Aos primeiros segundos, a sensação é de que uma nova subdivisão do Metal foi inaugurada! Algo que poderia ser denominado como Britadeira Metal. Os instantes iniciais de ataque são tão intensos que quando os demais instrumentos fazem a sua entrada você ainda está absorvendo a contundência dos golpes deferidos pelo baterista Doc. O nome da música é “Wings” e é difícil crer que algo tão pesado possa levantar voo.
“Litany” é o quarto álbum do Vader e, à essa altura, a banda já tinha galgado posições de destaque, graças ao trabalho perseverante e intenso, tanto em estúdio quanto nos palcos. Pela primeira vez, o Vader mantinha a mesma formação por dois álbuns seguidos, repetindo a configuração que gravou o disco “Black to the Blind”, de 1997, mas não conseguindo repetir o feito no futuro, por conta da saída do baixista Shambo. Em “Litany”, porém, essa momentânea estabilidade se fez transparecer em cada segundo de sua duração. A cena polonesa, sob uma ótica isolada, também refletia uma fase de criatividade exacerbada, visto que, naquele mesmo ano, os conterrâneos do Behemoth estavam lançando o essencial “Thelema.6”.
Em sua origem, o Vader, dentro de sua própria escala evolutiva, navegou temporariamente nos mares do Thrash Metal e essa fase embrionária se faz presente no Death Metal que passaram a desenvolver, com nítidas influências de Slayer, muito perceptíveis na estrutura dos riffs e que transpareceram até mesmo na distribuição e no formato das faixas. O disco completo possui 30 minutos de duração, com várias músicas que não ultrapassam a marca dos dois minutos.
A violência da performance de Doc é incontestável, soando tão imenso como se pudéssemos acelerar os disparos de uma bazuca, mas essa artilharia está a serviço da excelência das composições de Peter, que assina todas as músicas do disco. Após a abertura promovida por “Wings”, a intensidade do ritmo é mantida com “The One Made of Dreams” e conclui sua trajetória na melhor faixa do álbum, “Xeper”, inexplicavelmente ausente dos setlists atuais da banda em detrimento de “Cold Demons”, que também é excelente, mas não tão boa quanto aquela.
A faixa título cumpre bem o seu papel, mas sem se afastar do ponto de intensidade intermediária que identifica canções como “The Calling”. A verdade é que a banda cresce na brutalidade e no extremismo e é isso que faz com que músicas como “North”, “Forwards to Die!!!” e “A World of Hurt” surjam superiores, com uma urgência que faz parecer como se gravar aquele disco fosse a última coisa a fazer na vida. A atuação de Peter como vocalista é outro fator que distingue o Vader, pois o seu gutural, embora grave e forte, não soa tão ininteligível quanto parecem ser tantos outros frontmans do Death Metal, que vociferam de forma a dificultar a compreensão do que dizem. Peter se faz entender e, assim, resulta numa postura bem mais ameaçadora.
“The World Made Flesh” equipara-se a “Xeper”, no posto de destaque entre as demais e poderia ser o verdadeiro momento conclusivo do disco, não fosse a regravação de “The Final Massacre”, originária do primeiro álbum, “The Ultimate Incantation”, de 1992, aqui presente em versão mais mortífera. Esse poder letal justifica o fato do disco ser curto. Ser submetido a longas exposições do poderio do Vader pode levar a consequências fatais para quem não está preparado para o Death Metal.
Formação
Piotr “Peter” Wiwczarek – guitarra, vocal
Maurycy “Mauser” Stefanowicz – guitarra
Leszek “Shambo” Rakowski – baixo
Krzysztof “Doc” Raczkowski – bateria
Músicas
01.Wings
02.The One Made of Dreams
03.Xeper
04.Litany
05.Cold Demons
06.The Calling
07.North
08.Forwards to Die!!!
09.A World of Hurt
10.The World Made Flesh
11.The Final Massacre
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9/10