A Attick Demons é sem sombras de duvidas uma referência de peso no Heavy Metal europeu. Mais fortes do que nunca, apresentam, atualmente, a formação mais coesa e uniforme da sua existência (uma existência de 22 anos) e isso torna-os uns verdadeiros “monstros” no palco, com um som brutal, uma atitude segura e uma paixão que contamina todo o espaço.

As suas atuações transformam o palco num campo de batalha, com cinco cavaleiros numa galopada mágica, onde a vitória não é questionada. Em uníssono, de bandeira elevada ao som da voz troante, encorpada e destemida, “galopam” guitarras, baixo e bateria, como se fossem cavalos alados, percorrendo florestas povoadas de seres mágicos que os acolhem em êxtase e profunda devoção.

Estes cinco cavaleiros, demônios de um sótão encantado, imponentes, mas de sorriso no rosto, conquistam todo o espaço com a sua garra, ferocidade, poder, união e excelência. Desbravam bosques sonoros que elevam almas a uma “Atlântida” perdida, a um “Adamastor” tenebroso ou a um crescente “Ritual” de prazer.

Mais que uma referência, a Attick Demons é uma das melhores bandas europeias de Heavy Metal tradicional e reúne todos os requisitos para ser a melhor, a mais forte e imponente banda portuguesa

Com dois CD’s autorais, um EP, e um CD ao vivo (com todas a músicas do EP numa nova roupagem), questiono constantemente o porquê do seu pouco reconhecimento (reconhecidos num meio mais underground, continuam praticamente desconhecidos do grande público, incluindo entre os fãs de Heavy Metal)

Excelentes músicos, dividem a sua vida entre a paixão pela música, e uma outra vida, mais anónima e discreta, pessoal, familiar e profissional, onde só com grande devoção e espírito de sacrifício é possível equilibrar todas as partes.

Não restam dúvidas de que a Attick Demons faz parte da história do Heavy Metal português. Mas, como já perceberam, esta não é uma história qualquer, de mais uma banda que toca umas músicas fodásticas. Esta é a história da Attick Demons e temos de conhecer!

É comum a história começar a ser contada a partir de 1996, ano de oficialização da banda. Mas o seu início ocorre cerca de dois anos antes, na Rua de Santa Marta, bem no coração de uma Lisboa que fervilhava de música, jovens e vontade de fazer coisas.

Num sótão, propriedade dos pais de Miguel Ângelo (baixista), este e os seus amigos Gonçalo Pais (bateria) e Nuno Martins (guitarra) reuniam-se todos os fins de semana, para expressarem e libertarem a sua paixão: a música, sob forte influência da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal). Sem saber que estavam a construir aquela que viria a ser uma grande banda de Heavy Metal, nasciam assim a banda Olissipo. Com a necessidade de incluírem um vocalista, convidam Hugo Mascarenhas, mais conhecido como “Bostinha”, e é então que surgem os seus dois primeiros temas: “War Cry” e “No Pride”.

No início de 1996, através de um amigo comum de Gonçalo Pais, surge o convite para Luís Figueira, da Arame Farpado, trazer a sua guitarra e ingressar a banda.

Com a formação da banda consolidada (voz, bateria, baixo e duas guitarras) a Olissipo começam a estruturar e a preparar os dois temas, com o objetivo de dar um grande passo em frente – gravar uma demo-tape, o que acontece em março de 1996, com as gravações da “Demo-Tape’96”, nos Estúdios JAP, em Sacavém. Durante as gravações, a banda percebe que o seu futuro e a forma como encaravam a música estava a mudar – já não eram apenas um grupo de amigos a fazer umas coisas interessantes, eram uma banda que estava a nascer. Surge então a questão da mudança de nome, questão que logo passou a segundo plano, devido à dedicação à gravação da Demo-Tape, mas que volta a surgir, quando o produtor questiona qual o nome da banda para escrever no Master.

Para a ainda, Olissipo, o nome da banda tinha de os definir, ser a sua identidade, e foi quando o Luís se lembrou que o Aerosmith tinha um álbum chamado “Toys In The Attic”, o que de certa forma aludia ao local onde a banda ensaiava – um sótão (attic) – e o Miguel recordou que as senhoras que moravam perto do sótão, os apelidavam de “demoniozinhos”, devido ao barulho que faziam logo de manhã. Surgem então os Attick Demons. Attick, mal escrito, com k no final (a correta ortografia é Attic) é culpa do Luís Figueira, mas tal como o próprio refere: “Megadeth e Helloween também estão mal escritos e ninguém se chateia por isso!!!” (risos)

Hugo “Bostinha” e Miguel Ângelo saem da banda em 1997, e os seus lugares são ocupados pelo Nélson Martins (baixo) e por Artur Almeida (voz), cuja entrada para a banda acontece quase por acaso: o Artur é levado a um dos ensaios da Attick Demons, pelo Miguel Ângelo, que o tinha ouvido a cantar no quartel onde ambos eram bombeiros. O Luís não esteve nesse ensaio e quando os outros elementos lhe mostraram a cassete com a gravação, este fica tão surpreendido com a capacidade vocal do Artur que não restaram dúvidas sobre a sua entrada na banda. Artur Almeida, fã incondicional de AC/DC, com a sua voz encorpada, de agudos perfeitos e timbre envolvente, traz uma nova sonoridade vocal, bem mais poderosa, contrastando com a voz anterior, de influências Punk.

Com esta nova formação é lançada uma segunda demo-tape, com os temas originais “Visions”, “The Believer”, “It Was You”, “Attick Demons” e o cover “Carry On” do Manowar. Começam a surgir os concertos, com uma assistência ainda a experimentar este novo som e atitude. Mas para além das atuações ao vivo, a Attick Demons queria mais e vão compondo músicas para um primeiro EP.

Em 1998, o baixista Nélson Martins sai e entra para o seu lugar António Durães. O EP, homónimo, é lançado em 2000 e é muito bem recebido pelos fãs deste género musical, tendo a banda uma agenda cheia de shows nacionais e internacionais. Na Espanha, a Attick Demons estreia com a Oratory, em 4 de maio de 2001. Na gravação do EP, a banda tem como músico convidado o tecladista João Costa, que passa a integrar a banda até ao final de 2001, data da sua saída.

Uma nova demo é gravada, no final de 2003, já com os olhares num primeiro LP, o que só acontecerá oito anos mais tarde.

No ano de 2004, nova alteração na formação da banda com a saída de António Durães, passando o baixo a ser dominado por João Nabais Clemente e pela sua forma de estar em palco tão característica e interativa com o público e os outros elementos da banda. A sua entrada acontece através do cunhado de Artur Almeida, de quem era colega de trabalho, e que teve conhecimento de que a banda estava sem baixista. Mas a verdade é que a entrada de João Clemente na Attick Demons parecia estar destinada. Baixista da Blackfeather, é o próprio que conta que se cruzou com a Attick Demons algumas vezes, entre as quais existe até uma entrevista marcada para a Blackfeather, à qual a banda faltou e que acabou por ser feita pela Attick Demons, que se encontrava no mesmo local.

No mesmo ano entra Hugo Monteiro para o lugar de Nuno Martins, que sai por motivos profissionais. No entanto, esta saída de Nuno Martins, não é um adeus à Attick Demons, mantendo-se sempre em aberto o seu regresso, que acontecerá em setembro de 2007. A Attick Demons têm agora a sua formação consolidada: Artur Almeida (voz), João Clemente (baixo), Gonçalo Pais (bateria), Luís Figueira, Hugo Monteiro e Nuno Martins (guitarras). É com esta formação que a banda trabalha no seu primeiro LP, que em 2011 é lançado pela Pure Steel Records, com o título “Atlantis”.

Com “Atlantis”, a banda prova que merece um lugar de destaque no panorama musical mais pesado. Boa composição musical, letras fortes e uma voz poderosa, associadas a um leque de convidados de renome, tais como Paul Di’Anno (Ex Iron Maiden) ou Ross the Boss (Death Leader, Manowar) e masterização a cargo de Andy LaRocque, fazem com que o álbum seja muito bem-recebido pelo público e pela imprensa. A sua promoção faz-se por todo o território nacional e internacional destacando-se a abertura para o W.A.S.P. no Campo Pequeno, em 2012 e a participação em vários festivais europeus, tais como o Swordbrothers (Alemanha – 2012) ou Metaldays (Eslovénia – 2013).

Em 2015 nova alteração na bateria, já com a pré-produção do segundo álbum concluída- sai Gonçalo Pais, que por motivos pessoais decidiu seguir outros caminhos, e entra Ricardo Allonzo, que pelas suas raízes sul americanas (o Ricardo é brasileiro) traz um novo estilo à sessão rítmica da banda.

O segundo álbum vê a luz do dia em 2016, com o nome “Let’s Raise Hell” e, tal como já acontecera com o “Atlantis”, conta com a participação de alguns convidados bem conhecidos internacionalmente, tais como Chris Caffery dos Savatage. Bem diferente do anterior, este álbum mostra-se mais forte e de sonoridades mais pesadas. É o segundo álbum de uma banda que não se acomoda, que evolui e que cresce, que procura sempre mais mantendo a identidade de excelência que os caracteriza.

A gravação de “Let’s Raise Hell” foi um momento marcante e decisivo para o futuro da Attick Demons. De acordo com as palavras de Luís Figueira, em entrevista ao programa Alta Tensão (Antena 3) de 28 de outubro de 2016, “durante a gravação houveram momentos mais difíceis (gravação e mixagem), ideias muito diferentes dos diversos membros, alterações na banda, foi uma fase não muito boa. Foi colocada a hipótese de acabar com a banda, o que aconteceu por dois dias (risos). Elementos menos comprometidos com o projeto, faltas aos ensaios, falta de investimento pessoal. Foi um parto difícil”

Hugo Monteiro sai da banda em finais de 2015 e Ricardo Allonzo em 2016, passando a bateria a ser dominada pelo Ricardo Oliveira, também baterista da My Enchantment. A entrada de Ricardo Oliveira para a Attick Demons é contada pelo próprio:

“Bem, basicamente cheguei atrasado… Tinha uma mensagem do Luís no Facebook, mas como nem éramos amigos, a mensagem andava para lá perdida. Por causa disso, perderam-se umas datas que tinham na Inglaterra. Daí ter dito que cheguei atrasado… A minha namorada e o Luís já eram amigos e o Luís falou-lhe acerca de mim, para ela vir falar comigo. Foi nessa altura que vi a tal mensagem. Bem, depois combinámos uma reunião em Almada, com o Artur também. Eu mostrei-me interessado e eles mandaram-me umas 6 músicas, mais coisa menos coisa para eu ir ouvindo. Lembro-me que era a “Back In Time”, a “Flame Of Eternal Knowledge”, a “City Of Golden Gates”, “Riding The Storm”, “Ritual”, “Let’s Raise Hell” e “The Believer”. Pelo menos essas eram, mas acho que eram mais duas… A ideia era, eu escolher uma ou duas para fazer um ensaio com eles. Quando lá cheguei, ao ensaio, foi aí que os impressionei (risos)… porque tinha tirado TODAS! Até se passaram… No fim do ensaio, o Luís virou-se e disse “Bem, podemos marcar o concerto de apresentação?”

O concerto de apresentação de que o Ricardo fala, é o seu concerto de estreia, no Santuário do Rock, concerto esse que tinha sido desmarcado devido aos problemas e instabilidade que a banda estava a viver no momento. Ricardo Oliveira dá provas de ser um verdadeiro Demon e mostra-se à altura de um “Let’s Raise Hell” bem poderoso, tal como o demonstra logo no primeiro concerto e reforça na atuação no Rustfest (Nirvana Estúdios) no dia 2 de julho e no concerto de lançamento do álbum, no RCA Club, a 29 de outubro de 2016.

Em 2017, levaram o seu “Let´s Raise Hell” à Espanha, país onde são aclamados e têm já uma legião de fans: a primeira vez foi em 23 e 24 de junho, acompanhados pela Inner Blast, e tocaram em Badajoz (Sala Metalarium) e em Madrid (38 Special). Em 11 de novembro regressam a Madrid e ao espaço 38 Special, para mais um concerto de sala cheia.

A galera da Attick Demons não vive exclusivamente da música, mas a sua dedicação e força de vontade são verdadeiramente admiráveis, como o demonstra o fato de terem criado paralelamente, durante cerca de três anos, a banda “Live After Demons”, uma banda de tributo ao Iron Maiden, cujo objetivo foi angariar verbas para ajudar os custos de gravação do 1º CD’s. Esta atitude revela bem a tenacidade, persistência e espírito lutador que os caracterizam.

Atualmente, a Attick Demons está presente nos grandes eventos portugueses de Heavy Metal, transformando os palcos onde atuam em verdadeiros tronos musicais, fazendo com excelência o que tão bem sabem fazer: música de qualidade, com garra e paixão!

Aguardamos, com grande expectativa, o seu novo trabalho.

Fonte: Blog Rock In The Attic