E finalmente chegou o tão esperado Abril Pro Rock, o festival tão amado pelos headbangers recifenses e de todo o Nordeste, que nesse ano realiza sua 27ª edição, dessa vez com três dias de evento (12, 19 e 20) e com a temática do empoderamento feminino (explícita na arte e na programação do dia 19).

No primeiro dia, seis bandas fizeram parte do cast do evento, que pelo segundo ano seguido ocorreu no Baile Perfumado, localizado no bairro do Prado, zona oeste do Recife. As bandas foram a Camus (PE), Malkuth (PE), Jackdevil (MA), Maestrick (SP), Malefactor (BA) e Amorphis (FIN).

Ao que podemos ver logo de início, o cast do primeiro dia foi bastante diversificado na questão de “estilos”, tendo Heavy Metal (Camus), Black Metal (Malkuth), Thrash Metal (Jackdevil), Progressivo (Maestrick), Blackned Death Metal (Malefactor) e Deaht Metal Melódico com Progressivo (Amorphis).

Antes de começar a falar dos shows, vale ressaltar que assim como em todos os anos, o festival contou com dois palcos onde as apresentações ocorriam de forma intercalada, e também o fato de que por conta da temática do Abril Pro Rock esse ano, uma mulher fez a locução da transição entre as atrações no sistema de som.

Mais uma vez, o Abril Pro Rock mostrou seu diferencial que é a pontualidade, às 20h os portões foram abertos, e às 20:30 a Camus subiu ao palco secundário para abrir oficialmente o Abril Pro Rock 2019.

O quarteto pernambucano mostrou todo o peso, técnica e qualidade do seu Heavy Metal diante de um público ainda pequeno que chegava aos poucos ao Baile Perfumado. Em seu curto setlist, eles mesclaram músicas do seu primeiro EP “Heavy Metal Machine” com o do seu primeiro disco “Abyssal”, lançado ano passado.

A plateia, ainda em número pequeno, se mostrou bastante empolgada durante a apresentação, fazendo inclusive um principio de roda punk.

Na questão sonora, a banda não teve nenhum problema técnico, mas teve um momento em que houve uma falha no jogo de luz do palco, os fazendo tocar apenas com as luzes de led no chão os iluminando. Pouco tempo depois o problema foi resolvido.

Com apenas meia hora de show, a Camus conseguiu abrir o festival com tudo, e representando muito bem a cena pernambucana. Mas claro, eles não foram os únicos pernambucanos representando a cena local naquela noite.

Na mesma hora que a Camus encerrava sua apresentação no palco secundário, a banda de Black Metal Malkuth era anunciada pelo sistema de som da casa, e subia ao palco principal do Baile Perfumado para reunir a sua horda no Abril Pro Rock.

Apesar dessa ser a primeira vez que a banda toca no evento, o Malkuth é um veterano na cena local, tendo 26 anos de atividade e 7 álbuns em estúdio.

Não há outra palavra para definir o show do Malkuth a não ser “peso”. A banda mostrou toda a brutalidade e agressividade do Black Metal, trazendo temáticas pagãs em seu cenário e em suas letras. Além de músicas de destaque em seus mais de 20 anos de carreira, o grupo apresentou principalmente faixas do disco “Voodoo”, seu mais recente trabalho lançado ano passado.

A apresentação também contou com a participação de Diego DoUrden, integrante das bandas Infested Blood e Mystifier, que mostrou a potência do seu gutural e falou em favor das religiões pagãs e indígenas.

Apesar de toda a brutalidade apresentada pela banda em cima do palco, o público, em número um pouco maior em relação ao show da Camus, curtiram mais na deles sem interagir muito.

Após 40 minutos de apresentação, o Malkuth encerra seu show, e na mesma hora, sem nem mesmo esperar o sistema de som da casa anunciar, a banda maranhense de Thrash Metal Jackdevil já iniciava os trabalhos de forma frenética no palco secundário.

O Jackdevil tem aquele tipo de som que a maioria dos headbangers recifenses adoram, um Thrash Metal/Crossover Old School setentista, e sonoridade suja, rápida e pesada. Tanto que a recepção da plateia não foi diferente do imaginado, fazendo uma roda punk frenética e violenta do início ao fim.

O som do grupo de São Luís do Maranhão lembra bastante o que é feito pela banda brasiliense Violator, inclusive na questão dos vocais.

Da mesma forma que o público correspondeu de forma positiva, a banda também executou bem a sua parte, não só com a música, mais também com a animação e presença por palco por parte dos integrantes, que utilizavam roupas típicas das bandas de metal dos anos 80.

Ainda com o mesmo dinamismo de sempre, assim que o Jackdevil encerrava sua apresentação no palco secundário, a banda paulista Maestrick era anunciada como o próximo a subir no palco principal do Baile Perfumado.

A banda formada atualmente por Fábio Caldeira (vocal), Heitor Matos (bateria) e Renato Montanha (baixo), veio ao Abril Pro Rock acompanhados pelo guitarrista Gustavo Carmo do Versover (eles não utilizam guitarrista fixo atualmente) e pela vocalista Talita Quintano do Soulspell.

Divulgando o disco “Expresso Della Vita: Solare”, lançado ano passado, o Maestrick apresentou seu Metal Progressivo melódico, limpo e técnico, sendo em minha opinião, o principal destaque da noite por fazer uma bela apresentação com muita qualidade, não havendo nenhum problema técnico na mesma. No setlist, a banda tocou músicas de seu último disco, e também faixas do “Unppuzle!”, seu álbum de estreia.

O vocalista Fábio além de demonstrar uma qualidade técnica vocal monstra, também apresentou uma boa presença e postura de palco em todo o show.

Talita também fez uma boa performance mesmo sua voz sendo ofuscada pela do Fábio em algumas músicas, mas nas partes onde ela cantava sozinha, conseguiu demonstrar sua qualidade e se destacar, principalmente na música “Hijos De La Tierra”.

Mas o ponto alto da noite foi quando o grupo de maracatu Baque Mulher se juntou ao palco com o Maestrick para duas músicas, e mesmo ambos os grupos tendo ensaiado juntos apenas na noite anterior ao show, a proposta se encaixou perfeitamente e as meninas mostraram muito bem a que vieram.

No palco tudo saiu perfeito, mas infelizmente o quesito “plateia” não ajudou muito, pois a mesma se dispersou bastante durante o show do Maestrick. Muito provavelmente, isso se deve ao fato que os headbangers locais têm uma preferência maior pelos estilos mais extremos, e como o Maestrick tem uma proposta mais melódica, muitos dos que estavam lá não devem ter curtido muito.

Assim que o Maestrick deixou o palco principal, a “brutalidade” voltou a tomar conta do Baile Perfumado com o início do show do Malefactor no palco secundário.

Os baianos do Malefactor apresentam um daqueles sons difíceis de rotular, sendo algo bem próximo daquilo que chamamos de “Blackned Death Metal”, mas para os presentes isso pouco importava, tendo brutalidade, agressividade e brecha para fazer um mosh pit insano, já estava valendo.

Brutalidade e muito peso foi o que definiu o show do Malefactor do início ao fim, a plateia no começo ficou tímida, mas a partir da segunda ou terceira música iniciaram um mosh pit que só parou no fim da apresentação.

O Malefactor conseguiu fazer um bom “esquenta” para os finlandeses do Amorphis, a atração mais esperada da noite que começou logo em seguida no palco principal após o fim do show dos baianos.

O relógio marcava um pouco depois das onze da noite quando o Amorphis subiu ao palco do Baile Perfumado para iniciar sua passagem pelo calor de Recife, trazendo a turnê do seu mais recente disco “Queen Of Time”.

Quando começou o show dos finlandeses foi quando pudemos ter ideia do número concreto de pessoas que estavam no Baile Perfumado naquele dia, que infelizmente não era muito expressivo. Mas falaremos mais sobre isso daqui a pouco.

O público podia não estar em um número muito grande, mas mesmo assim a interação entre eles e a banda foi a melhor possível, com eles cantando todas as músicas do início ao fim, pulando e fazendo alguns moshs ao longo da apresentação.

O Amorphis apresenta uma sonoridade bem moderna, com algo que podemos chamar de “Death Metal Melódico Progressivo”. O grupo consegue mesclar bem vocais guturais e limpos, com linhas de guitarras melódicas, proporcionando uma sonoridade bastante limpa.

O vocalista Tomi Joutsen mostrou também uma ótima presença de palco, apesar de ter poupado bastante as palavras na hora de conversar com o público, mas não irei julgar, pois esse é o jeito europeu de ser.

Definitivamente, o ponto alto do show foi em sua última música, onde a plateia juntou as últimas energias que ainda tinham da maratona de shows e cantou junto com a banda a faixa “House Of Sleep”, do disco “Eclipse”, de 2006, encerrando a primeira noite do Abril Pro Rock com chave de ouro.

No quesito de “atrações” e “apresentações” o Abril Pro Rock não deixou nada a desejar, menos ainda no quesito “organização”, mais uma vez a produção mostrou sua pontualidade britânica, e o único problema técnico que reparei ao longo das cinco horas de evento foi apenas a questão do jogo de luz durante o show da Camus, mas de resto, tudo funcionou bem, inclusive o som que estava o mais limpo possível.

Mas ainda defendo que o Abril Pro Rock continue usando a dinâmica dos dois palcos, mas comece a estabelecer um intervalo de 10 minutos entra uma atração e outra, até mesmo para o público poder conferir as outras coisas que o evento oferece, e também para dar uma descansada para não chegarem no último show da noite completamente exaustos.

E claro, não posso deixar de elogiar a produção pela justa homenagem a Enzo Fernando, considerado o fã número do festival, que infelizmente nos deixou no fim do ano passado, vítima de leucemia.

Infelizmente, o público presente na noite não correspondeu as expectativas em questão de número, estima-se que havia entre 800 e mil pessoas no Baile Perfumado. Não chegou a ser aquela coisa pífia que foi o primeiro dia do Abril Pro Rock de 2018, mas foi completamente abaixo do que a casa comporta.

Um dos fatores para isso pode ser a questão da má divulgação, mas volto a repetir aquilo que sempre digo, infelizmente não existe show de metal bem divulgado em Recife atualmente.

Mas, pegando um pouco a onda no ponto de vista de um colega de imprensa (pois faz todo o sentido), talvez a ideia de fazer o festival esse ano em dois fins de semana talvez não tenha sido das melhores, pois fez com aqueles que vêm de fora do estado escolher entre o dia 12 e 20 (levando em consideração apenas os dias com atrações do metal, pois o dia 19 está com uma programação completamente a parte), e normalmente o pessoal sempre escolhe o sábado dos camisas pretas, por ser o dia com atrações mais extremas.

No mais, agora o festival fará uma pausa de uma semana, e voltará com toda a força nos dias 19 (dia apenas com atrações femininas) e 20 (a noite dos camisas pretas).