Que tal entrar em uma maquina do tempo e rever, ou matar a vontade já que não tinha idade suficiente para ter ido, o primeiro show dos finlandeses do Stratovarius em São Paulo?
Antes de tudo é preciso deixar bem claro que a banda era extremamente popular entre os ‘bangers’ brazucas naquela época.
O álbum Episode (1996) vendeu como pastel em dia de feira. Se a pessoa gostava de ‘power metal’, certeza que ela tinha uma cópia na sua coleção. A balada ‘Forever’ chegou fazer parte das programações diárias das rádios rock paulistanas.
Era a formação mais coesa que Stratovarius já teve, com Timo Kotipelto, que entrou na banda em 1994 e já figurava entre os principais cantores do estilo; Timo Tolkki, o então líder e principal compositor na guitarra; o firme Jari Kainulainen no baixo; o ex-Yngwie Malmsteen Jens Johansson nos teclados; e o rolo compressor Jörg Michael na bateria.
Com essa escalação estelar entram no estúdio e gravam em 1997 o disco que para muitos é o seu principal, ‘Visions’.
Recheado de músicas que se tornariam obrigatórias em seus shows dali em diante, é claro que o CD foi muito bem recebido pelos fãs e até pela exigente crítica especializada.
A tour do ‘Visions’ foi extensa passando vários países, como EUA, Dinamarca, Grécia, Japão, Alemanha, Finlândia, Suíça, Suécia, Inglaterra e claro, Brasil. Esta tour serviu para as gravações do CD ‘Visions of Europe’, que trata-se de um álbum duplo ao vivo que seria lançado no ano seguinte.
Bom, mas vamos falar agora do dia 7 de novembro de 1997.
Era uma sexta e graças às produtoras Empire Music e Laser Company eu estava me dirigindo para a velha Mooca para ter a oportunidade de conferir essa grande banda na sua melhor fase até então. O local eu já conhecia bem, tinha assistido uns meses antes ao Gamma Ray, também em sua primeira passagem pelo Brasil, só que o nome estava diferente. Substituíram Teatro dos vampiros e passou a ser chamado de Meridian. Era um galpão bem amplo com algumas colunas que prejudicavam um pouco a visão em certos pontos. Mas nada que se chegando um pouco mais cedo não se resolvesse. E por mais amplo que o Meridian fosse, ele foi pequeno naquela noite devido a grande quantidade de fãs que compareceram.
A abertura ficou por conta da boa banda Wizards, que além dessa noite já havia realizado algumas outras participações com outros nomes famosos, como Paul di’anno naquele mesmo ano de 1997, em outra saudosa casa de espetáculos paulistana, o Palace.
Tocaram seu repertório normal e para melhorar a recepção pelos mais impacientes que queriam ver logo o Stratovarius no palco, nada como encaixar umas boas covers do Helloween e do Madman, Ozzy Osbourne. Funcionou, geralmente isso funciona.
Finalmente depois de uma bela espera o lugar quase veio abaixo com a banda mandando de cara ‘Forever free’ e ‘Kiss of Judas’. A plateia estava conquistada e daí em diante não tinha mais como dar nada errado.
O que mais agitou foi o comunicativo Timo Kotipelto, cumprindo bem seu papel de frontman. Os demais ficaram mais centrados em seus instrumentos esbanjando técnica e talento.
Nunca gostei dos tais ‘solos individuais’, mas o que o Jörg Michael fez com a pobre bateria foi incrível. Espancou sem dó com muita agilidade. Umas dos melhores solos que já tinha visto.
Aquela media de entrar no bis com as camisas da seleção canarinho fez parte do show, que por sinal passou de 1h40m.
Nesse espaço de tempo executaram clássicos como ‘Distant Skies’ do excelente álbum ‘Fourth Dimension’; ‘Father Time’;
‘Will the Sun Rise?’; a veloz ‘Speed of Light’; ‘Season of Change’ e a balada ‘Forever’, que foi cantada até por quem não conhecia a letra. Todas faixas do ‘Episode’.
Além das já citadas ‘Forever free’ e ‘Kiss of Judas’, o disco ‘Visions’ foi muito bem representado com as ótimas “Black Diamond’,‘Paradise’, a épica ‘Visions (Southern Cross)’ e ‘The Abyss of Your Eyes’.
Com um ‘setlist’ desses era fácil olhar para os lados e ver a alegria e satisfação de todos os presentes. Assisti ao Stratovarius em outras oportunidades, inclusive sua última passagem aqui por São Paulo em fevereiro de 2016, mas nenhuma se compara a essa.
Estavam com um grande disco na manga e com sua formação clássica. E quando se consegue unir essas suas situações não tem erro. Pode se preparar para assistir um show inesquecível e esse foi um desses.
Esse é o meu ponto de vista em relação aquele show, aquele dia, aquele momento. Guardo o canhoto do meu ingresso assim como essas lembranças, que mesmo depois de 20 anos continuam vivas.