Escrever sobre música é uma tarefa tão árdua quanto divertida!!!
E, justamente, por ser tão divertido, é algo que tem que ser levado muito a sério. Não é só ficar jogando um monte de elogios ou críticas em formas de adjetivos, ou, pelo lado oposto, entendiar quem lê, com um texto frio, como se fosse um relatório. É necessário transmitir, na mesma medida, informações (pois estamos avaliando trabalhos) e emoção (pois estamos falando de arte). Convém, então, sempre que possível, manter o lado de fã um pouco contido, para evitar arroubos muito extrapolados.
Na maior parte do tempo é fácil. Mas, e quando você tem que falar sobre a banda do coração? Aquela para a qual foram reservados os espaços nobres de sua estante? De repente, me veio a lembrança de que “Let There Be Rock”, terceiro disco do AC/DC, iria completar quarenta anos de lançamento, e, decorrente disso, resolvi sentar para verificar o que poderia dizer a respeito.
Só que…. é o AC/DC! Mas, tudo bem… Eu vou me conter.
Quarenta anos é uma marca fascinante quando falamos de um disco, e de uma banda, que praticamente não envelhecem, afinal, lembrem-se, há um garoto vestido de colegial lá na frente, segurando uma guitarra, mas essa marca tem algumas ressalvas.
De fato, o disco foi lançado no dia 21 de março de 1977, só que essa data corresponde ao lançamento australiano do mesmo. Para o resto do mundo, o disco só estaria disponível para as prateleiras no dia 25 de julho do mesmo ano, ou seja, cerca de quatro meses depois. Dessa forma, o logo clássico da banda, que aparece pela primeira vez estampado na capa da edição internacional do disco, só completará seus quarenta anos de surgimento quando chegarmos no fim de julho, pois o lançamento australiano foi efetuado com uma capa e um logo bem diferentes.
A distinção entre os mesmos não para por aí. A faixa “Crabsody In Blue”, do disco original, não foi lançada na versão americana, pois a gravadora daquele país cismou com a letra, que fala sobre chatos (não, não é sobre pessoas chatas…), e a substituiu por “Problem Child”, faixa do disco anterior, “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”. Então quer dizer que eles fizeram o repeteco de uma música já lançada? Não, porque o álbum “Dirty Deeds Done Dirt Cheaps”, que é originalmente de 1976, só ganhou existência fora da Austrália cinco anos depois, em 1981. E quanto à “Crabsody In Blue”, essa só veria seu lançamento oficial na ocasião do lançamento do boxset “Backtracks”, junto com outras raridades.
Por fim, “Let There Be Rock”, que é o terceiro álbum da banda no mundo, mas o quarto na Austrália, marca o fim da primeira formação do AC/DC, com a saída do baixista Mark Evans, que seria substituído, já na turnê, por Cliff Williams. Esclarecidas todas as divergências entre as suas versões, resta falar das músicas e aí a diversão começa! “Let There Be Rock” traz um rol de faixas que começa finalmente a cravar a identidade definitiva do AC/DC. Os discos que o precederam são ótimos, mas não são absolutos, trazem um ou outro momento em que a pegada não surge tão bem direcionada. Em “Let There Be Rock”, talvez em cumprimento à ordem divina estampada no título, a banda oferece um repertório de absoluta coesão e de pura energia, com algumas de suas melhores composições, como “Hell Ain’t A Bad Place To Be”, “Bad Boy Boogie”, a maravilhosa “Overdose”, coverizada posteriormente pelo Exodus, “Go Down” e “Dog Eat Dog”, com seu andamento pesado, cortesia do metrônomo humano Phil Rudd.
Mas ainda tem mais. A faixa título do disco é, de longe, a música mais arregaçante da banda e, quiçá, de todo o Hard Rock! Não dá para competir com “Let There Be Rock”! Ou melhor, dá, mas somente se a competição vier do próprio AC/DC, pois o solo mais espetacular de Angus está justamente na faixa que resta, “Whole Lotta Rosie”, tão gigantesco quanto as medidas da musa que inspirou a letra criada por Bon Scott!
Então, se a banda hoje anda trôpega, resta-nos celebrarmos esse disco extraordinário, que tem a melhor música, o melhor solo, o baterista mais preciso que existe, o frontman mais carismático que já houve, o melhor guitarrista base, na pessoa de Malcolm Young, e a icônica figura de Angus Young, para o qual não existem comparativos! E espero ainda poder comemorar seu aniversário de 50 anos, 60 ou até quando aquele raio no meio do logo partir este planeta em pedaços, pois, como diz outro trecho das escrituras que inspiraram parte da letra da faixa título: Passarão o Céu e a Terra, mas o AC/DC não passará!!!!
E pronto. Está concluído.
Ainda bem que eu me contive…