A lendária banda Quiet Riot, um dos ícones do Hard Rock setentista, passava por grandes mudanças ao longo dos anos 2000, a começar pela saída de duas peças importantes, o guitarrista Carlos Cavazo e o baixista Rudy Sarzo. Após o álbum “Guilty Pleasures” (2001), uma série de problemas envolvendo seus membros, principalmente desavenças entre o vocalista Kevin DuBrow e o baixista acabaram por fazer a banda encerrar suas atividades. Em 2004, a banda passa por uma reformulação, visando seu retorno, porém, sem Sarzo e Cavazo, entrando em seus lugares Chuck Wright e Alex Grossi, respctivamente. A dupla não durou muito, primeiro saindo Wright e em seguida, Grossi, ao longo de 2005, quando novas canções, visando um álbum futuro, estavam sendo compostas. Para repor as perdas, novos músicos se juntaram à banda, mesmo que por um breve momento. Os guitarristas Tracii Guns (L.A. Guns) e Billy Morris, bem como o ex-baixista Sean McNabb e o baixista Wayne Carver tiveram seus breves momentos.
Essas mudanças constantes atrapalharam as gravações e as atrasaram, adentrando ao ano de 2006, até que finalmente “Rehab”, o 11º álbum de estúdio do Quiet Riot, foi anunciado para o segundo semestre daquele ano com o guitarrista Neil Citron e o baixista Tony Franklin acompanhando Kevin DuBrow e Frankie Banali.
A tentativa dos músicos era fazer um álbum mais maduro, sonoramente falando, menos Glam e mais encorpado. De uma certa forma, isso chegou a ser declarado na época do lançamento, para que os fãs não estranhassem muito a nova sonoridade.
Apesar de terem saído da banda durante as gravações, tanto Citron, quanto Grossi, tiveram suas composições mantidas e acabaram por retornar à banda para a Tour de apoio.
Uma outra ajuda de peso veio do ex-Deep Purple e ex-Black Sabbath Glenn Hughes, que ajudou na composição de algumas faixas, vindo em auxílio de DuBrow, bem como na gravação de um belíssimo dueto com DuBrow, no cover “Evil Woman”, da banda britânica Spooky Tooth.
Na minha opinião, o álbum, de fato, soou diferente, menos empolgante, apesar de ter algumas ótimas músicas. Creio que os constantes problemas que surgiram na banda nos anos que antecederam ao seu lançamento atrapalharam e muito o que poderia vir a ser um grande álbum, até pelo fato de, infelizmente ser este o último registro do magnífico vocalista Kevin DuBrow, à frente do Quiet Riot, marcando sua despedida, uma vez que este veio a falecer no ano seguinte, no dia 25 de novembro, devido a uma overdose de cocaína.
Curiosamente, “Rehab”, termo que dá nome ao álbum, é usado para o tratamento de reabilitação para pessoas que lutam contra seus vícios. Porém, pode ser também uma metáfora para indicar que se venceu uma determinada batalha e ou mesmo uma tentativa de resgate de algo mais glorioso, que ficou no passado. Pra mim, esta seria a intenção, por referir-se uma tentativa de se fazer um álbum que estivesse acima do que havia sido feito nos últimos anos ou mesmo de soar como nos tempos de glória, o que francamente não aconteceu e se esta era a real intenção, fracassaram.
O álbum começa com “Free”, uma música pesadíssima, que chega a beirar os clássicos do Heavy Metal, à lá Dio. Verdade seja dita, aquela voz driveada de DuBrow ainda soa perfeita. “Blind Faith” com sua levada mais Hard alterna momentos mais lentos, quase Pop, com partes mais rápidas. “South of Heaven” tem uma introdução com violões, que dão a impressão de que venha uma balada, porém o peso se faz presente, sendo uma faixa lenta, densa, forte e marcheada, com destaque para a bateria de Banali. “Black Reign”, a quarta faixa é mais alegre, no estilo setentista, lembrando o velho Slade, uma composição exclusiva de DuBrow. Tem uma quebrada no ritmo, no meio da música, mergulhando depois num show de instrumental, intenso. A partir deste ponto, as coisas começam a melhorar. “Old Habits Die Hard” é uma balada bluzy cheia de sentimentos, que parece ter saído de algum coral de igreja dos velhos tempos, um dos destaque do play. Seguindo a ela, vem “Strange Daze”, uma paulada no pé da orelha, também no clima setentista, sendo mais pesada e acelerada, com um solo viajante. Outro destaque do álbum é a sétima faixa “In Harms Way”, um Hard N’Heavy com ótimo riff, bela linha de baixo e DuBrow cantando magnificamente. No mesmo ritmo vem “Beggars and Thieves” que traz um som percussivo e um belo instrumental, que vale por toda a música. “Don’t Think” é uma faixa mais cadenciada e pesada, com DuBrow cantando de forma mais agressiva. Chegando ao final dos trabalhos, “It Sucks to be You” é mais rápida, à lá anos 70, feita pra sacudir o corpo. E aí chega o ponto mais alto do disco, o cover do Spooky Tooth “Evil Woman”, com seus quase 9 minutos de puro delírio, com arranjos mais pesados que a versão original e a brilhante participação de Glenn Hughes fazendo dueto vocal com Kevin DuBrow. Vale lembrar que a versão japonesa traz uma faixa bônus “Wired to the Moon”, que é uma ótima música, com levada Hard N’Heavy, pesada, cheia de feeling e agressividade, característica natural do Quiet Riot.
No cômputo geral, “Rehab” é um álbum mediano, que alterna algumas boas canções com outras nem tanto. Não chega a ser uma “reabilitação” do Quiet Riot, por todas as razões que já dissemos acima, neste texto. Kevin DuBrow e Frankie Banali, que suaram pra produzir o trabalho até poderiam ter um certo orgulho do que fizeram, mesmo estando longe dos bons e velhos tempos do Quiet Riot. O álbum não é empolgante, mas de forma não comparativa, tem o seu valor.
Nota 7