Após alguns problemas em relação à pandemia, passaporte e demais imbróglios burocráticos, minha entrada na Inglaterra foi aprovada com sucesso, e assim, finalmente poderei fechar com chave de ouro o tour pelo Reino Unido, que iniciei lá no dia 24 de abril com a (República da) Irlanda. Bom humor a parte, hoje o assunto é um dos principais países em se tratando de Música Pesada, com incontáveis bandas de sucesso e importância em toda a sua história. Vamos lá?!

Com seu nome derivando do inglês antigo Englaland (“terra dos anglos”), sua ortografia moderna foi utilizada pela primeira vez em 1538. A nação passou a exercer um considerável impacto cultural e jurídico no restante do mundo ainda no século XV, durante a Era dos Descobrimentos, difundindo ao longo dos séculos o idioma inglês, o seu sistema jurídico e também a religião anglicana. Porém, a sua história começou a ser escrita muito antes, como por exemplo, os povos Celtas chegaram na região durante a Idade do Ferro, enquanto que os romanos conquistaram e incorporaram a Bretanha ao seu Império no ano 43. Por sua vez, o o fóssil humano mais antigo descoberto encontrado lá, data de mais de 700 mil anos atrás… Pois é, o lugar tem história de sobra!

Com uma área total de 129.720 km2, sua população é estimada em quase 56 milhões de habitantes (2018) e desde 1066 sua capital é Londres, que abriga a maior parte da população do país, sendo uma das cidades mais importantes do mundo. Entre seus principais pontos turísticos, estão a misteriosa construção de pedras Stonehenge, o Palácio de Buckingham e o Big Ben.  Em termos políticos, o Reino Unido conta com uma monarquia constitucional, que tem na rainha Elizabeth II, a sua chefe de estado (entre outros títulos), coroada em 1953. Boris Johnson é o primeiro-ministro, que assumiu o cargo no ano passado.

Já em termos musicais, falar em Inglaterra é se lembrar instantaneamente de grandes nomes como Queen, Led Zepellin, Black Sabbath, Judas Priest e diversas outras entidades da música pesada, com a sua riquíssima história e influência ao longo das décadas. Entretanto, já aviso que não será aqui que você apreciará uma leitura voltada aos feitos desses heróis, mas sim irá descobrir alguns nomes diferentes, que também merecem ser conhecidos por seus trabalhos.

Antes de tudo, é importante relembrar que o intuito do quadro Heavy Metal Pelo Mundo é trazer a cada semana uma breve abordagem sobre o cenário musical, especialmente de países com pouca ou média expressão em relação ao estilo em questão. No entanto, ao decorrer do tempo, é impossível ignorar as demais nações onde a sua tradição no estilo é superior – como é o caso de hoje -, mas nem por isso espere se deparar com o óbvio. Por isso, selecionei abaixo oito bandas de diferentes vertentes do estilo, para você conhecer um pouco mais sobre o cenário underground inglês.

ABANDONED BY LIGHT

Além de Cradle of Filth, pode ser meio curioso ouvir falar em Black Metal na Inglaterra, mas saiba que existem diversos representantes da arte negra lá. O escolhido de hoje foi o Abandoned By Light, que na verdade é uma one-man-band comandada pelo instrumentista e vocalista Callum “Karhmul” Jones desde 2013. Inicialmente tendo voltado sua sonoridade ao Depressive Black Metal, atualmente o Abandoned By Light se foca em uma forma mais tradicional do estilo. De sua formação até o presente momento, a robusta discografia apresenta diversos materiais como split, demos, EPs e singles, além de oito álbuns completos – todos liberados de maneira independente, com o mais recente, ‘Algor Mortis’, tendo sido lançado em janeiro deste ano.

BASEMENT TORTURE KILLINGS

Saindo do clima lúgubre, vamos para a violência sonora regada à assassinatos e torturas. Death Metal/Grindcore com vocal feminino? Pois é, encontramos o Basement Torture Killings, que vem da capital Londres! São aproximadamente treze anos de atividades e quatro full length na conta, com ‘Lessons in Murder’ sendo liberado no ultimo dia 20 de maio. Na formação, nomes simpáticos como Beryl (vocal), Tarquin (gutarra e vocal), Brother Kain (baixo) e Faceless Killer (bateria).

CELESTIVL

Aqui não existe frescura e de um estilo pulamos para o outro em um piscar de olhos, então não vá se assustar com o Symphonic Metal do Celestivl (só não me perguntem se a pronuncia é “Celestial”, ok?), que lançou no ano passado o seu disco de estréia ‘TenTimesTwo’. A banda também conta com o EP ‘Our Creation’, de 2017. Todas as características essenciais do estilo são encontradas aqui, como vocal feminino, orquestrações e instrumental apurado, além de apostar em uma pegada mais atual (mas sem exageros) e a preocupação em apresentar algo a mais para quem busca por novas opções dentro da vertente.

DARK FOREST

Convenhamos que um nome como “Dark Forest” soa bem pouco original, mas não se atenha a esse detalhe em se tratando da banda formada lá em 2002, em Dudley (Midlands Ocidentais). Apostando em um Heavy/Power Metal (com uma veia épica) e letras que abordam temas como história, mitologia e relacionados, a banda possui cinco discos de estúdio – sendo o primeiro, auto-intitulado, de 2009 e o mais recente ‘Oak, Ash & Thorn’, lançado em abril deste ano pela gravadora italiana Cruz Del Sur Music. Indicado para quem curte nomes como Blind Guardian, Iron Maiden e até mesmo Skyclad!

ELIMINATION

Não necessariamente deixando o Power de lado, mas agora eliminando completamente a sonoridade épica e injetando bastante Thrash Metal, temos os rapazes do  Elimination, que vêm das cidades de Ipswich e Colchester. Sua história remonta ao ano de 2005, tendo durado até 2014, quando fizeram uma breve pausa. No entanto retornaram no mesmo ano e seguem até os dias de hoje. Com dois álbuns e três EPs, o mais recente deles ‘Of Gods and Beasts’ foi lançado no início de agosto. Quer ouvir algo mais pesado e encorpado? Eis uma boa dica!

FAMYNE

Segurando um pouco os ânimos, o clima sorumbático e quase eletrizante do Famyne chega para fazer a alegria de quem estava ansioso por um Doom Metal elaborado na bucólica Cantuária. A discografia ainda é bastante modesta, com apenas um EP (‘Famyne’, 2015) e um álbum de mesmo nome (nisso, a criatividade foi econômica), lançado três anos depois. Se você não tem saco para a vertente moribunda do estilo, onde suas composições se arrastam penosamente por incontáveis minutos, fique tranqüilo que o esquema é bem diferente aqui. Pode confiar e apreciar!

GHOST OF ECHOES

Para quem pensou que não teria espaço para algo Progressivo aqui, se enganou, pois apresento a vocês o Ghost of Echos, regido quase que solitariamente por Michael Trunks (vocal e todos os instrumentos). O “quase que solitariamente” se dá pelo seguinte motivo: ao contrário da primeira banda da lista, o Abandoned By Light, aqui a mente criativa conta com a participação especial de alguns vocalistas, como Louise Body (da banda Zoltar Speaks). Com uma sonoridade trabalhada, mas que ao mesmo tempo não se perde em demonstrações técnicas e “viagens” desnecessárias, são apenas dois discos até o momento, ‘Ghost of Echoes’ (2013) e ‘Fusion’ (2017).

RED RUM

Folk Metal com temática relacionada ao mundo dos Piratas? Eu sei que já vimos isso com os escoceses excêntricos do Alestorm, mas fique sabendo que também existe o Red Rum – caso a sonoridade da banda mais “famosa” lhe agrade (especialmente dos primeiros álbuns). Escolhido para encerrar a viagem, o Red Rum pode não combinar com despedidas, mas pelo menos entrega uma musicalidade muito bem feita e diversificada. Criada nas Midlands Orientais em 2011, a banda ainda divulga o seu mais recente EP ‘To War’, lançado em março pela gravadora alemã Trollzorn Records. O trabalho sucede o debut independente ‘Booze and Glory’ (2015) – ah, some à lista também o EP ‘With Gods by Our Side’, do ano anterior.

Pois é meus amigos, cá estamos nós mais uma vez no final de mais uma viagem. Desta vez, não apontei nenhum destaque individual ao longo do texto, exatamente porque todos os nomes escolhidos possuem características interessantes que chamam a atenção logo no primeiro contato. Por isso, mais uma vez, desejo que conheçam um pouco mais do cenário de mais um país, onde boas opções em se tratando de boa música, não faltam!

Nos vemos dentro de algumas semanas, mas em uma outra região do velho continente! Obrigado pela companhia e até lá!!

O Palácio de Westminster (Parlamento Britânico) e o Big Ben – séculos de imponência às margens do rio Tâmisa.