Ainda me lembro como se fosse hoje. Entrei na loja, comecei a olhar os vinis (sim colegas, sou desse tempo) e me deparei com The Division Bell, naquela altura, o novo álbum do Pink Floyd. Não pensei duas vezes para adquiri-lo e ainda hoje o mesmo repousa em minha estante. Após isso, não imaginei que um dia eu fosse ter a oportunidade de novamente escutar um trabalho de inéditas dessa que é uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos. Na verdade, na minha cabeça, seu canto do cisne havia ocorrido no Live 8, em maio de 2005, quando se juntaram a Roger Waters para a execução de quatro músicas, por mais que isso tenha deixado milhões de fãs esperançosos por uma reunião do quarteto clássico (eu inclusive). Mais eis que em 15 de Setembro de 2008, Richard Wright nos deixou, vitimado pelo câncer. A esperança findava.
Não vou ficar aqui com aquela frescura de muitos críticos musicais e fãs por aí, de que sem Waters isso, sem Waters aquilo. Esse mimimi eterno já encheu o saco. Se não gosta de Pink Floyd sem ele, se não aceita, simplesmente não escute. The Endless River é, acima de tudo, uma homenagem de David e Nick a Rick, um tributo ao amigo que partiu. Esse é o primeiro aspecto que se deve ter na cabeça ao começar a audição do mesmo.
Outra questão muito importante é que todo o álbum é composto de outtakes do The Division Bell. Não estamos falando de canções que foram finalizadas, mas na maior parte do tempo, de trechos, de idéias que em algum momento foram colocadas de lado pelo trio em 1994. Isso faz desse um trabalho menor? Meu amigo, isso é um álbum do Pink Floyd e não de qualquer “bandeca” por aí. E vou mais além, talvez esse seja o álbum mais Pink Floyd lançado por eles nos últimos 35 anos. São diversos os momentos em que irá encontrar referências a trabalhos do passado como Ummagumma (69), Atom Heart Mother (70), The Dark Side Of The Moon (73) ou Wish You Were Here (75). E isso em um CD onde metade das músicas tem menos ou pouco mais de 2 minutos de duração (lembre-se, são outtakes). É como se tivessem lançado novos olhares sobre velhas idéias. Muitos por aí vão reclamar por se tratar de um álbum com 17 faixas instrumentais e por não possuir mais músicas como “Louder Than Words”, a única com vocais de Gilmour, mas a esses digo apenas uma coisa: vocês não entenderam do que se trata The Endless River e são incapazes de perceber que a essência da banda está ali, em cada solo introspectivo e melancólico de David, em cada linha de bateria de Mason ou nos teclados/sintetizadores de Rick, que dão uma atmosfera hipnotizante às músicas. Soberba de minha parte dizer isso? Que seja.
The Endless River é perfeito dentro do que se propôs. Um tributo emocionante a Rick Wright, um final tranquilo para uma carreira de quase 50 anos que foi turbulência pura. O álbum do ano de 2014, e nada e nem ninguém poderá tirar esse título dele. Obrigatório!
Músicas
01. Side 1, Pt. 1 Things Left Unsaid
02. Side 1, Pt. 2 It’s What We Do
03. Side 1, Pt. 3 Ebb And Flow
04. Side 2, Pt. 1 Sum
05. Side 2, Pt. 2 Skins
06. Side 2, Pt. 3 Unsung
07. Side 2, Pt. 4 Anisina
08. Side 3, Pt. 1 The Lost Art Of Conversation
09. Side 3, Pt. 2 On Noodle Street
10. Side 3, Pt. 3 Night Light
11. Side 3, Pt. 4 Allons-Y (1)
12. Side 3, Pt. 5 Autumn ’68
13. Side 3, Pt. 6 Allons-Y (2)
14. Side 3, Pt. 7 Talkin’ Hawkin’
15. Side 4, Pt. 1 Calling
16. Side 4, Pt. 2 Eyes To Pearls
17. Side 4, Pt. 3 Surfacing
18. Side 4, Pt. 4 Louder Than Words
Formação:
David Gilmour (guitarra, vocal, teclado e baixo);
Nick Mason (bateria e percussão);
Richard Wright (teclados e vocal)
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10/10