Hoje é dia de Tá Na Letra! No Tá Na Letra você fica por dentro de interpretações sobre o significado das músicas. Claro que interpretações distintas são válidas, afinal, a arte não possui verdade absoluta e cada um entende a mensagem de uma forma. Aqui nesta série tentamos colocar apenas mais uma possível compreensão da música. A música de hoje é Mercador das Almas da banda Detonautas Roque Clube.
Detonautas Roque Clube é uma banda brasileira de rock formada em 1997 na cidade do Rio de Janeiro, geralmente as letras de suas canções referem-se a amor, violência e corrupção, uma preocupação com a cidadania que marca o perfil de luta social e política da banda. A sonoridade da banda não segue um padrão, cada integrante incorpora um pouco de suas influências e faz com que a sonoridade da banda seja bem abrangente e variável.
A música escolhida de hoje se chama Mercador das Almas e se encontra no álbum Roque Marciano, lançado pela banda Detonautas Roque Clube em 2004. A faixa foi composta por Rodrigo Netto e Tico Santa Cruz.
Mercador das Almas
Seus olhos rasos d´agua
revelam sua dor
Perde um espaço no céu
luta pra não se entregar e viver
Vende o corpo, vende a alma, vendo tudo, vende bem que vende bem
Trabalha pelas sombras escondido que o lucro é garantido
e não se importa mais com a vida de ninguém
Perde um espaço no céu
luta pra não se entregar e viver
Tem pra quem tem 100 tem pra quem vem sem
Sai daqui quem não presta
Vamos acabar com essa festa
Quando o sangue esquenta é fatal
Eu já não estou mais assim tão normal
A música é bem intensa e direta ao assunto: fala de pessoas que vivem no submundo, como traficantes de drogas, usuário e pessoas que vivem da cafetinagem e prostituição, por exemplo. A música não apresenta muita letra, mas mesmo assim, toda a letra que tem apresenta o tema e as consequências de uma vida desta forma, falando de: remorso, de luta para sobreviver, de procura por uma vida melhor e, também, apresenta condenação para quem manipula a vida dos outros, seja com droga, seja com o fato de administrar um grupo de pessoas que vendem seu corpo na prostituição.
O primeiro verso da música já revela o choro e a angústia de viver no submundo “Seus Olhos Rasos d’água revelam sua dor”: representa o remorso de alguém que vive do vício alheio, representa a dor de alguém que quer sair da vida de usuário e luta, porém não consegue se libertar do vício e ainda segue comprando e fazendo parte deste submundo, representa também a vida de alguém que só encontrou saída para sobreviver tendo como forma de ganhar dinheiro a prostituição, porém que deseja mudar de vida e chora por não ver outra saída.
“Perde um espaço no céu, luta pra não se entregar e viver” representa a culpa na mão dos traficantes por espalharem as drogas e, muitas vezes, consequências negativas na vida dos viciados. Representa a própria derrota do viciado, pois muitas vezes ele luta para sair do vício, sair do submundo e não consegue; luta para não se entregar e ainda tem esperanças de viver fora do vício, mesmo que ainda não tenha vencido. Representa também a vida de quem oferece o corpo alheio como produto, apenas usufruindo do lucro que a prostituição alheia lhe traz e tratando outras pessoas como um mero objeto lucrativo.
O refrão apresenta o fato de vender tudo para ter dinheiro, não importa como e não importa o quê. Para quem vive desta prática, o que importa é o lucro, o que acontece com as pessoas ao redor deixa de ser problema dele. Ter lucro no submundo e viver dele, mesmo que isso custe a saúde ou a vida dos outros, é a forma que escolheram para viver: o que precisar ser vendido, será. Não importa se o pagamento é à vista ou se receberá depois, no submundo não há calote: ou paga em dinheiro ou paga com a própria vida, pois “o lucro é garantido”.
Quando a música diz “Vende o corpo, vende a alma” diz que, além de vender o que puder, aceita sua condição nefasta de abusar da vida das pessoas e não se importar com isso: recebendo a grana na sua mão, pouco importa o que acontece com os outros. Vender a alma é o mesmo que fazer parte deste mundo e deixar de ter empatia, deixar de se importar com os danos que pode causar, é deixar de sentir a dor alheia.
“Sai daqui quem não presta e vamos acabar com essa festa” representa um basta nesta situação: as coisas não podem continuar assim. As pessoas que abusam das outras apenas por lucro têm que pagar por isso e parar de cometerem seus crimes.
“Quando o sangue esquenta é fatal e eu já não to mais assim tão normal” representa tanto a raiva de ver a impunidade diante de seus olhos e cansar de lavar suas próprias mão perante a situação quanto a situação de um viciado após consumir os produtos. Algo precisa ser feito para que a situação mude, apenas ver a situação e ter raiva não vai mudar sem uma atitude e, claro, continuar alimentando o sistema também não mudará nada.
A vida no submundo tem suas próprias filosofias e suas próprias regras: quem alimenta o consumo dos prazeres, seja no sexo ou nas drogas, alimenta a condição a que as vítimas se encontram. O remorso e a luta para uma possível mudança de vida se apresentam constantemente, mas nem todos conseguem vencer a batalha. Brincar com a vida das pessoas e lucrar em cima disso pode trazer sérias consequências e, claro, apresenta o caráter sujo que estas pessoas têm.
