Perspectiva e inocência, quando caminham juntas, geram resultados inusitados, e que, mesmo quando o advento do tempo nos esclarece melhor sobre a realidade, permanecem sedimentadas em nossos conceitos. No comecinho dos anos 80, quando eu comecei a me interessar por rock e possuia 0,000001 megabyte de informação, não havia muita diferença entre, por exemplo, Scorpions e Exciter. Se tinha um disco na prateleira da loja, já era uma banda grande para mim.
O Overkill, portanto, despontou dessa forma, quando o disco “Taking Over” chegou no Brasil. É claro que existe uma distinção entre “banda grande” e “grande banda”, sendo a primeira expressão mais afeita a termos mercadológicos, nos quais o Overkill se posiciona alguns níveis após os artistas do chamado primeiro escalão, mas o título de “grande banda” lhe é irrefutável e, diga-se, na estrita compreensão do que o heavy metal realmente é, essa é a qualificação mais importante.
O sucessor de “Taking Over”, o álbum “Under The Influence” não teve o seu lançamento em vinil no Brasil e, para quem já tinha sido fisgado pela banda, isso soava meio incompreensível, inclusive pela alta rotação do clip de “Hello From The Gutter”, o qual tinhamos acesso através de fitas de VHS que adquiriamos, com gravações de shows raros e onde solicitavamos a inclusão de dois ou três clips variados, para preenchimento de espaço, em uma época pré-MTV brasileira. O que ocorreu foi que a gravadora Atlantic, que distribuiu “Taking Over”, não participou da divulgação de “Under The Influence”, que foi lançado apenas pela Megaforce, e portanto não nos alcançou. Dessa forma, só pude ouvir o disco completo em um período bem a frente no tempo e não sei precisar qual teria sido minha reação a ele na época. Hoje, porém, posso dizer que é um bom trabalho, mas bem inferior a seu antecessor. Apesar de terem sido produzidos pelo mesmo Alex Perialas, “Taking Over” soa bastante variado, enquanto “Under The Influence” transparece uma linha mais retilínea de Thrash Metal nova-iorquino, sem muitas alternâncias de climas.
Talvez influenciados pelo bom resultado que seus vizinhos do Anthrax estavam obtendo com a recepção de “Among The Living”, o Overkill focou nessa pegada, mas, no processo, gerou um álbum que – temos que enfatizar – é rápido, é pesado, mas não cativa muito. Não no nível que esperamos do Overkill. “Under The Influence” poderia ser um grande trabalho para uma banda nova e, nesse sentido, até sua capa tosca – a pior que o Overkill já apresentou – faria mais sentido. É claro que o disco tem seus momentos de brilho mais evidente, com a já mencionada “Hello From The Gutter”, um feliz caso de boa escolha de música de divulgação, e também na faixa “End Of The Line”. De resto, entra para a história como um momento de passagem entre os dois clássicos que lhe precederam e a fase impecável que viria, com os discos “The Years Of Decay” e “Horrorscope”. Os outros momentos que merecem menção são as músicas “Never Say Never”, “Druken Wisdom” e “Overkil III (Under The Influence)”, sendo essa última o momento em que melhor transparece a inconfundível identidade dessa banda, o Thrash Metal denso que lhe caracteriza.
Esse foi o primeiro disco em que houve uma mudança de formação em suas fileiras, com a saída de Rat Skates e a entrada de Sid Falck na bateria. O guitarrista Bobby Gustafson, que compôs o disco inteiro em parceria com o vocalista Bobby Ellsworth e o baixista D. D. Verni, ainda permaneceria até o vitorioso álbum “The Years Of Decay”, após o qual seria substituído, daí por diante, por dois guitarristas, mantendo a banda como quinteto a partir de então, com uma breve exceção durante a produção do disco “Bloodletting”. Privilegiada é a banda que lança um disco como “Under The Influence” e obtém reações que manifestam sua qualidade ao mesmo tempo que evidenciam que ainda poderia ser melhor. Não em comparação com outros discos de sua carreira, mas em comparação com o seu próprio potencial. É a velha história: muito se cobra de quem muito pode oferecer. E do Overkill esperamos sempre o máximo, pois é isso que formata as grandes bandas.
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7/10