No último dia 30 de novembro (sábado), o Estelita Bar, localizado no bairro do Cabanga, zona sul do Recife, sediou mais uma vez uma edição do festival Visions Of Rock, originário da cidade de Caruaru, mas que tem ocorrido na capital pernambucana nos últimos anos.
Nessa edição, intitulada como “In Hell We Trust”, o line-up do evento foi composto pelas bandas Hostinalia (PE), Jupterian (SP), Nervochaos (SP), Beheaded (Malta), Besatt (POL) e Comando Etílico (RN).
Antes de começar a falar das apresentações, irei ressaltar aqui eu a pontualidade foi cumprida a risca do início ao fim do evento, coisa que infelizmente é difícil de acontecer nos eventos undergrounds normalmente.
Mas, infelizmente, como o público ainda está muito acostumado com os eventos sempre atrasarem, o primeiro show da noite se iniciou com pouquíssimas pessoas dentro do Estelita.
No caso, a Hostinalia iniciou sua apresentação às 20h em ponto, tendo a banda feito ali seu show de estreia, pois o grupo é um dos caçulas da cena underground recifense.
Apesar da banda ser nova, os músicos que a compõem são bastante experientes, inclusive, eu particularmente já conhecia a potência vocal de Ângela Euterpe, pois a mesma foi a primeira vocalista da falecida Vocífera, a primeira (e única até o momento) banda de metal extremo formada apenas por mulheres da cena de Pernambuco.
O show da Hostinalia foi o mais curto da noite, tendo durado mais ou menos meia-hora, o que se deve principalmente pelo curto repertório que a banda tem.
De qualquer forma, a meia-hora da Hostinalia foram de muito peso e pura brutalidade, a banda demostrou uma ótima energia no palco, e Ângela mostrou uma ótima presença de palco, mesmo diante de uma plateia de gatos pingados.
Para quem estava na pista, o som estava bom e ouviam-se muito bem todos os integrantes, mas no palco, aparentemente o cenário era diferente, tanto que Ângela reclamou constantemente do retorno.
O show também contou com a participação especial da cantora Márcia Raquel na faixa “Morbid Anxiety”, tendo a mesma feito os vocais líricos na versão de estúdio da música. Nesse mesmo momento, Ângela também se mostrou uma boa interprete.
Passada as meia-hora da sua apresentação, a Hostinalia encerrou seu show com bastante energia, mesmo sem um grande público na plateia e sem moshs pits.
Alguns minutos depois, o palco já estava preparado para a próxima atração, que se tratava da banda paulista de Doom Metal Jupterian, que traria ao Visions of Rock toda sua atmosfera sombria e ocultismo.
Podemos dizer que o Jupterian é uma banda “misteriosa”, pois os mesmos se identificam apenas pelas letras iniciais de seus nomes, e sempre se apresentam vestindo burcas que cobrem todo o seu corpo.
O som deles é aquilo que se espera de uma boa banda de Doom Metal, lento, pesado, sombrio e arrastado. Obviamente, por conta disso não houve brechas para rodas punks, mas o público, que já se apresentava em maior número naquele momento, aproveitou para bater cabeça do início ao fim da apresentação.
Outro fato interessante da banda é que, para manter todo o “mistério” em volta deles, em nenhum momento do show eles conversaram com o público, e como as músicas deles são naturalmente longas, horas era difícil definir quando uma começava e a outra terminava.
Da mesma forma que quando o show da banda terminou, todos foram meio que pegos de surpresa, porque eles simplesmente terminaram a música, fizeram uma reverência ao público e começaram a desmontar o equipamento sem falar nada. Obviamente, isso faz parte de toda a atmosfera do Jupterian.
Eram quase 22h quanto o Jupterian deixou o palco e deu espaço para a já consagrada Nervochaos, que subiu ao palco do Estelita trazendo a turnê do álbum “Ablaze”, lançado esse ano.
Naquele momento, o Estelita já se encontrava no pico de pessoas, não era o suficiente para casa cheia, mas o quantitativo que ali tinha preenchia pelo menos 50% do espaço.
O Nervochaos já chegou metendo o pé na porta soltando todo som com peso e brutalidade que se tem direito, tanto que nesse momento achei que finalmente as rodas punks seriam formadas. Até houveram tentativas, mas as mesmas não vingaram.
Mas de qualquer forma, a energia da apresentação foi intensa do início ao fim com a banda soltando porrada atrás de porrada em seu setlist, e “blasfêmia” atrás de “blasfêmia” bem ao estilo Nervochaos. Mesmo sem os mosh pits, o público correspondeu bem a energia da banda.
Após mais ou menos uma hora de show, tocando tanto músicas do novo álbum quanto clássicos da carreira, o Nervochaos encerrou sua primeira passagem no Recife esse ano (pois os mesmos retornarão a capital pernambucana no dia 21/12 para o Verão Caos Fest, junto com o Krisiun e o Sepultura).
Era chegada a hora da primeira atração gringa da noite, se tratando da banda de Death Metal Beheaded, que veio direto da ilha de Malta direto para o Recife para soltar a força de seu som.
A mesma pegada do Nervochaos se manteve durante o show do Beheaded, com muita brutalidade e com o pessoal batendo cabeça plateia, e falhando nas tentativas de roda punk.
Aquele foi mais um show do Beheaded da sua turnê brasileira com as bandas Jupterian e Nervochaos, e anteriormente já havia passado pelo Estado, quando as mesmas tocaram em Belém de São Francisco, interior de Pernambuco, no dia 22 de novembro.
Durante a apresentação, o vocalista Frank Calleja constantemente chamou o público para participar do show e se mostrou também bastante instigado, mandando ver em seus fortes guturais.
Por parte do público, foi mantida a mesma vibe que se encontrava no show do Nervochaos, tendo os mesmos até se conectado bem com a banda.
Logo após o Beheaded, o público continuou no Estelita na expectativa pela apresentação da banda polonesa de Black Metal Besatt, que fazia ali seu único show no Nordeste na atual turnê.
Sendo ela uma das principais bandas do estilo no mundo, o Besatt apresentou um show da forma que muitos headbangers esperam, completamente blasfemo e sombrio.
E mais uma vez, percebia-se que a plateia, apesar de estar batendo cabeça constantemente, não estava muito afim de “moshar”, tanto que em uma das tentativas frustradas de roda punk, duas mulheres acabaram se estranhando e partindo para vias de fato (a coisa foi tão feia que mesmo com um monte de gente tentando separa-las, demorou alguns minutos para a situação ser resolvida).
No palco, tudo transcorreu nos conformes, o show foi bastante linear, que é uma característica do Black Metal (e do metal extremo em geral) usar as mesmas fórmulas para as músicas.
A única coisa que achei estranha no show deles era o som da caixa de bateria, que parecia ter sido pega emprestada do kit usado pelo Lars Ulrich (Metallica) para gravar o álbum “St. Anger”, pois o som da mesma estava metálico até demais, e isso ficava muito evidente, já que as músicas de Black Metal costumam ter uma batida bastante rápida.
Após o Besatt, o evento entrava na sua reta final com a apresentação da banda potiguar Comando Etílico, que foi a atração última atração confirmada para o evento, tendo o anúncio da mesma sido feito com quase 1 mês de antecedência (levando em conta que o evento foi anunciado ainda no primeiro semestre do ano).
E justamente pela razão citada acima que achei estranho terem confirmado essa banda tão em cima da hora para o evento, que na época já estava teoricamente com o cast fechado.
Mas depois foi explicado o porquê dessa inclusão repentina do Comando Etílico, que se tratou na verdade de uma união da produção do Visions of Rock com a Alive Produções, que estava trazendo o grupo potiguar para Recife no mesmo dia do festival. No caso, a intenção era evitar que os dois eventos concorressem, tendo assim os unido.
Certamente, foi uma atitude nobre, e um exemplo de união dentro da cena underground, e como assim podemos sempre somar um com os outros.
Mas, por outro lado, por mais nobre que a atitude tenha sido, o evento acabou ficando inflado, e a prova disso é que a maioria dos presentes deixaram o Estelita após o fim do show do Besatt, tendo poucos ficado para conferir o Comando Etílico.
Mas falando do show por si só, a banda me surpreendeu bastante, pois de início achava que seriam mais uma daquelas bandas de Thrash Metal Old School com o som bem sujo.
Bom, o som é Old School, mas apesar dos riffs referentes ao Thrash, o vocal de Hervall Padilha remete mais ao Heavy Metal Tradicional, sendo o mesmo bastante técnico e limpo.
O som da banda, que atualmente divulga o álbum “Heavy Metal Réu”, remete bastante ao veterano grupo carioca Taurus, tanto que no final do show eles tocaram um cover da faixa “Massacre”, presente no primeiro disco do Taurus.
“Sabe como se diz ‘AC/DC’ em português? Taurus’ falou Hervall antes de executar o cover.
O público, apesar de estar em número menor, ainda assim se mostrou disposto ao longo de todo o show do grupo potiguar, parecendo até que estavam mais animados naquele momento do que em todos os outros shows do evento.
No mais, o Comando Etílico fechou a noite com chave de ouro já por volta das 02 da manhã com um show instigante, técnico, intimista e com uma pegada bastante oitentista.
Encerrada as apresentações, chegamos as considerações finais.
Como dito no início do texto, a produção seguiu o cronograma pontualmente, e parabéns a eles por isso. Com certeza, houveram aqueles que perderam alguma atração que queria ver por achar que haveria atraso, é uma pena, mas é um preço a se pagar para ver se assim o pessoal se acostuma a chegar no horário nos eventos, pois para essa cultura mudar com certeza levará um tempo. Por isso, é muito bom quando há um pontapé inicial para isso.
O som para o público funcionou bem, apesar de no palco ter havido reclamações em relação ao retorno. O único fator estranho em relação a isso foi que vez ou outra os PAs do lado direito do palco falhavam, e voltavam a funcionar logo depois.
Em relação ao público, infelizmente não foi casa cheia, mas felizmente não foi aquela coisa de gatos pingados (eu particularmente estava esperando um público em número bem menor), tendo pelo menos atingido metade da capacidade da casa. A única coisa que faltou foi mais instiga por parte deles ao longo do evento.
Como dito também ao longo do texto, durante o show do Besatt foi registrado uma confusão entre duas mulheres durante uma tentativa de roda punk. Felizmente, a situação foi resolvida logo e nada de mais grave aconteceu, mas isso me faz chamar a atenção mais uma vez do Estelita em relação ao fato deles deixarem o pessoal andar com garrafas de vidro na casa, pois em uma dessas, alguém poderia facilmente usa-las como arma causando assim uma fatalidade, porque todos sabem, o ser humano quando está de cabeça quente é capaz de fazer qualquer besteira.
No mais, ficamos no aguardo para o próximo Visions of Rock.