Eles eram o Motörhead e tocavam Rock ’n’ Roll! Alguma dúvida? Caso haja, meneie sua vista um pouco para o alto e veja o nome do álbum sobre o qual estamos falando.
“Rock ’n’ Roll” é um disco bom, mas não é um disco excelente. Está longe de ser classificado como ruim ou fraco, pois o Motörhead não tem discos que se encaixem nesses conceitos, mas é certo que o trabalho sofreu com as expectativas que foram geradas em cima dele e estas são duas: a primeira, pelo fato de ser o sucessor direto do fabuloso “Orgasmatron” (1986), lançado no ano anterior e festejado até nossa presente data como um dos melhores álbuns dos ingleses; a segunda, a volta do baterista Philty “Animal” Taylor, da formação clássica, reassumindo seu posto agora na configuração de quarteto.
Nenhum desses fatores ajudou a impulsionar a qualidade das canções para o nível mais amplo, mas o que resultou tornou-se um disco digno, que merece ser retirado de vez em quando da estante para alguns bons momentos de fruição. A honra da abertura coube ao filho pródigo. São os tambores de Taylor os primeiros sons a serem ouvidos, na faixa-título. O ataque é menos insano do que aquele com o qual nos acostumamos em músicas como “Overkill”, por exemplo, mas não poderia ser diferente. Novamente: voltemos ao título da música e vamos lembrar que a proposta é outra. Ela prossegue na canção seguinte, a memorável “Eat the Rich”, que foi parte da trilha sonora – junto com algumas outras faixas – da comédia britânica de humor negro de mesmo nome. O filme, apesar de ter participações especiais de Paul McCartney e Bill Wyman, além de um papel mais participativo de Lemmy, é uma obra semidesconhecida e, sinceramente, melhor que fique assim. Não se preocupe em procurá-lo, a não ser que você tenha muuuuuiiiita curiosidade. E olhe lá!
O pouco hábito do Motörhead em usar backing vocals é o diferencial de “Blackheart”, que tem também uma correta interação entre o baixo e as guitarras, mas não chega a superar a excelência de “Stone Deaf in the U.S.A.”, cujos timbres e levada poderiam nos levar a crer que se trataria de alguma faixa perdida do repertório de “Bomber” (1979) ou “Ace of Spades” (1980). Ao seu final, a participação especial do genial ator Michael Palin, do Monty Python, “abençoando” o Motörhead com toda sua fina ironia bretã.
“The Wolf” traz Taylor novamente na abertura, dessa vez com aquela pegada mais speed, mas o seu dinamismo não encontra eco na seguinte, “Traitor”, com um ritmo mais comum. “Dogs” eleva um pouco o interesse, com um arranjo melhor do que a faixa que lhe antecedeu, mas a grande pérola é “All For You”. Uma música cativante, melódica e pegajosa, que se não fossem os detalhes motorheadianos inalteráveis – como a voz de Lemmy, por exemplo – poderia ser quase uma canção Pop.
O álbum termina com “Boogeyman”, que fecha o ciclo do repertório de acordo com o que foi sugerido em seu início. Um Boogie acelerado que, com algumas poucas mudanças, não soaria estranho em um show do Status Quo. “Rock ’n’ Roll” revela-se ao final como um disco de transição. Não poderíamos dizer que é de altos e baixos, pois nem um, nem outro, quando presentes, chegam aos limites de definição. É apenas Motörhead, e isso é o suficiente.
Formação:
Lemmy Kilmister – vocal, baixo
Phil Campbell – guitarra
Würzel – guitarra
Philthy Animal – bateria
Faixas:
01. Rock ‘n’ Roll
02. Eat the Rich
03. Blackheart
04. Stone Deaf in the U.S.A.
05. The Wolf
06. Traitor
07. Dogs
08. All for You
09. Boogeyman
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7/10