O Kreator nunca teve medo ou vergonha de ousar, de experimentar, de se lançar em busca de novos terrenos musicais. Até os anos 90.
É mais que óbvio a constatação de que, quando uma capa traz a logomarca do Kreator, o seu conteúdo musical seja aquele Thrash Metal agressivo e bem arranjado que destacou a banda nos anos 80 até o começo da década seguinte. Período este em que a banda apostou em sonoridades voltadas ao Industrial e até mesmo no Rock Gótico. Como um réu que se vê condenado pelo tribunal dos fãs sem direito a recurso, o Kreator precisou voltar a praticar a sonoridade que o consagrou. É ótimo ouvir a banda de Mille Petrozza fazer seu Thrash Metal agressivo, melódico e variado, único no mundo. Mas o fato de que a banda deixou de lado sua ousadia e se deitou em uma zona de conforto, não se pode questionar.
Pois bem, amigo leitor. Enxerguemos pelo lado bom da coisa. O Kreator desde Violent Revolution (2001) vem lançando trabalhos consistentes, fortes e que devolveram a banda um dos postos do trono quaterno do Thrash Metal teutônico. Um destes trabalhos foi lançado em 2005, Enemy Of God, o segundo desta, digamos, terceira encarnação do Kreator, a atual, que traz de volta o Thrash oitentista do grupo, com doses generosas de melodias e técnica em arranjos.
Mille Petrozza (vocais, guitarras), Sami Yli-Sirniö (guitarras), Christian Giesler (contrabaixo) e Ventor (bateria) se utilizaram dos serviços dos estúdios Backstage, na cidade inglesa de Nottingham (terra de Robin Hood), para registrar o décimo-primeiro full-length do Kreator, lançado em 11 de janeiro de 2005 pela gravadora SPV/Steamhammer. O retorno triunfal ao Thrash Metal trabalhado de Coma Of Souls (1990), aliado com alguma reverberação do som de Gotemburgo, impulsionou a banda a continuar o bom trabalho de Violent Revolution em Enemy Of God.
A forma como o Kreator junta seu som agressivo e urgente com boas doses de melodia, sem que um atrapalhe o bem-estar do outro, é bem latente em composições como a faixa-título (que apresenta aquela conhecida sequência de ritmos: veloz, paradinha para bater cabeça, mid-tempo e pé embaixo novamente), Impossible Brutality (cujo intro de bateria nos remete logo a Terror Zone de Coma Of Souls), Murder Fantasies (que conta com a participação do guitarrista Michael Ammot, do Arch Enemy) e Under A Total Blackened Sky. Suicide Terrorist e Dystopia são exemplos de como o Kreator consegue construir músicas com mudanças bruscas de andamento mas que fluem natural e perfeitamente.
Um dos grandes destaques do álbum fica por conta de World Anarchy, que, em menos de quatro minutos, vai da total demolição até trechos introspectivos que nos levam ao controverso Endorama (1999), com direito a uma homenagem ao Rush (intencional ou não) em uma passagem quebrada após a parte calma, cujo padrão rítmico é o mesmo da introdução do clássico instrumental YYZ dos canadenses. Outra música que apresenta elevada magnitude é Voices Of The Dead, cuja introdução no contrabaixo e com vocais graves de Petrozza mais uma vez nos faz lembrar de Endorama, mas que logo se segue variada, agressiva e bastante melodiosa. O álbum se encerra com The Ancient Plague, outra composição que aposta diversas vezes na introspecção e que exibe um trabalho matador do baterista Ventor.
Qualidade sonora? É suficiente informar que Enemy Of God foi produzido por Andy Sneap.
Com um trabalho tão rico, variado e agressivo, o Kreator mais uma vez conquistou reconhecimento bastante positivo em análises ao redor do globo Terra. Zona de conforto? Acredito que o fã de Kreator não esteja nem aí para este fato. De tanto que os fãs bateram na fase experimental do grupo, Mille Petrozza e Cia. retornaram ao seu estilo clássico com supremacia e perícia, mostrando o porquê são tão adorados e provando porque nunca deveriam ter mudado de estilo. Enemy Of God é uma amostra perfeita deste fato.
Enemy Of God – Kreator (SPV/Steamhammer, 2005)
Tracklist:
01. Enemy Of God
02. Impossible Brutality
03. Suicide Terrorist
04. World Anarchy
05. Dystopia
06. Voices Of The Dead
07. Murder Fantasies
08. When Death Takes Its Dominion
09. One Evil Comes (A Million Follow)
10. Dying Race Apocalypse
11. Under A Total Blackened Sky
12. The Ancient Plague
Line-up:
Mille Petrozza – vocais, guitarras
Sami Yli-Sirniö – guitarras
Christian Giesler – contrabaixo
Ventor – bateria
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9/10