O Heavy Metal brasileiro começou a explodir no início da década de 80 com pioneiras e corajosas bandas ainda lançando seus primeiros trabalhos no formato vinil, infelizmente nesse período tão difícil de economia e recursos escassos muitas bandas encerraram suas atividades e não tiveram a oportunidade de ver seus trabalhos lançados em novas mídias e o publico também ficou sem poder conferir muitos destes fabulosos álbuns.
Hoje em dia pode parecer estranho, mas para quem esta acostumado às facilidades da era digital nem imagina que naquela época não havia uma cena do Metal em si, basta citar que para comprar certos instrumentos você ía a loja, dava um sinal, o lojista mandava importar o item e depois de 3 meses ele ligava avisando que seu instrumento havia chegado à loja! O mesmo se dava com LPs, camisetas e afins, cujas pouquíssimas lojas tinham limitado material e eram desbravadoras! Os fanzines em xerox faziam as vezes de meios de comunicação e divulgação das bandas! Tempos heróicos!
Começamos aqui uma série de matérias onde traremos trabalhos de bandas de nosso Metal cujo conteúdo não alcançou a era digital e por seu valor histórico mereceria um relançamento! O intuito aqui é dar uma idéia da importância do trabalho em sua época, prometemos um resenha completa dos mesmos em outras oportunidades! Bem, então vamos lá falar um pouco de história do Metal!
Mitrium – Eyes of Time (1994)
O Mitrium chamou a atenção com o Ep “Eyes of Time” um disco dividido com a banda Sweet Pain, tendo em suas fileiras o vocalista Edu Falaschi ( Symbols, Angra, Almah) e seu irmão Tito Falaschi no baixo ( Com o qual montaria também mais tarde o Symbols). A banda trazia um Metal tradicional diferente, original e com personalidade, as 4 faixas de seu lado do disco Eyes of Time, Run from the Fire, Life so Close e The Shadows eram ótimas. O Mitrium foi o embrião de muita coisa boa surgida no Metal nos anos seguintes. Pelos músicos envolvidos, sua qualidade musical e lembrando as comemorações de 25 anos de carreira de um dos maiores vocalistas do Metal brasileiro, vale um relançamento urgente! (Lançado em LP).
Crosskill – Escape into Fantasies (1991)
Com certeza uma das maiores injustiças do Metal brasileiro, essa grandiosa banda de Natal/RN teve uma passagem meteórica na história do Metal mas que gerou o maravilhoso e essencial trabalho “Escape into Fantasies”.
A banda chamou a atenção como um quinteto gravando duas demos o que os fez serem convidados a gravarem a coletânea Whiplash Attack volume 1 em 1990 ao lado das bandas Deadly Fate, Hammeron e Auschwitz. Após algumas mudanças a banda se firmou como um trio e gravou em 1991 seu primeiro disco próprio pela Rock Brigade Records. Escape into Fantasies é um trabalho elaborado, cheio de detalhes com a perfeita sintonia entre seus músicos e pode ser considerado o primeiro disco de Metal conceitual brasileiro já que as músicas giravam em torno de uma única temática: – “Um homem que descontente com a realidade passa a viver dentro de suas próprias fantasias”. Todo o trabalho é primoroso com um pequeno destaque para faixas como Where Life Ends, In Quest of Truth, Days of no Trust, Wings of Destiny e a faixa-título pérolas da genialidade de músicos do Metal brasileiro. O Crosskill era Jucian Carlos (bateria), Erinaldo Soares (baixo) e Marcus André (guitarra e vocal). (Lançado em LP).
Cavalo Vapor – Little Greatest Hits (1997)
São Paulo sempre foi palco para o surgimento de grandes bandas de Hard Rock e o Cavalo Vapor não era excessão, quando a música “Sem Escalas” estourou em algumas FMs paulistas e a voz assombrosa de Nando Fernandes (Hangar,Souspell) se fez escutar ao lado daquela banda talentosa que ainda trazia o lendário Luiz Sacoman nas guitarras e o tarimbado Paulo Zinner na produção, música de verdade que inclusive conquistou os Headbangers mais radicais na época! Uma pena que a banda tenha ficado apenas neste trabalho que merece ser relembrado pela constelação de grandes músicos, composições e convidados envolvidos; um item essencial do melhor Hard Rock brazuca! (Lançado em LP e CD – esgotados).
Firebox – Out of Control (1992)
Tendo em seu line up os respeitados professores de guitarra Michel Périe (também responsável pelos vocais) e Marcelo Araújo; Luiz Mariutti (Angra, Shaman) que saiu para integrar o Angra dando lugar a J.B Neto e na bateria o lendário Paulo Thomaz (Centúrias, Baranga) com certeza este time já merecia o respeito na cena metálica que foi confirmado com o lançamento do ótimo Out of Control único trabalho da banda mostrando uma mistura de estilos que poderíamos chamar de um Heavy-Rock com personalidade e o vocal a la Lemmy de Michel comandando as canções, infelizmente o trabalho não teve uma divulgação à sua altura na época mas deixou honrosas linhas na história da música pesada brasileira. (Lançado em LP).
Clavion – Beyond the Frontier (1988)
Surgido com uma proposta bastante inteligente e com uma produção que mostrava um diferencial no final dos anos 80, a banda Clavion capitaneada pelo vocalista (e figura lendária da galeria do Rock em SP) Cirilo A.S. Jr que montou um time de respeito com Acacio Vaz nas guitarras, o grande Fabio Ribeiro nos teclados, Jameson Trezena no baixo e Francisco Mocinho na bateria.
O Clavion inovou em sua temática lírica e foi pioneira por fazer um Metal Progressivo quando este possuía raros adeptos em nossas terras. Músicas como Dreaming Hell, Just Love, Clavion e Fiery Death mostravam toda a técnica e talento deste quinteto mágico, triste que um trabalho deste porte tenha ficado esquecido. A banda ainda lançaria em 2006 o CD “Strange Universe” mas sem o time mágico de antes, o trabalho passou despercebido. (Lançado em LP).
Corpse – I Live, You Die – (1990)
Mais uma brilhante banda esquecida no caldeirão de talentos de São Paulo. Executando um Thrash Metal técnico e contagiante os rapazes do Corpse chamaram a atenção no meio com a poderosa e elogiada demo “Reason to Kill” de 1988. Em 1990 lançaram pelo obscuro selo DRZ seu LP “I Live, You Die” cuja repercussão foi muito boa na época, tendo sido distribuído inclusive na Europa. Impossível não se empolgar com faixas como Slaves of Our Inventions, Toxic Death, Reason to Kill e a maravilhosa faixa título. Um time que privilegiava o groove com guitarras bem sacadas e técnicas. Com certeza se tivessem prosseguido teriam seguido os passos do sucesso de um Sepultura dado o talento do quarteto! O Corpse era formado por Marcelo Fonseca (vocais, guitarra), Luiz Hess (Guitarra), Fabio Russo (Drums) e Marcos Khalil (baixo). (Lançado em LP).
Revenge – Rhapsody From Brontoland (1990)
Se há um exemplo de banda que se sente ódio por não terem prosseguido, com certeza é o Revenge! Formada e capitaneada pelo fenomenal guitarrista Affonso Jr. em 1987, lançaram em 1989 a elogiadíssima demo “Feel the Rage” que chamou a atenção da gravadora Heavy Metal Maniac que assinou com o grupo para lançarem no ano seguinte o irretocável “Rhapsody from Brontoland” que possui uma das melhores capas já feitas no Heavy Metal a cargo do grande artista Marcatti. O trabalho contou além de Affonso Jr. nas guitarras e violões, com o excelente Fernando (vocais), Marcos (baixo) e Junior (bateria), todos exímios músicos que fizeram de Rhapsody from Brontoland um disco mágico onde “Melodie por Une Temps” é na opinião deste redator um dos maiores hinos do Metal nacional! Tente ainda passar incólume por pedradas como Atlantis, Thrash Legions e Dark Lands. Uma fusão perfeita entre o Metal Tradicional/Speed e a música clássica. (Lançado em LP).
Psychic Possessor – Toxin Diffusion (1988)
O Psychic Possessor chamou a atenção por ser inovador, seu som direto, pesado e com afinação mais baixa era algo assustador até para os parâmetros da época, o que chamou a atenção do folclórico Zhema Rodero da banda Vulcano que produziu a primeira demo da banda. Dois anos depois a banda consegue um contrato com a Cogumelo Records, tendo o guitarrista e vocalista Zé Flávio, o baixista Lauro neto e o baterista convidado Arthur Von Barbarian, assim entram em estúdio para registrar o clássico Toxin Diffusion uma dinamite de Crossover trazendo a simplicidade e crueza do hardcore com a rapidez e guitarras fantásticas do Metal. Músicas como a faixa-título, Manipulation, Zombies Night e a empolgante First District fizeram o disco ser um sucesso de crítica apesar de não alcançar altas vendagens. A banda ainda lançaria em 1989 o disco “Nós somos a América Latina” todo em português e Hardcore com uma nova formação, inexplicavelmente a Cogumelo lançou em 2002 este trabalho em CD , esquecendo-se de Toxin Diffusion, com certeza um trabalho de força e originalidade, quedeixou muita influência entre as bandas e é essencial ainda hoje. (Lançado em LP).
Vodu – Seeds of Destruction (1988)
Muitos irão cobrar aqui a presença do primeiro CD desta pioneira e inovadora banda chamado “The Final Conflict” de 86, pioneiro e essencial, mas com certeza foi Seeds of destruction que mostrou todo o poder de fogo da banda entrando definitivamente nos corações e mentes dos Metalheads da época.
O Vodu era essencialmente uma banda de Power/Speed Metal mas que flertava com outros estilos o que dava à banda uma sonoridade original e diferenciada em Seeds of Destruction a banda alcançou seu auge criativo e técnico. Músicas como a faixa- título, Nothing to Loose, o hino What´s the Reason, a hardcore Keep Fighting, From this Time são mostras de como o metal brasileiro em cua criatividade e força é um dos melhores do mundo.
André Pomba Cagni, o “Steve Harris brasileiro” (baixo), Sergio Facci (bateria -Volkanas, Viper) e Claudio Victorazzo (vocals) são heróis do metal nacional! Ainda formavam a banda a genial dupla de guitarristas Victor Birner e Paulo Lanfranchi. A banda ainda lançaria o EP No Way e o disco Endless Trip, sem a força e sucesso de Seeds of Destruction, uma peça essencial que merece reaparecer! (Lançado em LP).
Inox – Inox (1986)
Num 1986 em que a imprensa e alguns empresários da música já começavam a entender o estilo e levar o Metal a sério, surgiu o que poderia se considerar a primeira “superbanda” do estilo no país ( como bem observou o jornalista Antonio Carlos monteiro). Assim, o monstro baterista Rolando Castello (Made in Brazil, Patrulha do Espaço) se juntou a ele o guitarrista Fernando Costa, o vocalista Paulinho Toledo e o baixista Segis Capuano, todos figuras tarimbadas no meio Rock/Heavy tupiniquim. O Quarteto conseguiu um sonho de muitos na época, um contrato com a major Epic e o clima era mais que favorável com a banda gravando um trabalho de Heavy/Hard do mais alto nível inclusive vendendo muito bem, mas por um destes ocasos que só a mente dos donos de gravadoras conseguem explicar, a Epic não quiz assinar com a banda para um segundo trabalho, ficando apenas este registro histórico destes superstars da música pesada brazuca. (Lançado em LP).
Aguarde a Parte 2 de nossa matéria! Você pode opinar e dar sugestões de outros itens que mereciam estar aqui, deixe aqui sua opinião!