Será que eu preciso, realmente, meter meu pé na porta para segurar meu lado fã do lado de fora, e impedi-lo de entrar para tomar conta deste texto? Será que isso não seria um exercício inútil de contenção, já que estamos falando de Jeff Beck, o maior guitarrista vivo, e de “Blow By Blow”, um de seus principais discos?

Em 1965, Beck já estava na ativa, gravando com os Yardbirds, e permanece, até os dias de hoje, ativo e relevante – muito relevante! Em dez anos de carreira, ele passou do Yardbirds para a formação de sua própria banda, o Jeff Beck Group, que lançou quatro álbuns e revelou o cantor Rod Stewart. Dissolvido o Jeff Beck Group, uniu-se ao baixista Tim Bogert e ao baterista Carmine Appice para a formação do Beck Bogert & Appice, que lançou um antológico disco e também se dissolveu. Cansado das tentativas de ter uma banda estável, o temperamental guitarrista resolveu abraçar de vez a aventura solo e estreou, em 1975, com o disco “Blow By Blow”, inteiramente instrumental e totalmente mergulhado nos meandros do Jazz Rock. Acompanhado pelo tecladista Max Middleton, pelo baterista Richard Bailey e pelo baixista Phil Chen, Beck abre o disco com “You Know What I Mean”, composta por ele e por Middleton, e que traz, em sua condução, uma grande influência de Funk e Soul, tendência que se verificará em diversos outros momentos ao longo do disco.

Sob as benção do maestro George Martin, produtor do disco, Beck regravou “She´s A Woman”, dos Beatles, com uma levada reggae e uso dos efeitos de Talk Box. Mas é em “Constipated Duck” que as coisas começam a esquentar de fato, com todos os músicos se empenhando na melhor quebradeira que você pode imaginar, que prossegue forte em “Air Blower”, com créditos de composição de toda a banda, e que atinge o mais elevado grau de perfeição na clássica “Scatterbrain”, um de seus números mais reconhecidos.

Beck não é um guitarrista de um milhão de notas. Tal qual um David Gilmour, ele expressa uma infinidade de idéias e emoções sem deixar de inserir a nota certa no momento certo. Se dependesse de seu perfeccionismo, ele teria feito várias regravações para os solos do álbum, mas foi barrado por George Martin com a simples explicação de que não havia mais o que fazer, pois o disco já estava nas lojas. Nós, mortais, escutamos “Cause We´ve Ended As Lovers”, de autoria de Stevie Wonder, e não conseguimos compreender o que poderia ser melhorado. Da mesma forma, não há o que alterar na homenagem ao pianista Thelonious Monk, intitulada simplesmente de “Thelonius”, e também composta por  Wonder, que participa da faixa tocando clavinete.

“Freeway Jam” demonstra que a música não precisa de letras para transmitir uma mensagem, pois tal qual seu título sugere, ela consegue passar-nos a plenitude do movimento em uma ampla autoestrada, que nos conduz até a chegada de “Diamond Dust”, um momento de serenidade quase cinematográfica e que é o ponto final do trajeto pelo qual Beck nos conduziu. O guitarrista, que é tão inquieto quanto criativo, ainda faria diversas experiências sonoras ao longo dos anos, mas o melhor de sua produção são os trabalhos que possuem a diretriz que ele abriu em “Blow By Blow”.

Músicas

01-You Know What I Mean

02-She’s a Woman

03-Constipated Duck

04-Air Blower

05-Scatterbrain

06-Cause We’ve Ended as Lovers

07-Thelonius

08-Freeway Jam

09-Diamond Dust