GIRLS ON THE FRONT é um quadro criado por redatoras para falar sobre mulheres e para encorajar outras a continuar o seu objetivo na música e, para isso, contaremos a vida e carreiras de mulheres no rock/metal brasileiro e internacional. E nesta edição entrevistamos Monica Possel, vocalista da banda Hamen e vencedora do Prêmio FemMetal Awards 2020, como a melhor vocalista operística do ano.

1-Há quanto tempo você começou a construir a sua carreira no metal?

Monica Possel: Primeiramente, quero agradecer a oportunidade deste espaço aqui, é muito importante para nós. Obrigada! A minha carreira no metal propriamente dito começou em 2012, quando me formei na faculdade de Design e quis voltar ao desejo de ter uma banda de metal, foi quando então formei a Hamen.

2-Além de ser vocalista, há outras atividades na música que você se dedica?

Monica Possel: Sim, sou compositora, componho para minha banda e também para outros músicos e artistas, não apenas no estilo metal. Ofereço também o serviço de colocar minha voz em músicas de outros artistas. Eu ofereço estes serviços através dos sites Fiver e Soundbetter. Então compositores que precisam de uma cantora, ou artistas que precisam de letristas, podem me contatar através destes sites. Eu também já dei aulas de canto e já atuei como consultora de moda e identidade visual para músicos e artistas, o que estou voltando novamente a trabalhar.

 3-O que a motivou a ser a artista Monica Possel?

Monica Possel: Eu sou uma pessoa criativa, recentemente eu encontrei depoimentos registrados de minhas professoras de jardim de infância comentando “ela canta e dança muito bem”. Então desde criança, eu sempre fui muito artista, sempre cantei, desenhei e escrevi.  Ou seja, eu propriamente não me “tornei” a artista Monica Possel, eu sempre fui, apenas deixei fluir o que existia naturalmente em mim. E aí então acabei investindo em estudos para tornar este talento algo profissional. Realizei cursos de desenho, desenho de moda, música, linguagem musical, canto erudito e quando vi que já possuía uma experiência, então migrei para a profissão de musicista como um todo.

 4-Quais as suas influências dentro da música, tanto como cantora, quanto musicista?

Monica Possel: Eu comecei a cantar muito novinha, com 3 anos de idade, em corais na escola e na igreja, por conta da minha mãe que viu este talento em mim, então eu tive muitas influências, desde o erudito/clássico, pois fui evoluindo minha carreira cantando em coros de câmara e de orquestras sinfônicas e principalmente no conservatório de música onde estudei por 7 anos canto lírico e com isso tive grandes influências como Maria Callas e Montserrat Caballet. Já por conta do coro da igreja e coro universitário, eu acabei tendo influências do gospel, popular e black music, onde tenho como referências cantoras como Whitney Houston, Celine Dion e Christina Aguilera. Por volta dos meus 16/17 anos no ensino médio, eu acabei conhecendo o Heavy Metal na mesma época que tinha entrado no conservatório, e ali eu descobri que gostava muito deste estilo e vi que dava para unir dois gostos meus, o erudito e o metal, quando descobri bandas como Nightwish e principalmente After Forever – sendo Floor Jansen e Tarja Turunen minhas maiores influências desde então. No decorrer da carreira, fui aprimorando meus estudos de técnica vocal, após ter concluído o conservatório de canto erudito, eu comecei a ter aulas de técnicas de crossover, com o uso de técnicas como drives e belting, com isso minhas influências foram cantores masculinos da época, que possuíam esta técnica aprimorada, como Dio e Coverdale. Ao longo do tempo, fui conhecendo os vocalistas aos quais eu me inspiro muito hoje em dia  que são Jorn Lande e Noora Louhimo vocalista da banda Battle Beast, ao qual pra mim é uma das melhores cantoras mulheres que domina muito a técnica de drives. Já na parte musical, eu tenho algumas influências. Música clássica, por estudar em conservatório desde nova e gostar muito de música instrumental, principalmente trilhas sonoras de filmes e no metal eu gosto muito de Ayreon – a primeira metal-ópera que ouvi e me apaixonei, pela maestria musical de Arjen Lucassen, de como compor construindo uma história única. O álbum 01011001 é uma baita referência pra mim, pois desde antes de me formar em Design, eu já trabalhava com tecnologia e também sou muito fã de ficção científica, então Arjen é uma referência, pois consegue trazer muito bem esta mistura e transformar em algo realmente grandioso. A inspiração da Hamen e, abordar o tema de ficção científica veio com certeza dos álbuns do Ayreon.  

5-Que tipo de dificuldades você, como artista e como mulher vê na cena rock e metal no Brasil?

Monica Possel: Existem muitas barreiras ainda hoje em dia para mulher no metal. Desde mulheres instrumentistas, como mulheres vocalistas e frontwoman nas bandas. Ainda hoje, eu vejo muito julgamento no gosto musical quando vc é mulher. Vejo muitas mulheres tendo esse mesmo problema. Para ser aceita na sociedade metaleira, vc como mulher precisa provar sempre, e o gosto musical geralmente é a primeira coisa que te põe à prova.

Monica Possel

6-E na sua carreira, você encontrou ou encontra alguma barreira?

Monica Possel: Sim. Muitas oportunidades são perdidas pelo simples fato de ser mulher. Já aconteceu de pessoas do meio assediarem, em troca de contratos de shows por exemplo. E isso é realmente um absurdo. Pois não é porque você é mulher e líder de uma banda que você não é profissional. Então sim, já aconteceu e espero muito que para as próximas gerações, mulheres que virão após mim, que este tipo de atitude tenha sido erradicada do meio.

7-Como você observa e avalia a presença feminina no underground, seja em cima do palco ou nos bastidores?

Monica Possel: Eu vejo a cena feminina no underground se fortalecendo cada vez mais, com a pandemia eu pude conhecer muitas mulheres e nos unirmos muito mais.  Com isso podemos mostrar que mulher também pode fazer um bom trabalho, um trabalho profissional. Ou seja, antes, nós ficávamos muito às sombras dos homens, tanto para estar num palco como para produzir um show por exemplo, hoje eu vejo muitos coletivos de mulheres emergindo e tornando-se mais fortes. Eu participo, por exemplo, do coletivo Rock Brasil Feminino, e eu agradeço de mais por ter conhecido essas mulheres nesses últimos dois anos, conheci mulheres incríveis como produtoras musicais, fotógrafas, jornalistas, musicistas, enfim, em todas as áreas. E é o que tem me fortalecido sempre para continuar além dos fãs que também nos dão uma grande força.

8-Que conselhos você daria para as meninas que desejam abraçar essa carreira?

Monica Possel: Nos últimos meses eu conheci algumas meninas adolescentes que estão iniciando nesta carreira e pude conhecer mais a fundo a Iara Almeida. Quando eu tinha a idade dela, eu não tinha o apoio dos meus pais, meus pais achavam que rock/metal não era música decente para uma mulher e que eu deveria permanecer no erudito, o oposto dela, que possui o apoio dos pais. Com essa idade, eu não tinha equipamentos bons e sonhava em um dia poder gravar num estúdio profissional. Com essa idade, não existia Instagram e Facebook, onde vc fica totalmente exposta, mas para ela existe e com isso vem o lado negativo que são os assédios, no caso dela, para uma criança! Sorte que ela possui uma mãe que consegue doutriná-la muito bem. Então, eu me vejo muito nela e eu tento ajudá-la da melhor forma que eu posso.  Tento ser uma musicista que percorre a sua jornada da forma mais profissional possível, pois queira ou não, somos exemplos para esta geração e eu quero muito que elas venham muito mais fortes que a gente, para conseguirem lutando e conquistando o seu espaço. Então os conselhos que dou é pra continuar, sempre tentando estudar e buscando se profissionalizar na carreira e também deixando que estes problemas nas redes sociais não atrapalhem a sua saúde mental, pois é algo que acontece infelizmente e não é só com vc, então busca ajuda em outras mulheres, grupos e faça o possível para que isso não a atinja.

9-Falando em sororidade, como você percebe o engajamento feminino na cena?

Monica Possel: Eu vejo muitos coletivos emergindo do underground, já citei aqui o Rock Brasil Feminino, mas tem também o Lvna que é uma produtora de eventos exclusiva para mulheres, o Headbangueiras que é uma mídia digital que divulga apenas bandas com mulheres na formação e outras mídias que tem fortalecido a cena produzindo eventos também com mulheres como o Metal no Vale que produziu o Power Woman Festival que a Hamen participou, o Lunar Sessions e o Caio Indica que produzirá um festival de 7 dias no mês das mulheres – março – onde contará apenas com bandas com mulheres na formação e a Hamen e a Iara também estarão lá. Ou seja, eu tenho visto muito apoio e união na cena, estamos cada vez mais tendo a consciência que juntas somos mais fortes.

10-O que melhorou e o que precisa melhorar em relação à visibilidade feminina no underground?

Monica Possel: Como citei, durante a pandemia aconteceram alguns festivais focados na cena feminina, isso nos deu uma grande visibilidade e acredito que precisamos melhorar para que mais eventos deste tipo aconteçam, não só na pandemia, mas também quando voltar os shows presenciais, acredito que isso ajudará muito na visibilidade também.  O próprio prêmio internacional que ganhei é uma baita visibilidade, pois trata-se de uma mídia exclusiva para mulheres na cena metal. E uma mídia séria, o que é diferente de outras mídias que são focadas na estética das mulheres ao invés do trabalho musical delas.

11-A imprensa e o público, de modo geral tem apoiado a crescente invasão no rock e metal por parte das mulheres?

Monica Possel: Eu acredito que sim, neste ponto eu não tenho nenhuma crítica, eu vejo que as mulheres da cena underground nacional tem entrado em muitas mídias, figurando com grandes nomes masculinos e do mainstream. Já o público, eu acredito que exista o público que é fã de banda com mulheres no vocal (que é o meu caso) e tem público que não é fã, e aí destes a gente não espera muito não. Cada um com seu gosto, desde que haja respeito aí fica tudo certo. 😉

Monica Possel

12-No final do ano passado você foi eleita a melhor vocalista operística do ano, em votação popular, concorrendo com nomes mais conhecidos na cena e venceu o FemMetal Awards 2020 com mais de 30% dos votos, sendo a única representante latinoamericana. Pode nos falar um pouco sobre esta conquista maravilhosa?

Monica Possel: Sim, com certeza. Isso foi um grande presente para mim no ano de 2020, este ano que foi um caos para muita gente. O fato de ter sido nomeada juntamente com grandes nomes como Anette Olzon (Ex-Nightwish) e Capri Virkkunen da banda super famosa na Europa Amberian Dawn já foi um grande prêmio para mim. E o fato de ter ganho, eu dedico muito a cena feminina, eu acredito muito que por causa dela que me trouxe mais visibilidade e a Hamen com certeza, aos meus colegas de banda por fazermos um ótimo trabalho de qualidade e principalmente aos fãs e mídias parceiras que se uniram e juntos conseguimos trazer este prêmio para o Brasil. Isto pra mim é um grande marco, e acredito que é um marco para a própria cena nacional, para que outras mulheres consigam ter esta oportunidade de trazer novamente este prêmio para nós, brasileiros. Então eu fico muito feliz, não só por mim, Monica Possel vocalista, mas sim por todas as mulheres do metal nacional.

13-E o futuro? O ano de 2021 está começando. Quais os planos da banda Hamen e seus para daqui pra frente, uma vez que a pandemia freou os trabalhos de todos no ano passado?

Monica Possel: Sim, o futuro anda meio incerto desde o começo desta pandemia, mas posso dizer que a Hamen vai trazer grandes novidades para este ano.  O que posso contar é que logo logo entraremos em estúdio para produção do nosso próximo álbum, mas por enquanto ainda não posso abrir quem será o nosso produtor, só posso dizer que vem coisa grandiosa por aí. E nos meus planos eu continuo com meu canal no youtube de covers com collabs com grandes artistas nacionais, recentemente lançamos um novo cover, tributo ao ReVamp, como falei aqui Floor Jansen é uma das minhas grandes referências na voz então quis homenageá-la e chamei um baita amigo e principalmente vocalista o Airton Araujo (Age of Artemis e Firewing) para fazer comigo o cover do dueto Sweet Curse. Então, fiquem ligados que vem novos collabs por aí e com grandes nomes da cena nacional. ^^

14-Pra finalizar, queremos te parabenizar pelo prêmio, agradecer a você por nos conceder essa entrevista e te dar a oportunidade para dizer algumas coisas a seus fãs.

Monica Possel: Eu que agradeço esta grande oportunidade. Estou muito feliz por ter sido premiada internacionalmente como melhor vocalista e mais ainda por ter a oportunidade de falar um pouco da minha experiência aqui para vcs da Roadie Metal. Quero só agradecer, muito, muito obrigada mesmo por este espaço aqui que é sensacional para nós artistas undergrounds e dizer a todos para que sigam as redes sociais da Hamen (Instagram, Youtube, Facebook), pois vem algo grandioso por aí e também o meu canal no Youtube para curtirem os próximos collabs que iremos lançar neste ano.

Mais uma vez, muito obrigada mesmo pela oportunidade. \o/