O que faz uma banda depois de atingir o sucesso?
Depois de lançar um disco que dispara na parada, lançar clipes que entram em alta rotação na MTV e ampliar sua agenda de shows… Para a maioria dos artistas, sedentos por um lugar ao sol no mainstream, a solução seria a boa e velha repetição de fórmula, visando mais sucesso, mais cachês, mais holofotes, mais capas de revistas. Artisticamente questionável, claro, mas acontece com frequência e, não raro também, o resultado desse autoplágio finda por não acertar no alvo desejado.
Existe também o outro lado da moeda. Voluntariamente, por vezes, o artista quer se desvincular e percorrer diferentes soluções criativas. Involuntariamente, o artista pode o fazer como consequência de toda a pressão de manter-se no topo, chegando mesmo a ser indiretamente cobrado por sua equipe, que precisa manter a atividade e os ganhos. Isso gera uma espiral criativa para onde flui todo o amargor e frustração, findando por produzir uma obra onde nuvens carregadas tomam o lugar da clareza solar que até então brilhava.
Assim foi com o Therapy?. Seu álbum “Troublegum”, de 1994, era uma coleção de hits grudentos de Metal Alternativo, carregado com toneladas de refrãos para serem ouvidos em volume bem alto. A estrada cobrou um alto preço e a expectativa gerada em cima de “Infernal Love” fez com que a recepção da obra fosse um tanto quanto fria, embora injustamente.
“Infernal Love” possui uma densidade sombria, em boa parte de sua duração, e, no restante, faz acenos para a personalidade consagrada em “Troublegum”. Avaliado em seu todo, é um excelente disco. Dinâmico, sóbrio e variado, na medida inconfundível da capa que traz o trabalho fotográfico de Anton Corbijn, que já colaborou com U2 e Metallica.
A primeira faixa, “Epilepsy”, abre o trabalho com energia rústica e uma letra minimalista. Quando chega o riff pesado de “Stories”, tudo parece ainda inalterável no reino do Therapy?, tão certo quanto o fato de que pessoas felizes não tem histórias. Uma intro melódica dá início a “A Moment of Clarity”, triste e dramática.
O andamento e a melodia de “Jude The Obscene” elevam o tom, mas as mencionadas características de “A Moment of Clarity” podem ser utilizadas para também descrever “Bowels of Love”, que é enriquecida pela participação do violoncelo do convidado Martin McCarrick, que a partir do próximo álbum passaria a integrar a formação junto com Andy Cairns e Michael McKeegan, sendo que o baterista Fyfe Ewing deixaria o Therapy? em meio à turnê.
“Misery”, “Loose” e “30 Seconds” tornam a trazer o perfil de Metal radiofônico, com um ritmo mais acelerado nesta última, equilibrando com a bad trip de “Bad Mother” e “Me Vs. You”. O tracklist completa-se com “Diane”, releitura de uma canção do Hüsker Dü, onde o violoncelo conduz o arranjo.
Após “Infernal Love”, o Therapy?, pela primeira vez, fez uma pausa de três anos entre seus lançamentos, a maior até então. Era necessário, pois as críticas recebidas, e as consequentes mudanças de formação, exigiram que a banda repensasse seu trajeto. Olhando em retrospecto, as reações manifestas foram precipitadas. “Infernal Love” é um ótimo álbum e seu prestígio cresceu com o tempo.
Tornar-se melhor a cada audição é, afinal, um privilégio restrito a poucas obras.
Infernal Love – Therapy?
Data de Lançamento: 12/06/1995
Gravadora: A&M
Tracklist:
01 Epilepsy
02 Stories
03 A Moment of Clarity
04 Jude the Obscene
05 Bowels of Love
06 Misery
07 Bad Mother
08 Me Vs You
09 Loose
10 Diane
11 30 Seconds
Formação:
Andy Cairns – vocal, guitarra
Fyfe Ewing – bateria
Michael McKeegan – baixo