Em pouco tempo, a carreira do Suicidal Tendencies passou por muitas reviravoltas. Atingiram o ápice da popularidade com a veiculação massiva do clipe de “You Can´t Bring Me Down”, depois o experimental “The Art Of Rebellion” e o bem concebido disco de releituras do trabalho de estreia. Por fim, o amargo e irregular “Suicidal For Life”.
E, por algum tempo, foi realmente o fim.
Só que o mundo precisa do Suicidal Tendencies e, portanto, a pausa de cinco anos não poderia mais prevalecer. Mike Muir trazia sua criatura de volta a vida, contando apenas com o guitarrista Mike Clark da formação clássica. Robert Trujillo e Rocky George partiram e cederam suas vagas para Josh Paul e Dean Pleasants, sendo que este último assumiu o posto de fiel escudeiro, permanecendo estável na formação desde seu ingresso.
“Freedumb” trazia o velho Suicidal homogeneamente misturado com o novo Suicidal. A veia Hardcore, com músicas curtas, rápidas e diretas estava de volta, mas as levadas funkeadas, herança do projeto Infectious Grooves, também acenava registrando sua presença. Muito pode ser dito, mas é indiscutível que Robert Trujillo mudou o som de baixo do Suicidal de maneira definitiva! Qualquer um que comandar as quatro cordas terá que demonstrar ter fogo nas juntas e ser apreciador dos slaps furiosos!
A faixa título tem todos os predicados para resumir o que foi dito até agora. Hardcore insano, bateria monstruosa de Brooks Wackerman e paradas marcadas pelas intervenções grooveadas de Josh Paul. São estes dois que dão início a “Ain´t Gonna Take It”, cujo andamento mais balanceado é seguido pela porrada de “Scream Out”. Depois vem “Half Way Up My Head”, aquele tipo de música que só poderia sair da cabeça de Mike Muir, intercalando o Crossover com o Ska de uma forma completamente única.
“Cyco Vision” integrou a trilha sonora do game “Tony Hawk´s Pro Skater”, de forma muito apropriada. “I Ain´t Like You” repete o recurso de mudar o andamento seguindo as coordenadas das linhas de baixo, mas “Naked” me pareceu bem diferenciada, em uma linha de Rock Alternativo, onde algumas passagens chegaram a me lembrar bandas como Pixies. “Hippie Killer” é bem melhor e “Built To Survive” é daquelas que você consegue enxergar mentalmente a reação das rodas de mosh do público durante sua execução.
Em um disco com catorze músicas, nem sempre dá para manter o nível intermitentemente no ponto mais alto. “Get Sick” e “We Are Family” são ótimas, embora não sejam brilhantes, mas sempre se deve destacar a prática da banda em se autorreferenciar nas letras, com “suicidal” e “ST” espalhados por todos os lados. Talvez não seja coincidência que a música mais curta, “I´ll Buy Myself”, seria a que eu cortaria, mas achei seus trechos de “quack quack woop woop” bem irritantes. Não deve ser difícil imaginar o porquê.
“Gaigan Go Home” é a última canção com pegada mais intensa, antes da conclusão com “Heaven”, uma composição que poderia estar mais confortavelmente adaptada em “The Art Of Rebellion”. Aqui o disco se encerra, mas apesar de uns ou outros poucos momentos de menor impacto, o certo é que este álbum foi uma retomada com o pé direito para o Suicidal. A banda não poderia existir sem Muir, mas mesmo este sabe que a criatura é maior que o criador. Tendo o grupo retomado seu lugar, o compromisso de lealdade foi restabelecido e o coro pode continuar a ecoar as consoantes “ST”… “ST”… “ST”…
Formação
Mike Muir – vocal
Dean Pleasants – guitarra
Mike Clark – guitarra
Brooks Wackerman – bateria
Josh Paul – baixo
Músicas
01 Freedumb
02 Ain’t Gonna Take It
03 Scream Out
04 Half Way up My Head
05 Cyco Vision
06 I Ain’t Like You
07 Naked
08 Hippie Killer
09 Built to Survive
10 Get Sick
11 We Are Family
12 I’ll Buy Myself
13 Gaigan Go Home
14 Heaven