Não há como negar que a ideia foi muito interessante. Quatro discos solos simultâneos, gravados individualmente por cada um dos integrantes, mas lançados sob a marca comum da banda principal.
Decerto que o Kiss era a banda mais adequada para um projeto dessa natureza. Não haveriam muitas outras opções viáveis de artistas que teriam legitimidade para fazê-lo. Os Beatles, certamente, e talvez até mesmo o Queen, caso John Deacon fosse mais afeito ao uso de sua voz para além dos backing vocals, mas o conceito de personagens, assumido pela banda novaiorquina, fez com que isso fosse algo extremamente natural dentro de sua forma de atuação.
Não que o conceito tenha surgido do nada. O contrato já previa essa possibilidade. O que demandou a sua implementação foi a situação de tensão existente entre o quarteto, ocasionada em parte pelos excessos de Ace Frehley e Peter Criss com o álcool e as drogas. Os solos poderiam aliviar um pouco os ânimos exaltados.
Sem entrarmos na seara de estabelecer comparações entre cada disco, o álbum de Gene Simmons pode ser definido como regular. Não empolga, mas também não compromete. É uma coleção de canções corretas que se sustentam pelo status artístico de seu intérprete, mas que, de qualquer outro modo, não chamariam grande atenção do público.
As três primeiras canções são um preciso preâmbulo do conteúdo de todo o disco. “Radioactive” caberia perfeitamente no repertório de sua banda principal, “Burning Up With Fever” invade o território da Soul Music e “See You Tonite” tem toques beatlenianos. Esses três padrões irão se espalhar ao longo das demais canções do álbum. A exceção cabe para a canção “When Yoy Wish Upon a Star”, retirada da trilha sonora da animação “Pinóquio”, de Walt Disney, lançado em 1940 e que faz parte das lembranças de infância de Simmons, que, na presente versão, foi fiel na utilização do arranjo orquestrado.
Nos momentos de Soul, enriquecidos pela presença de Donna Summer nos vocais de apoio e presentes nas canções “Burning Up with Fever” e “Tunnel Of Love”, não se deve exaltar alguma eventual habilidade de Simmons em disparar slaps esporádicos nas linhas de baixo, pois ele não utilizou o instrumento nas gravações, deixando-o a cargo do músico Neil Jason. Simmons tocou apenas guitarra no álbum e repartiu essa função com convidados ilustres como Joe Perry, do Aerosmith, que participou de “Radioactive” e “Tunnel of Love”, e de Rick Nielsen, do Cheap Trick, responsável pelo solo da regravação de “See You in Your Dreams”, cujo original, constante do álbum “Rock and Roll Over”, de 1976, não havia deixado seu autor satisfeito.
Completando a lista de convidados, ainda constavam o cantor Bob Seger e a cantora Cher, namorada de Simmons na época, que simulou a conversa telefônica que aparece em “Living in Sin”. Segundo o colega Paul Stanley, o álbum de Simmons poderia ter se saído melhor caso ele tivesse se focado mais no apuro das composições do que na lista de celebridades que iriam aparecer. Em depoimento na biografia “Por Trás da Máscara”, o baixista demonstra concordar, pois afirma que daria apenas uma estrela como nota para o seu próprio disco. Uma extravagância de luxo ou uma curiosidade? Classifique-o como quiser, mas não inclua “Gene Simmons” na lista de obras essenciais.
Músicas
01 Radioactive
02 Burning Up with Fever
03 See You Tonite
04 Tunnel of Love
05 True Confessions
06 Living in Sin
07 Always Near You/Nowhere to Hide
08 Man of 1,000 Faces
09 Mr. Make Believe
10 See You in Your Dreams
11 When You Wish Upon a Star
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6/10