As máximas de sabedoria nunca nos decepcionam. Sempre podemos aprender com elas. Podemos, por exemplo, recordar que a história se repete em ciclos e, por isso, usar os exemplos do passado para enfrentar melhor os fatos presentes.

Mantenha isso em mente na próxima vez que lamentar que aquele músico, de sua banda favorita, resolveu abandonar o barco e partir para um novo projeto. Nunca se sabe quando esses eventos poderão reverter em algo tão brilhante quanto o grupo de origem. Ou você não acha que a saída de Ritchie Blackmore do Deep Purple não foi uma notícia de impacto? Imagine-se como fã de Rock pesado em 1975, deparando-se com esse fato. As pedras, no entanto, rolaram como sempre e separam-se em uma perfeita bifurcação. O Deep Purple encontrou Tommy Bolin e pariu o belíssimo “Come Taste The Band” e, Blackmore, gestou o Rainbow.

E nós, do lado de fora das caixas de som, fomos felizes para sempre ao final da história. Ainda bem que aconteceu! Ainda bem que Ritchie, em sua ilimitada ranhetice, irritou-se e abandonou o Purple, porque nós precisávamos que o Rainbow existisse! Nós precisávamos que Blackmore e Ronnie James Dio cruzassem seus caminhos e nos dessem aqueles três álbuns fundamentais para a história do Heavy Metal e, sem os quais, muito do que veio depois poderia ou não ter existido, ou ser bem diferenciado, principalmente quando direcionamos o foco para as bandas que consagraram-se no estilo que veio a ser conhecido como Metal melódico.

Dio e Blackmore mantiveram a parceria criativa que tiveram no álbum anterior e compuseram juntos todas as faixas de “Rising”. Uma obra desse naipe exigiu, também, uma reforçada na banda que os acompanhava e, portanto, foram convocados o tecladista Tony Carey, o baixista Jimmy Bain e o insuperável baterista Cozy Powell que, à época, já ostentava a participação em dois álbuns de Jeff Beck no currículo.

Embalado pela bela capa desenhada pelo artista Ken Kelly, responsável também por trabalhos do Kiss e do Manowar, além de diversas ilustrações para as revistas do personagem Conan, o disco é literalmente matador naquele que, em sua versão em vinil, seria seu lado A. Abrindo com “Tarot Woman”, que tem uma daquelas introduções que só Blackmore é capaz de conceber, e transitando por grandes faixas como “Run With The Wolf”, “Do You Close Your Eyes” e “Starstruck”, cuja condução traz ainda muito de Deep Purple em seu DNA, “Rising” já se impunha como antológico.

Mas esse lado A teria que ser matador mesmo, pois, o que vem no lado B, não só extrapola o próprio disco, como supera, à época e até hoje, muito do que foi feito na música pesada. Duas músicas, divididas numa sequência de 16 minutos, incorporando o auge do Rainbow e da capacidade de Blackmore em fundir o Rock com a música clássica. “A Light In The Black”, mais rápida e dinâmica e “Stargazer”, cujo mais adequado adjetivo seria grandiosa, com aquela melodia usada no refrão, acompanhada da Orquestra Filarmônica de Munique, cidade onde o disco foi gravado, sob a supervisão do também genial Martin Birch, ultimando em um dos momentos mais solenes e belos de nosso estilo musical.

A fase de Dio no Rainbow gerou apenas três discos, mas que, juntos, incorporam mais significado e relevância do que tantas discografias mais extensas por aí. No final desse arco-iris havia realmente um pote de ouro e, infelizmente, o desejo por mais riqueza mudou a posição do arco-iris entre as nuvens. Mas, já foi dito lá em cima: as mudanças tanto são feridas quanto são bálsamos. Se Dio não tivesse debandado do Rainbow, não teríamos o disco “Heaven And Hell” do Black Sabbath, para ficarmos em apenas um exemplo. Então, prossigamos! Cultuemos o passado e aproveitemos o presente, continuando na expectativa de que algo inovador sempre nos espera no futuro.

Formação:
Ronnie James Dio (R.I.P. 2010) (vocal);
Ritchie Blackmore (guitarra);
Jimmy Bain (R.I.P. 2016) (baixo);
Cozy Powell (R.I.P. 1998) (bateria);
Tony Carey (teclado).

Faixas:
01 – Tarot Woman
02 – Run with the Wolf
03 – Starstruck
04 – Do You Close Your Eyes
05 – Stargazer
06 – A Light in the Black