Não vou negar, minha relação com o Kiss nunca foi das mais empolgantes; claro, aprecio demais todo o seu material lançado nos anos 70, mas, após um início promissor na década de 80, com Creatures of the Night, “a receita desandou”. Com o grupo cedendo às tentações do Hard/Glam (nada contra o estilo, ok?), descaracterizando assim seu som. O sucesso foi mantido? Sim, mas a música produzida nessa fase passa longe de empolgar, ao menos a mim. A coisa parecia ter mudado com o lançamento do ótimo Revenge (91), mas aí a reunião de sua formação clássica colocou tudo a perder. Foi ótimo para os fãs? Foi fantástico do ponto de vista financeiro? A resposta é sim para ambos questionamentos, mas, do ponto de vista musical, a coisa simplesmente não empolgou.

Na época do lançamento de Monster, minha empolgação era zero: não esperava nada mais vindo do Kiss depois do fraco Psycho Circus – o que você não lança para satisfazer os fãs e ganhar dinheiro fácil, não é? – e do apenas razoável Sonic Boom. Aliás, a respeito desse último, vale dizer que, apesar de não soar empolgante, mostrava uma banda que soava menos pomposa que em álbuns anteriores. Aqui está o ponto de partida para falarmos de Monster, o 20º trabalho de estúdio do grupo. Os bons resultados comerciais obtidos por Sonic Boom parecem ter aberto os olhos da dupla Paul e Gene, principalmente deste último, sobre qual era o verdadeiro anseio dos fãs. Em que isso resulta? O Kiss entrando em um DeLorean, mas indo de volta para o passado.

Sim, Monster é um retorno àquela sonoridade clássica dos anos 70: produzido por Paul Stanley e Greg Collins, que já haviam trabalhado juntos em Sonic Boom, investiram em uma gravação totalmente analógica, que deixou seu som mais orgânico e encorpado, e principalmente, se despiram de toda e qualquer pompa. Descartados os excessos, tanto musicais quanto os de produção, o que sobrou foi uma música pesada, enérgica e muito vigorosa. Se Paul Stanley não tem mais aquela voz do passado, ao menos aqui, em estúdio, consegue se mostrar um vocalista acima da média, apostado mais nas melodias do que em qualquer outra coisa. Gene também não fica atrás, e se mostra competente como sempre nos vocais, além de fazer um trabalho marcante no baixo. Tommy Thayer se mostra o cara certo para o posto de guitarrista do Kiss, brilhando em diversos momentos, principalmente nos solos. Ele definitivamente deu outra vida ao Kiss. E quanto a Eric Singer, bem, todos conhecemos o seu currículo e talento.

Desde a abertura, com a empolgante e vigorosa “Hell Or Hallelujah”, percebemos que estamos diante de um álbum diferenciado. A sequência com a cadenciada e melódica “Wall Of Sound” e “Freak”, confirmam a impressão inicial. Se lançada algumas décadas atrás, “Back To The Stone Age” teria tudo para se tornar clássica, graças a seus riffs fortes, ao ótimo refrão e aos vocais de Gene. “Shout Mercy” tem bom peso, enquanto “Long Way Down” vai inevitavelmente te remeter a “Shapes of Things”, do Jeff Back Group. “Eat Your Heart Out” poderia estar em qualquer álbum clássico da banda nos anos 70, com seu refrão grudento e ótimo solo, e é minha faixa preferida aqui. “The Devil Is Me” tem uma pegada mais soturna, peso e boas melodias, e a empolgante “Outta This World” se destaca principalmente pelos vocais de Tommy. Na melodiosa “All For The Love Of Rock & Roll”, os vocais são assumidos por Singer, que realiza um ótimo trabalho. Encerrando, temos a ótima “Take Me Down Below”, onde os vocais são divididos entre Paul e Gene, e a empolgante “Last Chance”. O final perfeito para um álbum empolgante, inspirado, e que prova que quando quer, o Kiss consegue deixar o dinheiro fácil de lado e fazer música de muita qualidade.

Formação:
– Paul Stanley (vocal/guitarra);
– Gene Simmons (vocal/baixo);
– Tommy Thayer (guitarra);
– Eric Singer (bateria).
Faixas:
01. Hell Or Hell Or Hallelujah
02. Wall Of Sound
03. Freak
04. Back To The Stone Age
05. Shout Mercy
06. Long Way Down
07. Eat Your Heart Out
08. The Devil Is Me
09. Outta This World
10. All For The Love Of Rock & Roll
11. Take Me Down Below
12. Last Chance