Na última sexta (08), Curitiba recebeu a banda paulista Claustrofobia, no Hangar – Casa do Ócio, terceira encarnação da aclamada casa de shows curitibana que tem atraído bandas cada vez maiores, como Thirsty of Hate, Gangrena Gasosa, Surra, Violência Moral e agora Claustrofobia.
Foi a quarta passagem da banda por Curitiba, tendo a última sido em 2009, na segunda encarnação do Hangar, na época chamado somente de Hangar Bar. É claro que, em comparação com esta última apresentação, a banda voltou com um destaque e uma atenção bem maiores, considerando que recentemente a banda realizou turnê internacional e, neste ano, apresentou-se no Rock in Rio ao lado do Torture Squad.

Cartaz oficial do evento.

Antes do show, porém, a banda realizou um workshop no próprio Hangar, iniciado por uma jam de uma música que ainda está em processo de composição. Durante o workshop, o Claustrofobia contou um pouco de sua trajetória como banda, desde o início quando Marcus D’Angelo fazia aulas de violão clássico, à ideia da mãe dele de colocar seu irmão, Caio D’Angelo, para tocar bateria na banda que desejava formar. A banda também falou de outros pontos importantes de sua carreira, como a entrada de Rafael Yamada na banda, considerado pelos irmãos Marcus e Caio como o primeiro baixista que realmente mostrou comprometimento com a banda na mesma medida que eles; a turnê pelos Estados Unidos também, na qual, ressaltaram os músicos, eles notaram a diferença entre a visão que os americanos têm de um músico e a visão que os brasileiros tem. “O Marcus falou lá num momento que se você comenta aqui que tem uma banda, que vive de música, ou que toca metal, e maioria das pessoas vai falar que você é vagabundo, drogado, porque ‘artista nem é gente’, e lá não (pelo menos foi a impressão deles),ele falou, quando você fala que tem banda, que toca metal, as pessoas se interessam, perguntam sobre, tratam realmente como uma profissão”, relatou Angie Ramms, vocalista da banda Molt, que contou os detalhes sobre o workshop (pois não pude comparecer no horário). Entre outros assuntos, os músicos contaram sobre como funciona o processo de composição da banda e houve um espaço para que Yamada falasse um pouco sobre sua entrada na banda e sobre sua história como baixista. A banda ainda ressaltou que a falta de conhecimento teórico de música foi um dos responsáveis para que, nos primeiros álbuns, o Claustrofobia criasse um som com sua própria identidade, pois, segundo o que Angie conta que foi dito, Marcus falou que não imitava outros músicos famosos por falta de habilidade na época, criando o som que ele conseguia tocar e gostava. O workshop durou cerca de uma hora e era necessário fazer uma inscrição prévia (sem preço adicional) para ter acesso.

Workshop antes do show.
Foto: Hangar – Casa do Ócio

Às 21 horas, as portas do Hangar se abriram para receber o público para o show.
A primeira banda, a extremamente popular, vinda de Campina Grande do Sul, Atrocitus, estava programada para iniciar seu show às 22:30, porém, devido a problemas técnicos com o equipamento da casa, o show só pode iniciar após as 23:00. Mesmo assim, os jovens meninos fizeram o show da forma que haviam programado, levando o público ( que ainda era pequeno por estar relativamente cedo) à loucura com seu som death/thrash e sua energia absurda em palco. Durante a música “Salvação”, a banda realizou seu clássico ritual de dividir uma garrafa de vinho com o público, que é algo sempre muito esperado pelos que já acompanham a banda. Ao final, os amigos da banda ainda pediram que a banda tocasse “Roots Bloody Roots”, do Sepultura, cover que a banda faz de maneira única.

O setlist da banda Atrocitus foi o seguinte:

  1. Fear’s Home/ Self Destruction
  2. Epitaph
  3. Salvação
  4. Demon’s Lullaby
  5. Repulsa
  6. Just Accept
    *Encore*
  7. Roots Bloody Roots (Sepultura cover)

Em seguida, o palco já foi rapidamente agilizado para a próxima banda: Exylle, banda de thrash metal que está, a cada dia, conquistando mais destaque na cena curitibana. Neste ano a banda completou 5 anos de existência e lançou seu primeiro álbum, intitulado “Exylle” e já abriu o show do Torture Squad em Curitiba, tendo sido também escalada para abrir, no ano que vem, o show da banda Benediction.
Devido ao tempo curto, a banda fez um set de apenas 6 músicas, todas presentes em seu álbum de estreia. No início da primeira música, “I’m Neither Innocent”, já percebe-se o profissionalismo da banda em sua dinâmica de palco e posicionamento. Mesmo com pouco tempo, a banda conseguiu trazer muita energia para o seu show e manter o público aquecido para o que estava por vir. O vocalista, Victor ‘Victão’ Batista, ainda fez questão de declarar a honra que a banda sentia por estar abrindo o show do Claustrofobia, que, segundo eles, é a maior inspiração da Exylle a nível nacional.

Setlist da banda Exylle:

  1. I’m Neither Innocent
  2. God Decreed to Rape
  3. Legacy of Chaos
  4. G.A
  5. Immortal Dies
  6. Burn Your Leaders

Por último, antes da atração principal da noite, subiu ao palco a banda de death/grind Chubasa, a qual os presentes estavam especulando se ia mesmo se apresentar ou não, devido aos atrasos da noite. Esta banda eu particularmente considero uma banda única no cenário curitibano, quiçá no cenário nacional: uma banda de metal extremo sem guitarrista. Chubasa é um power trio formado por volta de 2013 com a característica de apresentar dois baixistas: Fernando Grommtt, que faz o baixo “solo”, tocando em regiões mais agudas e fazendo solos; e Michael ‘Mike’ Livorum, que faz o baixo “base”, que realmente exerce a função mais padrão de um baixo. Ambos são ainda vocalistas da banda, dando uma dinâmica de vozes sensacional às músicas.
A banda, devido a todos os atrasos, teve que reduzir seu set de 8 músicas para apenas 5, mas isto não impediu o show de ser fenomenal como sempre.

Setlist do Chubasa:

  1. Introduzindo!!!
  2. Mórbidas Criaturas
  3. Brutal Satisfação
  4. Amanitas Pantherinas
  5. Vazio Como Carne Morta

Finalmente, após o show do Chubasa, vimos a equipe técnica tirar o pano que cobria a bateria de Caio D’Angelo e, por volta de 1:20 da manhã, começou a tocar um samba de escola nos P.A’s e vimos o trio Claustrofobia entrar no palco. A banda iniciou o show com “Swamp Loco”, levando a casa ( que agora se encontrava com aproximadamente 100 espectadores) à loucura. Ao vivo, demonstraram que não é preciso mais do que três membros para fazer um som extremamente pesado e de qualidade. Foi também uma ótima oportunidade para antigos fãs do Claustrofobia e para os fãs de Project46 verem de perto o novo baixista, Rafael Yamada, tocando com os irmãos D’Angelo.

Foto: Hangar – Casa do Ócio

Não há o que criticar sobre o show, um show direto, rápido, pesado e com execução impecável. O membro talvez com menos movimentação da formação era Marcus D’Angelo, vocalista e guitarrista, que para executar as duas funções da maneira incrível com a que executou, não podia sair muito de sua posição. Mas, se de um lado Marcus tinha que ficar um tanto quanto parado, do outro lado Yamada não perdia a oportunidade de banguear, pular, se abaixar e, sobretudo, fazer o famoso windmill com seu cabelo que alcança a cintura. No Claustrofobia, Yamada repete ainda um de seus destaques na época que estava no Project46: ser um ótimo backing vocal e até, quando lhe dada a oportunidade, um segundo vocalista de muita qualidade, com um vocal enérgico que acompanha a agressividade de suas mãos no baixo. Caio D’Angelo então, nem há o que comentar em quesito de movimentação e energia: uma máquina sem pausa que toca a caixa da bateria com uma força que faz com que a microfonação desta peça seja desnecessária. Caio, além de ser um baterista tecnicamente muito bom, parece ter um metrônomo dentro da cabeça, pois mesmo com as variações de velocidade características das músicas do Claustrofobia, não erra uma só batida no show todo.
O show se seguiu por aproximadamente uma hora, na qual os fãs não tiveram um único momento de descanso, tendo inclusive mais de uma vez subido ao palco para se jogar e fazer um crowd surfing. Na última música, a clássica “Peste”, o público entoava em uma só voz os versos ” é pior que febre, Claustrofobia é peste” até o final da música.
Ao final do show, toda a banda se mostrou muito receptiva, tomando um tempo para conversar com os fãs e tirar várias fotos. O último a deixar o camarim para encontrar o público foi Yamada, que disse estar muito cansado do show e ficou deitado por aproximadamente 15 minutos se recuperando.

Apesar de ter faltado a oportunidade de perguntar diretamente aos membros da banda o que acharam do show, pelo que Marcus falou no palco durante o show e pela felicidade dos músicos após o mesmo, imagina-se que a experiência tenha sido muito boa para a banda, ainda mais depois de 10 anos sem visitar a capital paranaense.
Acredito que os dois lados da história saem com um gostinho de “quero mais” e aguardam uma oportunidade em breve da banda voltar a Curitiba.

Setlist do Claustrofobia:

  1. Intro
  2. Swamp Loco
  3. Bastardos do Brasil
  4. Thrasher
  5. Caosfera
  6. War Stomp
  7. Pinu da Granada
  8. Download Hatred
  9. From the ashes of sacrifice
  10. Vira Lata
  11. Metal Malóka
  12. Children of the Grave ( Black Sabbath cover – trecho instrumental)
  13. Peste