Roadie Metal Entrevista: Armored Dawn – A ascensão da banda viking brasileira

Os que acompanham o cenário nacional do Metal têm percebido que uma banda, que até certo tempo era uma mera desconhecida do público em geral, tem conseguido se destacar bastante não só no Brasil, mas também internacionalmente.

O Armored Dawn foi formada em 2011 na cidade de São Paulo, mas só a partir de 2014 que eles passaram a adotar o atual nome para a banda. Formada por Eduardo Parras (vocal), Tiago de Moura (guitarra), Heros Trench (baixo), Rafael Agostino (teclado), Rodrigo Oliveira (bateria) e pelo finlandês Timo Kaarkoski (guitarra), o grupo tem mostrado em seu trabalho um alto nível de profissionalismo, tanto sonora quanto visualmente.

A banda tem dois discos lançados, o ‘Power Of Warrior’ (2016) e o recente ‘Barbarians In Black’ (2018). Trabalhos que deram ao grupo a chance de abrir para várias bandas de grande porte, tocar em diversos grandes festivais no Brasil e no mundo, e até mesmo de lançar um videoclipe em salas de cinema.

Em entrevista exclusiva para a Roadie Metal, o tecladista Rafael Agostino, e os guitarristas Timo Kaarkoski e Tiago de Moura falaram um pouco sobre a carreira, e também sobre trabalhos futuros.

Rafael Agostino (tecladista)

Roadie Metal: Como a banda foi formada?

Rafael: A banda existe há aproximadamente sete anos, mas ela foi reformulada um tempo depois, era uma outra formação, tinha uma outra proposta musical, mais Rock’n’Roll. E aí teve um direcionamento mais para o Heavy Metal tradicional, já beirando o Viking Metal também, teve a mudança de nome da banda, e a gente já está aproximadamente uns cinco anos com essa nova proposta, indo para o terceiro álbum.

Roadie Metal: A banda nos moldes atuais se formou em 2014, mas o primeiro disco veio apenas em 2016, certo?

Rafael: Isso, ele foi gravado em 2014, mas o lançamento foi adiado por conta de troca de nomes, troca de gravadora, por um momento éramos da Century Media, mas eles não estavam trabalhando bem, e hoje estamos com a IFM.

Roadie Metal: Timo, o que te fez sair da Finlândia e vir para o Brasil?

Timo: Lá é muito frio, de 30º graus negativos, é escuro, e você tem dificuldades para procurar seu carro no meio da neve, aqui não tem esse problema (risos).

Timo Kaarkoski (guitarrista)

Roadie Metal: Você já teve outras bandas antes do Armored Dawn, fosse no Brasil ou na Finlândia?

Timo: Tinha um monte de banda, mas nada que conseguisse muito sucesso. Houve uma na Finlândia que conseguiu contrato com uma gravadora, mas uma semana antes de viajar para Tóquio para gravar disco o grupo se desmoronou e três caras saíram.

Roadie Metal: É perceptível que a banda tem passado por uma grande e rápida ascensão, para você, ao que se deve isso?

Rafael: É muito trabalho, a gente ensaiava cinco vezes na semana, porque a gente pensava que as grandes bandas têm boas performances de palco porque fazem muitos shows, mas como não tínhamos muitos shows a gente optou por ensaiar muito para chegar o mais pronto possível. Lembro que um dos primeiros shows da gente foi abrindo para o Texas Hippie Coalition em Curitiba. Ali a banda já se destacou por ser de abertura, e o pessoal não esperava uma banda tão entrosada. A partir daí veio propostas maiores de shows maiores, como o Megadeth, o Symphony X, e as turnês europeias contam muito, a gente tem três turnês pela Europa no currículo e isso deixa a banda muito afiada, não só musicalmente, mas também na questão da convivência.

Tiago: Acho que esse lance dos shows também é que a banda é muito profissional, a gente chega lá, cumpre os horários certinhos, não incomoda, não enche a cara nos backstages incomodando outras bandas e outras equipes, a gente faz tudo certinho no cronograma, então isso chama a atenção dos produtores, porque é uma banda que vai dar conta do recado.

Rafael: É, a gente deixa pra beber depois, porque se beber antes dá trabalho (risos).

Roadie Metal: É perceptível também que o Dragon Club, o fã clube oficial de vocês, é bastante ativo e está sempre indo atrás de todos os locais onde a banda vai. Como é a relação de vocês com os mesmo?

Rafael: É muito legal, o Rodrigo Soares, que idealizou o fã clube, ele acompanha a banda tem muitos anos. Ele sempre ia pros shows, ele estava lá e chamava um amigo ou dois, e a gente sempre deu todo o suporte para ele, muitas vezes ele viajava com a banda. Isso partiu de uma forma muito espontânea dele e está cada vez maior, por toda cidade que ele passa acaba agregando mais pessoas. A gente considera esse clube realmente como uma família, porque é uma galera que é muito amiga, e a gente é muito orgulhoso por ter esse fã clube, fora essa relação que eles tem entre eles muito boa, eles também dão um apoio muito grande a banda, a gente fez um show na Argentina e eles foram em peso, somou muito, e tem espalhado pelo Brasil todo, e inclusive no Peru.

Roadie Metal: Vocês prestam algum tipo de apoio para esse fã clube?

Rafael: Com certeza, sempre a gente tenta viabilizar ingressos mais barato, ou promoções, a banda tenta realmente dar todo o apoio, porque é uma galera muito esforçada, curtem muito o som, então o mínimo que a gente tem a fazer é dar todo o apoio que eles precisam, ou pra ir em um show, ou pra conseguir material de uma forma mais barata.

Roadie Metal: Como foi a concepção do disco “Barbarians In Black”?

Rafael: Foi um disco completamente diferente do “Power Of Warrior” em questões de produção, foi produzido pelo Bruno Agra, que é um brasileiro que mora em Los Angeles, e o Kato Khandwala, que infelizmente morreu ano passado em um acidente de moto, mas eles tiveram grande contribuição para esse disco, trabalharam com a gente nas letras, arranjos, riffs. Esse foi o diferencial, a gente ter cedido um pouco para a opinião dos produtores, o que é muito raro hoje, principalmente com bandas brasileiras, a galera quer fazer do jeito que acha que está certo e geralmente acaba errando, porque o produtor tem essa profissão e não é a toa, o músico vem com a ideia e o produtor filtra o que realmente é bom, o que vende, e o que o público vai gostar. Então que isso foram peças fundamentais para conseguir esse álbum.

Roadie Metal: Como é recepção que vocês recebem quando tocam fora do país?

Tiago: Normalmente é uma recepção muito boa, a gente fica até surpreso. No Peru foi incrível, foi um show ao ar livre, e galera contagiou mesmo, abriram a roda legal lá. E na Argentina também, apesar que na Argentina teve o fã clube, no Peru eles não puderam ir, mas mesmo assim, a galera sem conhecer a banda foi contagiante.

Timo: Na Europa a galera também é muito legal, mas claro que aqui o pessoal sempre curte muito a banda, o resultado é sempre positivo.

Roadie Metal: Quantos shows vocês têm feito?

Rafael: Até agora, aproximadamente, 50 shows, contando as turnês e as apresentações pelo Brasil, a gente sempre insere lá no “Bands In Town”, então esse número está até lá se a galera quiser conferir, foram muitos shows legais, a gente tem todos eles guardados com ótimas memórias. Não teve nenhum show que a gente pensou “esse não foi muito bom”, de uma forma ou de outra às vezes o som não está muito bom, mas a recepção do público, e a empolgação nossa de tocar é sempre a mesma. Não importa se está tocando em São Paulo, ou na Europa, ou em qualquer cidade aqui no Brasil, é uma empolgação como se a gente fosse adolescente ainda, e a banda já passa dos 40 tranquilo (risos).

Roadie Metal: Porque a escolha de abordar a temática viking?

Rafael: O Eduardo é muito influenciado por esse tema, por filmes desse estilo, por bandas. Aí no primeiro disco “Power Of Warrior” era um disco mais eclético de temas, ele tinha temas de batalha, e tinha ali a música “Viking Soul”, que era a mais focada no tema viking, e a gente sempre curtiu mais também, foi uma música que tinha repercussão maior, não só pela música, mas também pelo tema. Depois veio a série “Vikings”, que a gente acompanhou, curtiu muito, e toda a mitologia nórdica que o Timo conviveu mais. Então a gente acabou optando por seguir mais essa linha, baseado também no sucesso do clipe “Viking Soul”, então para o segundo álbum a gente acabou direcionando mais para essa temática. Mas não dá para caracterizar um estilo da banda, é um tema que a gente segue nas letras, mas também não é algo que a gente é escravo, é só um tema que a gente curte, e tenta falar dele de uma forma como se contasse uma história, a gente não é viking, somos brasileiros, apesar de termos o Timo na banda, mas é apenas uma temática que curtirmos, e tentamos trazê-lo para os dias atuais, tentando fazer um paralelo com os dias de hoje.

Roadie Metal: Vocês acham que evoluíram do “Power Of Warrior” para o “Barbarians In Black”?

Timo: Musicalmente sim, a banda evoluiu muito, principalmente por causa dos ensaios e shows, ainda mais os shows do que os ensaios. Acho que um show vale uns 20 ensaios, e a banda aprende a tocar muito melhor do que antigamente.

Tiago: Sei lá, existe essa dúvida na verdade, porque são estilos diferentes. O “Barbarians” em relação ao “Power” ele deu uma guinada muito forte, é difícil dizer “melhor”, mas tem uma evolução musicalmente, a gente vai passando pelos anos e vai aprendendo mais. Eu gosto de ambos, mas o “Barbarians” é o meu preferido.

Tiago de Moura (guitarrista)

Roadie Metal: No início da entrevista vocês disseram que estão começando a preparar o terceiro disco, certo?

Rafael: Isso!

Roadie Metal: Vocês podem adiantar algumas informações sobre o mesmo?

Rafael: Acho que pode, essa semana até nos reunimos para discutir isso. Nós já estamos em fase de gravação, o disco já foi todo pré-produzido, as letras já estão prontas, as bateras estão gravadas. O que a gente pode adiantar um pouco é a produção que está sendo feita pelo Heros, que já tem um Grammy, é um grande produtor, acrescentou muito na banda, não só na produção, mas também nas ideias. Tivemos ajuda de novo do Bruno Agra, nas letras e melodias, é um cara muito bom, a gente criou um vínculo bem legal com ele. A gente pode adiantar também que é um disco mais moderno do que o “Barbarians”, que é quase um metal tradicional com pitadas de power, esse álbum também é conceitual, fala do mesmo personagem, e é um disco que mescla temas épicos com influências thrash, mas também com elementos um pouco mais moderno, e aí quem acompanha a história vai entender o sentido disso ai também, não foi só porque a gente curte não, tem todo um tema e todo um conceito dessa proposta mais moderna e mais pesada. E aí está com previsão de lançamento lá para setembro, final do ano. Ai para o ano que vem, ou final desse ano, estamos planejando uma turnê bem grande para esse álbum.

Roadie Metal: Vocês ainda estão fazendo shows, ou estão se focando apenas no estúdio no momento?

Rafael: Nesse primeiro semestre a gente está bem focado no álbum, tivemos alguns convites de shows, alguns recusamos, mas outros ainda vamos fazer na turnê do “Barbarians”. A gente pretende também lançar um single desse novo álbum em breve, dentro de três ou quatro meses, ou até mesmo no meio do ano, nesse primeiro semestre a gente grava esse primeiro single, lança, e inclui ele em possíveis shows. Mas o foco agora é na produção desse álbum, que é bem trabalhado, estamos trabalhando nele há quatro ou cinco meses, foi um disco que a gente pré-produziu e ouvimos muito, essa última turnê a gente ouvia cada música umas dez vezes.

Tiago: A gente foi alterando alguns arranjos com o passar do tempo, acho que faz uns seis meses que a gente está mexendo nele, então ouvindo durante a turnê na Europa, na volta a gente já mexeu em algumas coisas, deixando a música mais limpa, então agora ele já está prontinho para ser gravado.

Roadie Metal: O novo disco já tem um nome?

Rafael: Já tem um nome, já tem um conceito, a gente já pode adiantar o nome em primeira mão para a Roadie Metal. Se chama ‘Viking Zombie’, é um tema ainda focado no viking, mas tem todo um conceito por trás que quem for sacar as letras depois vai entender o porquê desse nome.

Roadie Metal: Como foi fazer parte do cruzeiro do Motörhead?

Timo: Foi bem legal, teve comida e bebida 24 horas por dia, festa e um monte de banda boa, como Slayer e Anthrax, e a gente lá no meio, mar balançando. Foram três ou quatro dias de festa.

Rafael: Tinha dias que a gente até esquecia que iria tocar, porque já tinha visto tanto show. Fizemos dois shows no navio, é uma estrutura muito legal, e fora isso também foi um dos últimos shows do Motörhead, pra gente foi especial poder ver o Lemmy no palco dando tudo de si, dividindo palco com bandas gigantes, como Slayer, Anthrax, Exodus, Suicidal Tendencies. E muita banda nova como o Santa Cruz, da Finlândia. Também passamos por algumas turbulências, teve um tornado que passou perto e foi um pouco tenso em alguns momentos, mas por fim foi muito bom, e a gente acabou até mesmo fazendo um show em Miami após o cruzeiro, meio que um “after-party”, onde tocou outras bandas menores da viagem, foi um movimento mais underground que para gente foi muito importante, pois o pessoal da gravado foi ver esse show.

https://youtu.be/VUFMeURaaAk

Roadie Metal: Vocês estavam no palco durante o tornado em questão?

Tiago: Estávamos, era o nosso segundo show. Até para pisar nos pedais estava difícil, porque o navio balançava muito, a água a piscina depois era jogada fora por conta do balanço do mar. Óbvio que o navio desviou do principal foco do tornado, eles têm os radares, mas passou muito próximo e teve esse reflexo, foi tenso, parecia que estava o navio inteiro bêbado (risos).

Roadie Metal: Recentemente vocês lançaram o clipe “Beware Of The Dragon” nos cinemas, como isso ocorreu e como vocês avaliam o resultado?

Rafael: O resultado foi muito bom, foi acima do esperado porque o engajamento foi muito maior, porque o público foi atrás do clipe. Foi uma parceria com o Cinemark muito legal, eles provavelmente vão abrir isso para outras bandas também, e foi uma coisa inédita não só no Brasil, mas também no mundo, até onde eu sei, nesse formato de trailer, e há um impacto muito bom. A gente teve nossa pré-estreia onde a banda estava presente, e é emocionante ver um clipe nosso sendo exibido nas telonas, e a repercussão foi realmente muito boa, porque todo mundo que assiste comenta no vídeo, ver mais coisas da banda, então acredito que foi uma forma certa do trabalho essa exibição. E foi um clipe muito bem produzido pela produtor Liberta Filmes, que já trabalhou com o Megadeth e o Dee Snider.

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