Lembram daquelas brincadeiras infantis em que temos que ligar cada coisa com o seu par? Pois bem, se tivéssemos que relacionar diretores de cinema famosos, de um lado, e, do outro, bandas de Rock, não imagino combinação mais homogênea do que Robert Rodriguez com ZZ Top.

É o jus sanguinis que proporciona essa semelhança. Cineasta e músicos tem o mesmo sotaque desde o berço. Todos são texanos, distando suas origens por apenas 175 milhas. Rodriguez é de San Antonio e a banda é de Houston. Suas obras expressam o modo de vida e os valores culturais da região. Trabalhar juntos seria uma questão de tempo e certamente resultaria em algo memorável.

Não foi bem o que aconteceu.

O diretor de “Sin City”, “Planeta Terror” e “Machete” já era um artista promissor em 1996. Vindo dos elogiados filmes independentes “El Mariachi” e “A Balada do Pistoleiro”, este último com Antonio Bandeiras, ele juntou a ação ao terror, no excelente “Um Drink no Inferno”, que trazia George Clooney (“Onze Homens e um Segredo”, “Gravidade”, “Tudo Pelo Poder”) e a mexicana Salma Hayek (“Frida”, “Dogma”) ainda em começo de carreira. O filme, cujo elenco ainda contava com Harvey Keitel e Juliette Lewis, além de uma participação especial do diretor Quentin Tarantino, é uma pérola trash, com vampiras sedentas de sangue apresentando-se em uma casa noturna.

O palco em que Salma faz suas performances é o mesmo que foi utilizado para as filmagens do clip, com a banda tocando praticamente sem plateia. Ao longo do clip, cenas do filme surgem intercaladas, além de uma contracenação adicional de Clooney e Salma que não acrescenta muito. E é só isso. É um clip correto e padrão, que se não fosse uma peça complementar de divulgação do filme restaria esquecido. A música é excelente, é claro, mas detalhes adicionais, como fotografia ou direção de arte seguem a cartilha do básico. O ZZ Top tem uma longa lista de clipes mais bem produzidos.

A música “She´s Just Killing Me”, cuja letra menciona diretamente a personagem de Salma, viria a compor o álbum “Rhythmeen”, que seria lançado mais tardar no mesmo ano, e entrou na trilha sonora do filme, junto com a canção “Mexican Blackbird”, retirada do clássico “Fandango”, de 1975. Mais impacto teve a aparição do trio na breve cena de saloon em “De Volta para o Futuro 3”, seis anos antes.

Rodriguez, por outro lado, não se importou muito com a produção de clipes no futuro, tornando a fazê-lo apenas com a música “Cancion Del Mariachi”, juntando Antonio Banderas com Los Lobos e, de resto, seguindo a mesma fórmula básica. Ok, Rodriguez, nós entendemos, seu negócio são os filmes!