Montar uma banda e fazer sucesso é sonho e objetivo de muita gente.

Mas como isso é feito? Cada um certamente tem uma experiência única e diferenciada, ou também têm algo em comum. Seriam essas coisas a união ou a desunião dos integrantes? A divergência ou coerência das idéias? Ou o que mais se pode fazer uma banda, para chegar às alturas e finalmente se viver de música? Compartilhar histórias e idéias sempre nos fazem pensar em novos caminhos ou confirmar velhos dilemas. Foi por isso que honradamente, fui entrevistar um experiente músico português responsável por uma das melhores bandas de Heavy Metal do continente europeu.

Ele é o Luis Figueira, guitarrista da banda Attick Demons. Além de ser uma expressiva banda de heavy metal português, esta ainda é bem conhecida por ter um vocalista com a voz de Bruce Dickinson, fato que você vai entender melhor, quando ler a entrevista.

Eles fazem parte de um seleto grupo de privilegiados, que sentiram o gosto, mesmo que poucas vezes, do reconhecimento e do trabalho da criação musical.

Roadie Metal: Luis, diga-me como foi o início dos Attick Demons.

Luis Figueira: Os Attick Demons começaram com 4 ou 5 amigos, nomeadamente o Gonçalo Pais, o Nuno Martins e o Miguel Angelo num sótão (semi-abandonado) no centro de Lisboa. Eram colegas de escola que gostavam de música, e se juntavam no sótão do Miguel Angelo. E eles precisaram de um guitarrista. Em janeiro de 1996, perguntaram se eu queria experimentar, e eu já tocava em umas bandas, como a “Arame Farpado” de Punk. Não podia perder, especialmente quando o amigo do Gonçalo indicou-me, que eram influenciados pelo Iron Maiden.

Logo que começamos a tocar, quisemos gravar uma Demo Tape. Tinhamos o nome de Olisipo (nome dado a Lisboa pelos Romanos), fazia todo sentido mudar aquele nome. Então a banda achou bem mudar o nome para se tornar mais séria. Havia até umas bandas da época dos anos 80, a Alcateya, que era bem Heavy Metal, mas nos anos 90 só se ouvia dizer de bandas de Death e Black Metal.

“Attick – influenciado pelo Aerosmith (álbum Toys in the Attick) + 

Demons (éramos um demônio para nossas vizinhas), pois ensaiávamos o dia inteiro.”

Roadie Metal: Qual foi a motivação para formar a banda?

Luis Figueira: Foi a musica que gostamos e que nos une. Qualquer banda tem que ser honesta consigo própria. Não fazemos musica para vender, mas sim o que queremos fazer.

Em 1997, ensaiávamos perto de minha casa atual em Almada, e ao fim de quatro meses de ensaio, poderíamos gravar em directo; então aproveitamos para gravar a segunda Demo Tape.

Havia muitas pessoas que gostavam do que fazíamos, e fazíamos musicas para suporte para nossos eventos. Continuávamos ser bem recebidos pela mídia nacional, quanto internacional, apesar do som, acabamos por gravar o primeiro Ep com 6 musicas em 2000, embora tivemos sempre a procura nomeadamente de baixistas.

Em 2004 entrou pra banda o baixista atual, e a a partir dai tivemos a banda com uma formação solida, e uma formação a sério! Em 2004/2005 começamos a compor, para fazer o Atlantis (álbum). O Atlantis demorou porque somos uma banda perfeccionista. Experimentamos a banda um pouco com musicas ao vivo, e gravações. Sempre quisemos que o Atlantis fosse diferente de todos os outros, não queria ser um dos 50 mil bandas a lançar um disco, e é bom sentir essa competitividade.

Roadie Metal: Vocês tiveram convidados especiais….

Luis Figueira: Convidamos o Paul Dianno (Ex-vocalista do Iron Maiden) e Ross The Boss (Ex-guitarrista do Manowar), porque Iron Maiden e Manowar sempre foram nossas influências, e achamos  que seria engraçado convidar duas lendas do Heavy Metal e finalmente a Atlantis ocorreu; Paul cantou e o Ross the Boss, tocou um dos solos de guitarra.

Com a divulgação do Atlantis pela editora (gravadora) Pure Steel Records nos ajudou nomeadamente no mercado alemão. Tivemos muita promoção e foi bem recebido, e obviamente, muitos nos compararam com o Iron Maiden.

Roadie Metal: Como foi a entrada do Artur Almeida, vocalista atual?

Luis Figueira: Tivemos um vocalista com influencia Punk em 1996, e estivemos a procura de um vocalista que tivesse mais a ver com Heavy Metal, foi então que o primeiro baixista Miguel Angelo comentou com o Artur (que trabalhava de bombeiro como ele), e o indicou. O Artur cantava nas noites de serviço, enquanto ele acompanhava com a guitarra. O Artur não levou muito a serio e disse: “ Iron maiden só conheço Run to the hills, pois a banda que eu realmente curto é AC DC”. Quando ouvimos o Artur a falar e a cantar, ficamos assim: “Isso é sério?” Como todo mundo dizia q a voz dele parecia com a do Bruce ele tentou mudar a voz, e não ficou bom. E então, achamos melhor ele manter a voz que tem.

A princípio, não tivemos muita visibilidade em Portugal, só depois que ficamos populares lá fora. Foi um salto enorme de um momento para o outro com o Atlantis. Ai  ficamos conhecidos. Começamos a tocar para muita gente, começamos a participar de festivais como o Metaldays na Eslovênia no palco principal, e não estávamos à espera..

“Não fazemos musica para vender, mas sim o que queremos fazer.”

Roadie Metal: Como foi nascer, digamos assim, da mesma “semente” que o Moonspell?

Luis Figueira: Eu gosto muito de Moonspell.

Os integrantes do Moonspell são bastante unidos e todos trabalham pela banda. No inicio fizeram um tour numa carrinha (Van), eles têm capacidade de aventura. Eles vivem da musica, e nos temos os nossos trabalhos. Ou melhor, eles vivem de musica e nós não. Como eu costumo dizer, eles não tiveram sorte, eles a procuraram… porque nada cai do céu.

Roadie Metal: E se vocês fossem convidados para abrirem um show (participar de uma tour) do Iron Maiden, por exemplo?

Luis Figueira: Pra já tínhamos que pensar o que ia surgir depois de uma turnê dessas, pois era muito bonito, mas; e depois que isso acabasse? Se quiséssemos viver da musica, viveríamos. Tínhamos obviamente que trabalhar em função disso. E pra isso teríamos que gerir uma tour, gravar discos, não é como um emprego que você trabalha de 8h a 17h.

Roadie Metal:  Como vocês trabalham a banda?

Luis Figueira: Hoje há muita moda das bandas tributos (covers) para ganhar dinheiro, e eu penso que somos privilegiados com uma banda original (autoral) e conseguimos mais dinheiro dos que os de tributo. Já tivemos banda tributo dos Iron Maiden, para subsidiar a gravação dos álbuns. Hoje já podemos gerar mais dinheiro com nossa banda, do que o que ganhávamos com os tributos. Mas atênção que não sou contra, aliás, o João e o Nuno tocam numa banda tributo ao Megadeth.

Em Espanha, viramos nosso alvo. É mais barato ir de avião pra Madri do que de carro pro Porto; e em Espanha, nós temos a sorte e o privilégio de sermos muito acarinhados. Badajoz e Vigo, por exemplo. Mas é em Madri que está grande parte da mídia.

Roadie Metal:  Conte-nos um fato curioso sobre a banda.

Luis Figueira: Estávamos em Madri e eu falei com um amigo meu, da mídia de rádio e revista, e ele nos perguntou se queríamos fazer uma entrevista e aceitamos. Fomos eu e o Artur. Já que fomos para esta entrevista, vamos fazer uma tour promocional. Contactei várias revistas e rádios e eles nos convidaram para dar entrevistas em directo nas rádios.

Eu e Artur, fomos para Madri com um fotógrafo, e quem nos apoia (Rui Leal) num fim de semana. No final do dia de sábado, após o jantar, fazíamos o “brainstorm” no que tinha acontecido durante o dia. Falamos com uma amiga que tem uma banda sobre concertos em Madri, e fomos à um bar no limite de Madrid: O 38 SPECIAL.

Chegamos lá e vimos o bar praticamente vazio, o palco vazio e nos estávamos mesmo a ver se era ali mesmo o sitio (o tal lugar). Pedimos três cervejas, aparece um senhor tipo “cowboi”, e mete as mãos nos balcão:

– Que quereis, chicos? (Que querem, rapazes?)

Pedi três cervejas

– 9 euros por 3 cervejas (!)

Dei lhe a nota de 10 euros

– De onde são?

– Portugal…

(as cervejas começaram a vir)

– Aqui tocam as melhores bandas de Espanha.

Foi então que o homem, disse que gostava de uma banda portuguesa e meteu “City of Golden Gates” (do nosso álbum Atlantis) e o Artur começou a cantar. Ele agarrou-se ao Artur, no final da musica, o senhor estava a chorar. A partir daí, já fomos lá duas vezes e sempre tá cheio.

“Hoje já podemos gerar mais dinheiro com nossa banda, do que o que ganhávamos com os tributos.”

Roadie Metal: Que ótimo! Como foi o feito o segundo álbum da banda, o Lets Raise Hell?

Luis Figueira: Nós não quisemos ser tão tradicionais, como no Atlantis. Fizemos o som que gostávamos, mas também quisemos abranger outras vertentes que não abrangemos no Atlantis. Evoluímos como pessoas, como músicos e sabíamos que mantendo o produtor do Atlantis, poderíamos arriscar um bocadinho mais. Obviamente que o Lets Raise Hell  é um disco que na minha opinião é superior ao Atlantis, porque conseguimos arriscar mais no entanto o Let´s Raise Hell teve muitas coisas negativas à volta do álbum. O Gonçalo baterista, não estava mais 100% conosco, não estava confortável. Ele próprio decidiu sair, e tínhamos a pré-produção já feita. E surgiu um baterista brasileiro, (Ricardo Alonso) que gravou o álbum conosco. Daí, começaram a cancelar vários concertos, por problemas diversos. Chegamos os dois (eu e Artur) a desistir da banda. Foi então que eu, o Artur, o Nuno e o João, durante as misturas (mixagem), arranjamos outro baterista e decidimos continuar a banda. Foi um parto difícil.