Você pode não gostar da carreira do Venom em si, mas duvido que ao menos uma música nunca tenha cativado o seu lado “capirotesco”. Adentrando o novo milênio, é claro que a lenda do Metal inglês não deixaria essa data emblemática passar batida e trataria de colocar no mercado o seu décimo álbum oficial ‘Resurrection’, no dia 06 de junho.
Com uma sensível mudança na formação, o álbum passou a contar com o irmão de Cronos, o baterista Antton, no lugar de Abaddon. O guitarrista Mantas completava o trio, que entregou ao mundo quatorze composições, três anos após ‘Cast in Stone’.
A essência maligna e a forte pulsação metálica estão bem explícitas logo na abertura, com a faixa título. De levada com doses de groove (que também divide espaço com alguns disparos de bumbos), mas friamente calculada e ao mesmo tempo envolvente, soa como um prelúdio de uma audição interessante. Nota-se também uma boa qualidade de produção, que felizmente, soa anos luz dos trabalhos clássicos dos primórdios.
Havia anos que eu não pegava este álbum para ouvir de cabo a rabo, então foi bem agradável me deparar com “Vengeance” e sua sonoridade poderosa, amparada pela potente bateria de Antton, que trouxe um novo gás à banda. A potência não é reduzida em “War Against Christ”, que soa bem Thrash em diversos momentos, ainda que acabe cedendo espaço ao clima lúgubre no refrão. A carga instrumental obscura é deixada brevemente de lado em “All There is Fear”, com Cronos apresentando alguma melodia em seu vocal aqui e ali, em caráter quase experimental, eu diria, além de um bom solo de Mantas – que já estaria fora do Venom no próximo álbum.
O vigor maligno retorna com “Pain”, juntamente com a aura Thrash e batidas fortes. “Pandemonium” segura um pouco a onda novamente, apenas para o ouvinte poder recobrar o fôlego. É fato que os refrões em ‘Resurrection’ foram pensados com cuidado, e cada um deles apresenta características diferentes. Aqui, uma levada quase Heavy Tradicional se faz presente. Aliás, as composições, em sua maioria, em momento algum soam repetitivas, e isso torna o trabalho marcante.
A curta “Loaded” predomina com elementos mais “modernos” (para a época do lançamento, claro), não fosse pelo característico vocal de Cronos, poderia se pensar estar ouvindo outra banda. Ainda sobre a “modernidade”, um sampler meio maluco dá o pontapé inicial em “Firelight”, porém nada que cause espanto, pois a melodia usada no recurso foi transportada para os demais instrumentos logo em seguida, em um clima quase apocalíptico e criando um dos pontos mais impactantes do álbum – quase viciante, diga-se. A direta e empolgante “Black Flame (of Satan)” não abre brechas para experimentalismos (como em algumas faixas anteriores) e aposta no habitual, com qualidade de sobra.
Um misterioso, econômico e interessante sampler é disparado como introdução em “Control Freak”, que entre as levadas quebradas também podemos apreciar um assalto rítmico em alta velocidade. A energia não é deixada de lado em “Disbeliever” (ainda que não possua a mesma carga da composição anterior) com direito a sonoplastia de platéia, em determinado momento, como se a música tivesse sido gravada ao vivo. Seria isso, uma minúscula amostra de um suposto humor inglês da banda?
Conferindo o décimo full length do Venom depois de muitos anos, peguei-me questionando o porquê de nunca tê-lo ouvido com o mesmo interesse e admiração antes… Como não posso voltar no tempo, me resta finalizar este texto com a trinca “Man, Myth, Magic” – breve, porém furiosa -, “Thirteen” – com pegada mais tradicional, mas sem tantas surpresas – e “Leviathan” – mais contida e com passagens mais trabalhadas, em relação às melodias, no propício clima de encerramento.
Prestes a completar duas décadas de seu lançamento, o trabalho soa muito bem e pode ser um começo e tanto para quem não tem familiaridade com o Venom. A entrada de Antton foi uma atitude mais do que acertada, trazendo resultados bastante positivos na sonoridade, causando mais impacto e não economizando no peso. Entretanto, quatorze faixas talvez tenha sido um número desnecessário, não precisando esbarrar na marca de 01 hora para exibir a sonoridade robusta e em plena forma.
No mais: ouça!
Faixas:
01. Resurrection
02. Vengeance
03. War Against Christ
04. All There Is Fear
05. Pain
06. Pandemonium
07. Loaded
08. Firelight
09. Black Flame (of Satan)
10. Control Freak
11. Disbeliever
12. Man Myth & Magic
13. Thirteen
14. Leviathan
Formação:
Cronos (vocal e baixo)
Mantas (guitarras e backing vocals)
Antton (bateria).
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8.5/10