Talvez esse disco pudesse ter sido deixado para ser lançado no período em que os vinis foram abolidos de vez. É sempre falado que os disquinhos de acrílico são prejudicados por não proporcionarem as mesmas experiências visuais e de manuseio que seus primos mais velhos – os vinis – dispunham, mas isso nem sempre é uma desvantagem.
Não que o álbum vá ganhar pontos, no contexto histórico, pela mera audição de suas canções, mas o excesso de cores que a banda utilizou nesse período de sua carreira ultrapassou com longa margem o limite do bom gosto. Os vídeo-clipes estão aí para comprovar, mas vamos nos ater ao que realmente interessa.
“Asylum” representou o começo da era Bruce Kullick empunhando a guitarra do Kiss em parceria com Paul Stanley. Isso parou a dança de cadeiras que vinha ocorrendo nos anos anteriores e o fez com estilo. Bruce era uma opção segura para a musicalidade da banda, mas não foi o suficiente para alavancar em definitivo o nível do trabalho. Após o brilhantismo de obras como “Creatures of the Night” e “Lick It Up”, “Animalize” representou uma certa perda de fôlego, que teve prosseguimento em “Asylum”. Dentro de toda a ampla discografia dos – na ocasião – ex-mascarados, pode-se aferir que seu décimo terceiro álbum repousa naquele espaço intermediário entre o regular e o bom, mantendo equidistância dos conceitos de ótimo ou péssimo.
Em 1985, o cenário da música pesada americana estava polarizado por duas vertentes bem distintas: a explosão do Thrash Metal, ainda como fenômeno underground, e o domínio do Glam Metal, representado por bandas como Ratt, Dokken, Motley Crue e tantas outras que dominavam a programação da MTV. Alinhar-se com estes últimos era o caminho mais lógico para o Kiss, mantendo a proximidade com aqueles que beberam de sua influência. A presença do hitmaker Desmond Child no crédito das composições torna mais evidente a estratégia do Kiss em não se distanciar das programações de rádio. O convidado trabalhou com Paul Stanley em cinco das dez faixas e seu toque é facilmente perceptível, mas nem sempre positivo. Basta comparar as duas faixas em sequência, que parecem refletir os momentos mais pesados do disco. “I´m Alive”, com a assinatura de Desmond, é eficiente, mas tem dificuldades para decolar, soa algo pasteurizada. Por outro lado, “Love´s a Deadly Weapon”, da qual ele não participa, chuta traseiros. É crua, rápida, e digna do vocal mais debochado de Gene Simmons.
Ainda sobre Desmond Child, é curioso que o grande sucesso do disco, “Tears Are Falling” dispensou sua contribuição, sendo uma canção exclusivamente de Stanley e que mereceu o destaque na mídia, sendo cativante e melódica, resultando como o melhor momento do Starchild no repertório do álbum. Simmons foi mais bem sucedido em suas canções, pois “Any Way You Slice It” e “Secretly Cruel” tem elementos que as aproximam da fase mais relevante do quarteto.
A empolgação e a canalhice explícita de “Uh! All Night” poderia ser o final mais adequado para o disco, mas fica no meio termo pois a canção reaproveita as progressões do refrão do sucesso “Heavens On Fire”, com algumas alteraçõezinhas pra disfarçar o negócio. Ganha pontos, porém, na constatação de que o Kiss se autoreferenciando será sempre melhor do que quando arrisca invadir territórios que não lhe são favoráveis, como o Progressivo ou o som de Seattle. Kiss é, e sempre será, diversão, e você encontrará um pouco dela em “Asylum”.
Formação
Paul Stanley – guitarra/vocal
Gene Simmons – baixo/vocal
Eric Carr – bateria
Bruce Kulick – guitarra solo
Músicas
01 King of the Mountain
02 Any Way You Slice It
03 Who Wants to Be Lonely
04 Trial By Fire
05 I’m Alive
06 Love’s a Deadly Weapon
07 Tears Are Falling
08 Secretly Cruel
09 Radar for Love
10 Uh! All Night
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6.9/10