Ser fã de uma banda não é, necessariamente, garantia de que se seguirá cada passo da mesma, indefinidamente. Artistas com discografias mais longas podem, rotineiramente, alienar alguns de seus apreciadores. Uma fase mais conturbada, uma sequência de discos menos inspirados, e o antigo apreciador se desanima, conhece outras bandas, segue adiante…
O velho fã de Uriah Heep, que curtiu a fase clássica do conjunto, e depois se desligou, abrirá um imenso sorriso assim que começar a audição do álbum “Wake The Sleeper”! Está tudo ali, como se o tempo não tivesse passado. A faixa título traz, em si, a inconfundível assinatura da banda, nos aspectos que melhor a caracterizaram e que a tornaram única e diferenciada. Os timbres, a levada, o wah-wah da guitarra, os coros… a única grande diferença está na letra minimalista, limitando-se a repetir o seu próprio título e funcionando extremamente bem na utilização desse recurso.
A bateria da faixa é algo que também se destaca. Os fãs já estavam previamente atentos em relação ao instrumento, pois precisavam avaliar como iria soar o novato Russell Gilbrook, que estava agora sentando no banquinho anteriormente ocupado pelo lendário Lee Kerslake, ausente da formação que por tanto tempo integrou, por motivos de saúde.
A batida de Russell é vigorosa e enche as faixas de vida, obtendo desde logo um excelente entrosamento com as linhas do veterano Trevor Bolder. As canções seguintes, “Overload” e “Tears of the World”, parecem ter sido diretamente recuperadas de algum arquivo secreto de sobras da fase do vocalista David Byron. São músicas que transpiram a aura heepiana em toda sua essência e a interpretação de Bernie Shaw, que desde 1986 carrega o legado das vozes que lhe precederam, abrilhanta o trabalho com feeling e emoção espontânea!
As composições, em sua maioria, possuem a assinatura conjunta do tecladista Phil Lanzon e do guitarrista Mick Box, único remanescente da formação original. A dupla não poupou inspiração e canções do naipe de “Light of a Thousand Stars” e “Book of Lies” demonstram isso com carisma e vigor. O único breve desvio está representado em “Heaven´s Rain”. Uma boa música, mas que soa comum quando comparada com as demais faixas do álbum. “What Kind of God” é a canção mais longa do disco e desenvolve os seus seis minutos e meio através de climas mais dramáticos e mudanças de andamento.
“Ghost of the Ocean” conclui a parte do tracklist assinada por Box e faz essa transição com as melodias de guitarra introdutórias que lhe são tradicionais. “Angels Walk With You” foi composta exclusivamente por Bolder, mas é Lanzon quem surge em primeiro plano, com um rápido e vibrante solo de teclado. É do tecladista a autoria da seguinte, “Shadow”, que cumpre bem o seu papel, mas não resiste perante a próxima, “War Child”, novamente de Bolder, que fecha o disco com um andamento marcado pelo peso absoluto. “Wake The Sleeper” tem predicados suficientes para ser listado entre os grandes trabalhos dessa banda e, considerando o nível e a excelência do que já foi realizado sob o nome de Uriah Heep, não são poucos os méritos que essa marca representa.
Uriah Heep – Wake The Sleeper (Sanctuary/Noise, 2008)
Músicas
01 Wake the Sleeper
02 Overload
03 Tears of the World
04 Light of a Thousand Stars
05 Heaven’s Rain
06 Book of Lies
07 What Kind of God
08 Ghost of the Ocean
09 Angels Walk with You (Trevor Bolder)
10 Shadow (Lanzon)
11 War Child (Bolder, Tony Gallagher)
Formação
Bernie Shaw – vocal
Mick Box – guitarra, vocal
Phil Lanzon – teclado, vocal
Trevor Bolder – baixo, vocal
Russell Gilbrook – bateria, vocal