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Para quem não conhece, a Ópera de Arame é um teatro com estrutura metálica, construído com tubos de aço e vidro, que fica em uma antiga pedreira. Para se chegar ao teatro, há uma passarela de metal com uma transparência no chão capaz de amedrontar aqueles que têm medo de altura.
Enquanto a Pedreira Paulo Leminski entoava cantos de adoração com a Hillsong United, a vizinha Ópera de Arame entrava em um clima sombrio. Se você se concentrasse bem, podia perceber as névoas saindo do lago que passa debaixo da passarela metálica. Era noite e estava frio, e se nada disso indicasse o que esperar, com certeza os looks a lá Rachel, de Blade Runner (ou vampirescos carregados de coturno, e muito preto), que desciam a escadaria para o palco, deixavam claro o clima da noite.
O cartaz na entrada anunciava que o The Sisters of Mercy estaria no dia 08 de novembro na Ópera de Arame, em Curitiba. Bem, era oito de novembro.
The Secret Society
Às 20h45 o clima de fumaça começou e The Secret Society entrou no palco. A banda se formou em 2017 por Guto Diaz (voz e baixo), Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlando Custódio (bateria). Mas os músicos já tem história na cidade, na década de 90, com a primal… . “Menos de um mês atrás, dia 18 de outubro a gente lançou nosso álbum de estreia, Rites of Fire. Alguém já ouviu? Os Ritos de Fogo, né. Os Ritos de Fogo são para a gente celebrar com os vivos e honrar os mortos.”, disse o vocalista antes de anunciar a música que dá nome ao álbum.
Setlist:
“Mephistofaustian Transluciferation”, “Beyond the Gates”, “Fields of Glass”, “Rites of Fire”, “Mercy”, “The Final Cut”, “The Architecture of Melancholy”, “Rubicon”.
The Sisters of Mercy e o teatro de luz, sombra e fumaça
Eram 22h06, e se a falsa impressão de que não poderia ficar mais escuro iludiu seus sentidos, sinto muito. O palco se transformou em um grande teatro pós-moderno industrial de luz e sombra. O show ultrapassa os limites da música e é uma experiência sensorial. Se as igrejas do período gótico “davam a seus fiéis um reflexo de um outro mundo celestial que eles apenas ouviam falar nas escrituras”, o teatro de sombras e fumaça do The Sisters of Mercy dão ao público reflexos de um espectro, e a imagem do vocalista refletida na parede lembra os antigos virais de uma igreja. A mistura com a névoa que se forma da fumaça deixa as luzes tão profundas que elas parecem cortar a realidade e lembram vagamente uma cena do Matrix.
The Sisters of Mercy foi formado por Gary Marx e Andrew Eldritch, que queriam se ouvir no rádio, o que deu certo, mas não agradou aos ouvidos dos dois. Eles então resolveram começar de novo, no ano seguinte e não pararam desde então. A formação atual é com Andrew Eldritch nos vocais, Doktor Avalanche na bateria, Ben Christo e Dylan Smith nas guitarras e backing vocals. Bem, acontece que Doktor Avalanche não é exatamente uma pessoa, mas uma máquina operada por Ravey Davey. A banda inovou na época ao optar por uma Boss dr55, em vez do instrumento tradicional. Atualmente quem faz essa função é um notebook, mas o nome se mantém.
Depois de tocar “Flood II”, eles saíram do palco. Quando voltaram, após pedidos insistentes, até porque algumas das músicas mais famosas tinham ficado de fora como “Lucretia My Reflection” e “Temple of Love”, Andrew alertou: “É melhor vocês estarem preparados”. Apesar de o show ter tido poucas palavras proferidas, o contato com o público aconteceu através de pegar na mão de quem estava ali em frente ao palco. Quando “This Corrosion” terminou, e eles agradeceram, começou um aplauso mútuo, entre banda e plateia. Andrew, Ben, Dylan e Ravey ficaram abaixados, em postura de agradecimento, por exatamente 3 minutos.
A festa terminou no “porão” do teatro, onde tem um bar que dá uma vista bonita para a pedreira e o lago.
Setlist
“More”, “Ribbons”, “Crash and Burn”, “Doctor Jeep / Detonation Boulevard”, “No Time to Cry”, “Alice”, “Show Me”, “Dominion/Mother Russia”, “Marian”, “Better Reptile”, “First and Last and Always”, (Instrumental), “Something Fast”, “I Was Wrong”, “Flood II”.
Encore: “Lucretia My Reflection”, “Vision Thing”, “Temple of Love”, “This Corrosion”.