Em 1991, os alemães do Running Wild alcançaram seu apogeu comercial ao lançar “Blazon Stone”, o álbum da banda que mais vendeu nos anos 90, segundo o vocalista e guitarrista Rock ‘n’ Rolf em entrevista à Roadie Crew. Foram quase 450 mil cópias vendidas em todo o mundo. O disco havia sido o primeiro com o baterista Rüdiger “AC” Dreffein e o guitarrista Axel Morgan. O primeiro seria substituído pouco depois por Stefan Scwarzmann, que então lançaria com o conjunto, um ano mais tarde, mais um disco que se elevou a clássico, colhendo excelentes resenhas da mídia crítica: “Pile of Skulls”. Mais um sucesso comercial, o trabalho vendeu mais de 350 mil cópias e também encerra a passagem do recém-contratado guitarrista Axel Morgan.
A proposta de fazer Heavy Metal baseado em temática lírica pirata é a principal marca de uma banda que conseguiu angariar admiradores em todo o globo… exceto por mim, que nunca fui afetado. Não é amor, nem ódio, mas apenas indiferença. “Pile of Skulls” consolida isso. Não é o mais lembrado dos germânicos, mas resguarda a essência que os consagrou. Trata-se de um Heavy Metal tradicional que alterna sua pegada entre algo mais cadenciado e especialmente algo mais pegado, em íntimos flertes com o Speed Metal. Nuances de Hard Rock também lampejam no decorrer do tempo, algo que já vinha sendo explorado nos discos anteriores.
Tecnicamente, não há nada de errado com o álbum ou com a banda. Em atenta análise, as particularidades dos riffs é criativa, madura e interessante; o vocal do líder Rock ‘n’ Rolf (que escreveu todas as músicas, exceto a faixa-título) é agressivo e característico, fazendo jus aos merecidos elogios de sempre; os solos de guitarra de Axel Morgan são excelentes, pontos de captura de atenção todas as vezes que emergem… mas juntando tudo em linhas contínuas, apreciando o conjunto da obra em sua totalidade… não fica tão forte quanto se propõe a ser. Não empolga.
Claro, a proposta da banda é, primeiramente, ser um conjunto de Heavy Metal. Porém, as inserções de backing vocals em coros piratas revelam também a intenção de fazer coerência com a temática. Ainda assim, essa artimanha é aqui, e frequentemente o é ao longo da discografia, demasiadamente tímida. Deveria receber mais atenção para dar a eles um maior diferencial que a pegada seca e homogênea do tradicionalismo que eles executam não os permite desenvolver. Essa incapacidade de tornar o som pirata ainda mais pirata ofusca a própria temática e os aproxima de ser mais uma banda em meio à multidão, sonoramente falando. Na maioria das canções, as letras tematizadas são apenas um brinde ilustrando musicalidades que em nada remetem a elas.
Ao meu ver, esse é um pecado capital dos alemães, fora o próprio Heavy Metal em si (deixando a pirataria de lado nesse momento), que embora bem arranjado, também não é destacável ou a melhor coisa que se tem por aí. Não é ruim, claro. É bom, mas aquele bom na média. Comum. Correto e só.
Mas nem tudo é uma gota no oceano. Algumas músicas de fato são mais destacáveis e dão algum prazer de ouvir. “Black Wings of Death” é uma delas, bem como “Pile of Skulls”. “White Buffalo” também entrega um tradicionalismo interessante, mas a coroa de ouro do baú de tesouros desenterrado mesmo é a épica “Treasure Island”, que fecha a edição padrão do álbum com seus 11 minutos. Excelente canção, com sons ambiente, narração na introdução e uma digna atmosfera pirata. Todo esse epicismo tem forte inspiração no livro de mesmo nome, lançado no século XIX pelo autor escocês Robert Louis Stevenson. A edição japonesa ainda traz uma faixa extra, chamada “Beggars Right”.
https://www.youtube.com/watch?v=g7S3bLKTZhk
Grande e consagrado, o Running Wild certamente é. Mas nunca senti neles o feeling, a força e a qualidade que muitos dizem ter. Sempre achei apenas uma banda correta, mas com várias carências qualitativas. Mesmo assim, seu legado permanece e influenciou diversas outras bandas de temática similar – entre elas, o Alestorm, apreciados escoceses que fazem Folk/Power Metal de declarada influência germânica.
Formação:
Rock ‘n’ Rolf (vocal e guitarra);
Axel Morgan (guitarra);
Thomas “Bodo” Smuszynski (baixo);
Stefan Scwarzmann (bateria).
Faixas:
01 – Chamber of Lies
02 – Whirlwind
03 – Sinister Eyes
04 – Black Wings of Death
05 – Fistful of Dynamite
06 – Roaring Thunder
07 – Pile of Skulls
08 – Lead Or Gold
09 – White Buffalo
10 – Jennings’ Revenge
11 – Treasure Island
12 – Beggars Right
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6/10