Quando o ZZ Top lançou o seu primeiro DVD ao vivo, “Live From Texas”, em 2008, as canções de “Tejas” não foram incluídas no setlist. Considerando que se trata de um álbum da fase clássica do conjunto, chega a ser sintomático, ainda mais quando se nota que músicas dos discos anteriores e posteriores marcaram presença no repertório. Seria “Tejas” um trabalho menor dentro da discografia do trio de Hard Blues norte-americano?
Não, de modo algum. O quinto disco do conjunto é um trabalho consistente. Apenas o tino para a construção de hits mostrou-se menos afiado. No entanto, devemos lembrar que o hit não deve ser o fiel da balança quando falamos em Rock´n´Roll. “Tejas”, cujo nome é uma clara menção ao estado de origem do conjunto – o Texas – na transcrição do linguajar das tribos nativas do sudeste americano, surgiu em um momento crucial dentro de sua carreira: um ano e meio após o sucesso avassalador de “Fandango!” e nas vésperas dos preparativos da histórica “Worldwide Texas Tour”, onde o palco trazia um pouco do “clima caseiro”, com cactos espalhados ao redor de animais nativos, como búfalos e abutres.
Sim, eram os anos setenta, época em que ideias desse naipe soavam geniais até o momento de serem incorporadas no folclore do Rock. A produção do álbum, porém, não foi afetada por fatores externos. Bill Ham ainda era o homem por trás da mesa, tendo ocupado esse posto desde o disco de estreia, em 1971, até “Rhythmeen”, de 1996, e em termos de execução, tudo permanecia em seu devido lugar.
A abertura com “It´s Only Love” oferece aquele gostinho de jogo ganho, através de uma deliciosa composição com levada à la Rolling Stones, onde somos imediatamente presenteados com um daqueles impecáveis duetos entre as vozes do guitarrista Billy Gibbons e do baixista Dusty Hill. Basta a primeira audição do pegajoso refrão para que o ouvinte resolva adicionar a sua própria voz à melodia. Em “Arrested For Driving While Blind” a coisa muda de figura. O approach Blues tornar-se-á mais evidente e “El Diablo” não foge da aura mística que tem sido companheira do estilo desde a época de Robert Johnson.
Na verdade, “Snappy Kakkie”, com seu ritmo quebrado, foge um pouco do padrão do disco e não acrescenta nenhum ponto qualitativo, fazendo com que “Enjoy And Get It On” nos traga uma certa dose de alívio, robustecida quando Hill assume a voz principal de “Ten Dollar Man”, com a mesma aspereza que emprega nas quatro cordas.
Ao chegar até aqui, deparamos com a dobradinha “Pan Am Highway Blues” e “Avalon Hideaway”, que, apesar de boas, não chegam a empolgar tanto quanto “She´s a Heartbreaker”, onde os traços stoneanos parecem fazer com que o disco cumpra um ciclo entre o seu início e seu fim. A melodia árida de “Asleep In The Desert” é a ponte que fecha esse ciclo e fez de “Tejas” o álbum necessário para que o ZZ Top acumulasse fôlego para a obtenção do sucesso e não esmorecesse em sua próxima fase, permitindo retomar seu projeto com ainda mais energia. Daí, talvez, a razão do disco ter esse nome. Uma parada em casa é o que precisamos entre os desafios do dia que termina e aqueles que virão na sequência.
Tejas – ZZ Top
Data de Lançamento: 29/11/1976
Gravadora: London
Tracklist:
01 It’s Only Love
02 Arrested for Driving While Blind
03 El Diablo
04 Snappy Kakkie
05 Enjoy and Get It On
06 Ten Dollar Man
07 Pan Am Highway Blues
08 Avalon Hideaway
09 She’s a Heartbreaker
10 Asleep in the Desert
Formação:
Billy Gibbons – guitarra, vocal, harmonica
Dusty Hill – baixo, teclado, backing vocal, vocal em “Ten Dollar Man”
Frank Beard – bateria