Já perceberam como existem discos que são apontados como mudança de rumo de algumas bandas, mas que, no decorrer de sua audição, as músicas parecem voltar para o padrão original do artista? Começam de uma certa maneira, trazendo propostas diferentes e, estando essas apresentadas, um pouco do bom e velho som original tende a retomar o espaço.
“The Headless Children” é o quarto álbum de estúdio do W.A.S.P. e seu conteúdo cabe nesse tipo de contexto. Pode ser entendido, afinal, como um disco de transição, fazendo a ponte entre a banda do começo e aquela que viria a gravar o festejado “The Crimson Idol”. “The Headless Children” foi o disco necessário para pavimentar os próximos anos de carreira da equipe comandada por Blackie Lawless.
Este trabalho, que completou 30 anos em abril, foi o segundo onde o líder assumiu sozinho a produção. A ilustração da capa trazia a imagem de algumas figuras controversas da história e os temas líricos afastavam-se do hedonismo Glam em direção a assuntos mais densos, política e socialmente falando. Esse apuro encontrou reflexo nos arranjos musicais. A primeira faixa, “The Heretic (The Lost Child)” surpreende desde o princípio e segue surpreendendo até o seu clímax, espiralando em camadas que fazem com que pareça que ela não vai acabar nunca, que em breve vai ser acrescentado mais um riff, mais um solo, mais um andamento e ela prosseguirá e prosseguirá…
A escolha de “The Real Me”, do Who, para a sequência, não foi tão eficaz quanto a grandiosidade dessa canção poderia fazer esperar. Frankie Banali é um ótimo baterista e de fato se esforça aqui, mas a realidade é que ninguém consegue replicar o caos ritmico que era Keith Moon. Talvez a escolha de uma composição própria fosse mais adequada, principalmente se fosse uma com a força da faixa título, que surge logo após. Do meio para o final, quando a base de “The Headless Children” acelera, você se pega novamente torcendo para que a música tenha a sua duração prolongada. São sensações proporcionadas pelo alto nível apresentado e que nos mantém em estado de permanente atenção.
Até que chega “Mean Man” e o rendimento cai. O guitarrista Chris Holmes, a quem a música homenageia, merecia algo melhor. A faixa, caracterizada por uma levada Rock´n´Roll mais básica, soa genérica e destoa do que vinha sendo executado até então. Poderia até encontrar seu espaço em algum dos dois discos anteriores, mas neste ficou deslocada.
“The Neutron Bomber” é a retomada da excelência. As partes instrumentais são instigantes e robustecem a dinâmica da canção. A partir de agora, o que virá não estará isento de bons predicados, mas estão mais próximas do velho W.A.S.P., sem descerem porém à redundância de “Mean Man”. É o caso, por exemplo, da power ballad “Forever Free”, agradável, mas sem grandes arroubos, embora o timbre do teclado do final pareça estranhamente familiar… Sim, é Ken Hensley, ex-Uriah Heep, que participou das gravações. “Maneater” soa correta e “Rebel in The F.D.G.” possui um começo priestiniano, com refrão cativante, adequada para fechar a rotação.
O saldo do disco é de quatro canções fantásticas, três boas e uma abaixo da média. Somando ao cover e à pequena instrumental “Mephisto Waltz” é possível concluir que o W.A.S.P. teve uma margem de acerto de considerável largura. Caso o disco fosse inteiro no nível daquelas quatro músicas, a nota seria certamente um dez, mas a perfeição estava sendo construída e viria plena três anos depois, após ter sido delineada aqui.
Formação
Blackie Lawless – vocal, guitarra
Chris Holmes – guitarra
Johnny Rod – baixo
Frankie Banali – bateria
Músicas
01 The Heretic (The Lost Child)
02 The Real Me
03 The Headless Children
04 Thunderhead
05 Mean Man
06 The Neutron Bomber
07 Mephisto Waltz
08 Forever Free
09 Maneater
10 Rebel in the F.D.G.