Minas Gerais e Rio Grande do Sul foram os estados brasileiros que fizeram mais proximidade com o volume da produção que vinha da dobradinha Rio/São Paulo. Mas, superando qualquer empecilho que a falta de informações poderia ocasionar, estados como o Pará e o Mato Grosso do Sul marcaram presença na história de nosso estilo com nomes de peso. Poucos em termos de quantidade, mas imensos na relevância e no legado que deixaram para o Heavy Metal brasileiro como um todo e ao longo da extensão de nosso território.
O Alta Tensão foi o grande representante da região Centro-Oeste no período e impôs-se com a força de quem sabia que aquele era um momento crucial, que não aceitava meio-termos. Cada banda, cada disco, tinha que surgir com impacto imediato, e essa necessidade era ampliada para quem não estava nos grandes eixos.
“Portal do Inferno” dispensou segundas opiniões. Ouça o disco e veja que a música ali contida representa o que havia de melhor naqueles anos intermediários da década de 80. Mesmo assim, a banda pareceu não ter tido o alcance que muitas de suas contemporâneas. Em parte por estar afastada do centro da produção jornalística especializada, cujo alcance era tolhido pelas limitações pré-internet e, por outro lado, pela carência de uma cena local forte, que colocasse o seu estado em pé de igualdade com os outros. Bandas como Sacrament e Necroterium, que atuavam na mesma época e local, não avançaram para muito além das demo tapes, enquanto o Alta Tensão já criava uma discografia.
Estando ativos desde 1981, só puderam lançar sua estreia no mesmo ano em que foram lançados o “Ultimatum”, o “Live” do Vulcano e o split do Sepultura com Overdose. “Portal do Inferno” é o seu segundo álbum e é bem representativo da sonoridade típica da época, exatamente daquela forma que você deve estar imaginando agora. Desde a primeira nota, Black Sabbath, Judas Priest e Iron Maiden vão se fazer evidentemente presentes entre as influências. Tirando a faixa “Sacrifice”, o disco é completamente cantado em português e é, na nossa língua, que ele apresenta a excelente faixa “O Silêncio”, uma das mais longas música dessa fase do metal brasileiro, com seus 09:24m. Esse tempo relativamente extenso passa quase instantaneamente, graças à emotividade e as mudanças que se desenvolvem em sua interpretação.
O restante do disco é bem homogêneo, nivelado por cima. Não há destaques na comparação entre “Portal do Inferno”, “Cortina de Ferro”, “Chacal”, “Judas Iscariot” e “Thanatous”. Se você é íntimo com o som padrão de nossos primeiros discos, sabe que vai encontrar uma produção não muito boa, meio abafada, mas feita com paixão suficiente para permitir que o disco atravessasse décadas e chegasse até hoje, onde estamos falando dele, antes que parta, relevante e significativo, para as próximas décadas. Som digital, alta definição e coisas do gênero são um fenômeno por demais recente. Essa geração passava por cima de um milhão de dificuldades e prosseguia, porque música, para alguns, não é simplesmente algo pra curtir. Música é sangue e oxigênio, vitais para a existência.
Formação
Adilson Fernandez – vocal
Edson David – guitarra
Marcos Furuta – guitarra
Edson Kid – baixo
FBosco Melo – bateria
Músicas
01.Portal do Inferno
02.Silêncio
03.Cortina de Ferro
04.Chacal
05.Sacrifice
06.Judas Iscariot
07.Thanatous
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9/10