Após o sucesso estrondoso do “Black Album” (1991), cuja turnê levou pouco mais de três anos para ser concluída, a expectativa para o seu sucessor era enorme. A espera dos fãs demorou cinco anos, até que o Metallica lança o álbum “Load” em 4 de junho de 1996.
Uma grande surpresa veio junto: os integrantes do Metallica apareceram com os cabelos curtos, alguns com maquiagem e unhas pintadas e com um som muito menos agressivo que o normal, com um tom mais Hard Rock e Alternativo, o que gerou uma certa revolta nos fãs de longa data da banda, já que a mesma era conhecida com um dos pilares do Heavy/Thrash Metal.
“Load” é a parte um de uma série de músicas que a banda criou entre maio de 1995 e fevereiro de 1996, com a parte dois sendo o álbum “Reload”, lançado pouco mais de um ano depois, em 1997.
A crítica e os fãs não simpatizaram muito com o álbum, o que resultou em várias opiniões divididas sobre a qualidade das composições. Até mesmo acusações, por parte dos fãs, de que a banda havia se vendido e não era mais a mesma.
Outra coisa bem estranha era o comportamento de Lars e Kirk, que hora ou outra apareciam se beijando e tendo atitudes homossexuais, o que incomodou demais James Hetfield. O mesmo já declarou em várias entrevistas que essa fase do Metallica foi a qual ele menos se sentiu à vontade.
Sobre as músicas, o álbum começa com “Ain’t My Bitch”, algo muito mais cadenciado do que era apresentado pela banda, até mesmo no “Black Album”, que teve um apelo mais comercial. É uma faixa com muito peso, onde percebemos de cara uma grande mudança na voz de James Hetfield, que está mais limpa e sem aquela rouquidão que era bem característica do vocalista. É uma faixa boa, porém, sem brilho, o que será constante durante a audição da maioria das faixas.
“2 x 4” segue praticamente a mesma linha da anterior, com riffs lentos, bateria normal, sem viradas velozes e vocais beirando o tedioso, tudo muito simples para o Metallica.
A terceira faixa, “The House Jack Built”, dá uma elevada na qualidade. Os vocais de Hetfield estão bem destacados aqui. Kirk Hammet aqui é apenas o guitarrista base e James se arrisca nos solos, porém com muitos efeitos, o que acaba estragando um pouco. A faixa não é tão tediosa como as anteriores, porém poderia ter uma duração menor, tornaria a faixa menos arrastada.
“Until It Sleeps” foi o primeiro single do álbum, com um clipe baseado no painel “Hell” do quadro “The Garden of Earthly Delights”, de Hieronymus Bosc. A faixa obteve sucesso comercial, chegando ao Top 10 da Billboard. É uma canção mais lenta também, mas com um poderoso refrão que é o destaque. Foi presença constante nos shows da banda por vários anos.
Outro destaque de “Load” é a faixa “King Nothing”, que contém uma ótima letra e melodia, com destaque mais uma vez para o refrão, que é um dos mais fortes do Metallica. Também foi single e até hoje, uma vez ou outra a banda a toca em seus shows.
Outro single foi “Hero of The Day”, uma canção lenta, quase uma balada, mas que vai crescendo ao seu decorrer. Grande destaque para os backing vocals de Jason Newsted, que mais uma vez parece ser mais um músico contratado do que um membro oficial da banda, já que não recebe crédito ou menção em nenhuma das faixas.
O lado Progressivo da banda é despertado em “Bleeding Me”, uma faixa de mais de oito minutos que chegou a agradar os fãs na época e também ficou no setlist dos shows por algum tempo. É arrastada, pesada, com momentos mais cadenciados e com uma pequena aceleração em certa parte. Muito agradável de se ouvir e a voz de Hetfield é o grande destaque da faixa. Uma das melhores do álbum.
“Cure” volta ao mesmo ritmo das primeiras faixas, apenas com um Groove maior por parte da bateria de Lars Ulrich, que por sinal foi muito preguiçoso nesse álbum. A voz de Hetfield abusa de alguns efeitos na faixa, salva-se o solo de Hammet que até que é legal. Mais uma faixa nada memorável, posso dizer o mesmo de “Poor Twisted Me”, outra faixa chatíssima que não tem feeling algum, tanto que foi tocada pouquíssimas vezes pela banda. Não agradou aos fãs e pelo jeito nem a própria banda.
“Wasting My Hate” ao que parece era uma das preferidas de Hetfield, porém também foi pouco aproveitada pela banda, o que é uma pena, pois é uma das poucas que empolgam no álbum.
Chega-se à parte mais interessante do álbum: “Mama Said” é uma música muito pessoal para Hetfield, que claramente escreveu a letra baseada em seu relacionamento difícil longe de sua mãe, que morreu quando o próprio tinha apenas 16 anos. A música começa com um tom acústico, acompanhado da ótima voz de James, que está mais suave e emocional nesta canção. Ao final, a faixa tem uma pegada puxada para o Country. Uma grata surpresa na audição, diferente de tudo o que a banda já fez, porém com ótima qualidade.
Voltado ao “normal”, temos “Thorn Within”, que é uma faixa bem legal, tem a letra que fala sobre religião. Sua estrutura é semelhante à das faixas 4 e 5, com os versos mais calmos e um refrão mais forte, mas não chega a empolgar, mas vale a audição.
A faixa “Ronnie” é daquelas que não empolgam nada, parece uma música inacabada, uma Jam pra ser mais exato, com riffs e vocais que não passam feeling algum, tudo muito normal e linear, uma das piores, senão a pior faixa do álbum.
Pra fechar, temos a ótima “The Outlaw Torn”, onde a banda volta ao Progressivo, semelhante à “Bleeding Me”. Aliás, são duas faixas que casam muito bem em suas estruturas. No início temos algo bem cadenciado com James cantando bem arrastado e com efeitos em sua voz, logo chega o refrão, onde é mostrado algo mais grudento. Grande destaque para os solos, tanto de Hetfield, quanto de Hammet. Uma curiosidade é que a música foi cortada para que pudesse caber no álbum, já que sua duração passava de dez minutos. A versão completa, chamada “The Outlaw Torn (Unencumbered By Manufacturing Restrictions Version)” pode ser encontrada no single de “The Memory Remains”.
Bom, o Metallica surpreendeu de todas as formas com “Load”. Apareceu diferente na aparência, nas letras, na estrutura das músicas e não agradou a todos. Seria ignorância dizer que não há algo que se possa tirar proveito deste álbum, pois temos ótimas faixas como “King Nothing”, “Bleeding Me” e “Mama Said”, que são de ótima qualidade. Porém, também seria ignorância dizer que o álbum é uma obra-prima do Metallica, já que a maioria das faixas não têm feeling algum. Parecem uma compilação de riffs simples, somados a um Lars Ulrich desanimado nas baquetas e um Hammet mais preocupado com suas unhas pintadas do que com as guitarras. Já Jason Newsted é mais uma vítima do que culpado na história toda.
É um álbum que não deve passar despercebido na discografia da banda, mas não espere nada demais. Apenas ouça sem compromisso e tente tirar alguns pontos positivos na audição.
Formação:
James Hetfield (vocal e guitarra);
Kirk Hammett (guitarra);
Jason Newsted (baixo);
Lars Ulrich (bateria).
Faixas:
01 – Ain’t My Bitch
02 – 2 x 4
03 – The House Jack Built
04 – Until It Sleeps
05 – King Nothing
06 – Hero of The Day
07 – Bleeding Me
08 – Cure
09 – Poor Twisted Me
10 – Wasting My Hate
11 – Mama Said
12 – Thorn Within
13 – Ronnie
14 – The Outlaw Torn
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7/10