Em parte por culpa da imprensa menos qualificada, em parte por culpa de uma parcela do público mais afeita aos rótulos fáceis, uma leva de bandas que emergiram nos anos 90 foi jogada na vala comum da nomenclatura criada para aglutinar as bandas de Seattle, sem sequer terem tantos pontos assim em comum, além de um eventual resgaste de sons setentistas. Smashing Pumpkins, L7 ou Blind Melon são alguns dos nomes erroneamente inseridos nesse rol, assim como, da mesma forma, é o Stone Temple Pilots.
O quarteto californiano estreou em 1992 com um álbum fortíssimo, intitulado “Core”, e manteve uma periodicidade com intervalos de biênios até chegar neste terceiro trabalho. Embora a carismática presença do vocalista Scott Weiland acrescentasse alguns ares de protagonismo à sua participação, o certo é que o STP funcionava amparado na colaboração de todos seus integrantes, cabendo aos irmãos DeLeo – Dean e Robert – a composição das músicas, carregadas de melodias cativantes.
“Tiny Music…” sofreu apenas pela falta de uma turnê de divulgação regular, pois os problemas de Weiland com as drogas colocaram pedras em cima desses planos, mas a recepção, por ocasião de seu lançamento, saudou-o como o melhor disco da banda até então. Não há como entrar em controvérsias aqui, pois de fato as canções apresentadas são bem elaboradas e variadas. “Press Play” é uma pequena introdução instrumental, daquelas que eu classifico como desperdício, pois, caso tivesse sido desenvolvida em uma música completa, poderia render uma composição bem interessante. Pelo menos é seguida pela irresistível levada Hard Rock de “Pop´s Love Suicide”. Se existe uma influência mais relevante para a musicalidade do STP, essa é o Aerosmith. A banda de Steven Tyler teria muitos pontos em comum com o STP caso fosse também da geração noventista.
E “Tumble In The Rough” consegue ser ainda melhor, graças ao staccato de seu riff, mas o primeiro single teria mesmo que ser “Big Bang Baby”, pois essa não esconde o potencial de hit. “Lady Picture Show” também foi single e é ainda mais suave – e radiofônica – que sua antecessora. O disco segue mostrando o quanto aquela fase da banda tinha potencial, pois já chegamos ao final da quarta música (descontando a intro) e não há quaisquer excessos.
Para corroborar essa impressão, a faixa seguinte é uma das mais surpreendentes, pois “And So I Know” é uma Bossa Nova que não estaria deslocada dentro de um disco de João Donato, por exemplo. “Trippin’ On A Hole In A Paper Heart” retoma o Hard, tendo sido também single, mas sem o mesmo gancho das demais. Nesse ponto, parece que o disco perde um pouco do brilho de sua parte inicial, pois “Art School Girl” é uma canção dispensável, onde o refrão e as estrofes parecem não conseguir se acomodar devidamente dentro da mesma composição.
“Adhesive” torna a elevar o ânimo, sendo uma música muito agradável, quase easy listening, que acolhe muito bem a inserção de um trompete dentro de sua melodia. “Ride The Cliché” torna a trazer o Aerosmith para o protagonismo das influências e permite a colocação de “Daisy”, um pequeno instrumental jazzístico, composto e tocado por Robert DeLeo na guitarra, como intervalo antes da última faixa, “Seven Caged Tigers”, possuidora de melodias Pop que conduzem o disco para o seu final sem comprometê-lo.
“Tiny Music…” é um grande álbum, onde a primeira metade é excelente e a segunda é boa. Mesmo suas canções menos inspiradas – à exceção de “Art School Girl” – não maculam a avaliação do produto como um todo. Os demônios que atormentavam Weiland foram também os que travaram a inclinação da banda para crescer. Infelizmente, eles findaram por nos privar do talento desse artista tão único, mas jamais poderiam ser capazes de sobrepujar a força da primeira trilogia de discos do Stone Temple Pilots.
Formação
Scott Weiland – vocal
Dean DeLeo – guitarra
Robert DeLeo – baixo
Eric Kretz – bateria
Músicas
01 Press Play
02 Pop’s Love Suicide
03 Tumble in the Rough
04 Big Bang Baby
05 Lady Picture Show
06 And So I Know
07 Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
08 Art School Girl
09 Adhesive
10 Ride the Cliché
11 Daisy
12 Seven Caged Tigers