Em seus primeiros álbuns, o Sonic Youth entregava sua Noise Music através de um formato mais esteticamente hermético. Os elementos Pop foram sendo lapidados durante os anos e encontraram a devida medida do equilíbrio no aclamado “Daydream Nation”, de 1988.
Os dois anos seguintes envolveram uma mudança de gravadora, sustentada em parte pelo descontentamento com o tratamento dado ao disco “The Whitey Album”, lançado como um projeto batizado de Ciccone Youth. O novo selo, DGC Records, de David Geffen, seria a casa da banda pelos próximos dezesseis anos e abriria essa fase com um de seus melhores álbuns, na exata confluência entre o Experimental e o Pop e, certamente, com uma de suas capas mais conhecidas, o casal de beatniks que preenche a estampa de “Goo”, de 1990.
Não poderíamos jamais dissociar a cena alternativa norte-americana da influência exercida pelo quarteto nova-iorquino. “Goo” abre os anos noventa, período que veria a entrada em cena de bandas como Nirvana, Weezer, Dinosaur Jr. e Pavement. Desde a primeira faixa, “Dirty Boots”, a solução entre melodia e suavidade avança para um clímax poderoso e, então, dá uma reviravolta para “Tunic (Song For Karen)”, onde Kim Gordon faz uma dolorosa homenagem à falecida cantora Karen Carpenter. Nessa canção, Gordon utiliza de sua maneira interpretativa mais falada, que seria explorada em outras músicas do grupo, como “Little Trouble Girl”, de 1995.
Depois do Punk Rock “Mary-Christ”, Kim retornaria com os temas de empoderamento feminino que tanto lhe são caros, acompanhada pelo rapper Chuck D, no single “Kool Thing”. O momento seguinte do tracklist é “Mote”, cantada por Lee Ranaldo. A dupla de guitarristas, formada por Ranaldo e Thurston Moore, é, certamente, uma das mais importantes dentro da história do Rock, e o final de “Mote” apresenta ambos explorando todas as possibilidades de microfonias e efeitos, enquanto o baterista Steve Shelley vai preenchendo os espaços.
“My Friend Goo”, embora tenha emprestado parte de seu título para nomear o álbum, não tem tantos atrativos além do timbre distorcido do baixo de Kim. O destaque viria na sequência, pois o tino de Moore para as melodias cativantes encontravam-se em um momento afinadíssimo, como poderíamos comprovar na maravilhosa “Disappearer”. O Noise, por outro lado, é explorado de formas variadas durante a trinca “Mildred Pierce”, “Cinderella´s Big Score” e “Scooter + Jinx”, sendo que esta última foi a responsável pelo superaquecimento e explosão do amplificador de Moore durante a gravação.
O álbum termina com o punch e as mudanças rítmicas de “Titanium Exposé”.
O Sonic Youth já tinha cerca de uma década de atividade na frente do cenário que ajudou a moldar, mas caminhou em pé de igualdade com este. Sua música, no entanto, manteve-se sempre alguns passos adiante e a passagem dos anos não diminuiu o seu caráter desafiador. O domínio de sua proposta sonora alcançou tal nível que, em suas apresentações ao vivo, coisas ensaiadas pareciam improvisadas e coisas improvisadas pareciam ensaiadas. Tendo bebido na fonte de Velvet Underground e Stooges, o Sonic Youth fez a transição entre gerações. O cenário independente manifestaria-se inevitavelmente, mas não seria o mesmo sem o impacto do Sonic Youth.
Goo – Sonic Youth
Data de Lançamento: 26/06/1990
Gravadora: DGC
Tracklist:
01 Dirty Boots
02 Tunic (Song for Karen)
03 Mary-Christ
04 Kool Thing
05 Mote
06 My Friend Goo
07 Disappearer
08 Mildred Pierce
09 Cinderella’s Big Score
10 Scooter + Jinx
11 Titanium Exposé
Formação:
Thurston Moore – vocal, guitarra
Lee Ranaldo – guitarra, vocal
Kim Gordon – vocal, baixo
Steve Shelley – bateria