: Falling in Love (Is Hard on the Knees), Hole in My Soul, Ain’t That a Bitch e Pink.
Falling in Love (Is Hard on the Knees) é uma típica faixa animada que apresenta uma decepção amorosa vazia, porém divertida. A nuance da faixa representa o estilo dançante já comentado acima e mostra que as músicas da banda podem cair muito bem em festas.
Hole in My Soul é o típico drama de quem perde seu amor e não sabe como lidar com o sofrimento. A faixa é longa, porém foi single devido à sua capacidade contagiante de prender a atenção do ouvinte como se o mesmo estivesse simplesmente sentado e ouvindo uma triste e trágica história de amor frustrada. As linhas de guitarra da música são muito criativas e as linhas vocais são ótimas e marcantes.
Em Ain’t That a Bitch Steven Tyler chega a seu auge vocal mostrando toda sua técnica e extensão, sem abandonar o drive que havia adotado desde o início da década. É uma de minhas faixas preferidas da carreira da banda sendo muito intensa e dinâmica.
Pink é aquela faixa que flerta fortemente com o Blues Rock e traz uma variedade de repertório para a banda, mostrando que, mesmo saindo da fórmula de Rock Balada, a banda conseguia fazer um trabalho muito bom nesta nova fase e conseguia apresentar uma faixa diferente e criativa.
Sem dúvida, a faixa mais marcante do trabalho que apresentei é I don’ Wanna Miss a Thing, porém como saíra após o lançamento do álbum e fora inserida no mesmo em um relançamento, preferi não incluí-la em minha seleção de preferidas, deixando apenas faixas que estiveram presentes no lançamento original.
Assim como o Metallica mudou sua sonoridade a partir da década de 90 e ainda lançou bons álbuns (mesmo que muitos fãs insistam em dizer que apenas os 3 primeiros são bons), Aerosmith também o fez. A banda tem que ter liberdade para arriscar e, nem sempre, dá certo. A questão é: quando não se abandona totalmente a raiz do trabalho, a chance de se lançar um álbum honesto dentro de sua proposta é grande. E Nine Lives (1997) é este trabalho.
É evidente que não se trata do melhor álbum da banda, mas ele está longe de ser ruim. Várias músicas são muito bem elaboradas, o disco é bem produzido e cheio de novidades temáticas envolvendo música da Índia. O trabalho cumpriu seu papel e merece um pouco mais de paciência dos ouvintes, que devem libertar-se de expectativas envolvendo trabalhos anteriores da banda e buscarem aceitar a novidade bem executada e honesta.
A formação da banda no álbum contou com Steven Tyler nos vocais, no piano, no órgão, na gaita e no hammer dulcimer (instrumento de percussão indiano); Joe Perry na guitarra; Brad Whitford na guitarra; Joey Kramer na bateria e Tom Hamilton no baixo.
Então escolha seu melhor fone, escolha sua plataforma de streaming preferida e aproveite este tempo de crise social para ouvir bons trabalhos musicais. A dica de hoje foi Nine Lives (1997) da banda de Hard Rock chamada Aerosmith, mas sempre teremos novas dicas aqui com um breve resumo e breve opinião minha sobre o trabalho. Espero que a dica seja interessante e que usem este tempo difícil a seu favor, cuidando-se e cuidando das pessoas ao redor; mas sem deixar de conhecer ótimos trabalhos musicais que talvez você não teve tempo para ouvir.
Ouviu o trabalho? Deixe seu comentário abaixo, vamos conversar sobre. Caso vá ouvir após ler a matéria, volte para dizer o que achou e se a dica valeu a pena.